Lembras de teu quarto?
Quarto de moradia de monstros,
Lugar de guardar fantasmas,
E dragões embaixo das camas.
O pai e a mãe não matavam nada,
Mas eram heróis pra tudo.
Quarto com cheiro de chulé.
Cheiro de cueca,
Cheiro de calcinha,
Sempre sujas e nunca limpas.
Eram indumentárias vivas,
Sempre estavam escondidas,
Debaixo do colchão,
Ou atrás das cortinas.
Só mãe encontrava.
Quarto com teias de aranha,
E pó tipo século doze.
Que quarto!
Ora melhorava meu astral,
Ora me deixava mal.
Quarto pra guardar lágrimas,
E encharcar travesseiros.
Se guardar o dia inteiro,
E ficar madrugada adentro,
Lá dentro,
E buscar coragem,
Pra encarar o mundo lá fora.
Quarto pra dividir com irmão e irmã.
Quarto pra dividir com pai e mãe.
Quarto pra dividir pra ficar
unido.
Quarto que é sala, cozinha e banheiro;
Quarto que é tudo ao mesmo tempo,
Mas ao mesmo tempo não parece com nada.
Quarto com mesa e fogão.
Cozinha com cheiro de quarto.
Gente, cama e colchão,
Sofá e televisão,
Espalhados, esparramados,
E espatifados pelo chão.
Pai e mãe cheios de rebentos,
Sempre esperando um novo pequeno,
A ser mais um a chorar junto.
Quarto com pano na janela,
Janela com 1/4 de pano.
Pôster de banda na parede,
É quarto adolescente.
Prego segurando,
Retrato amarelado na parede,
É quarto retrospectante.
Quarto de parede com bala
perdida,
E culpado não achado,...
Que cidade bandida!
Quarto na escuridão da solidão,
É pra oração,
É pra pedir perdão.
Quarto de criança ou ancião,
É lugar de meditação,
É lugar de renovação.
A gente cresce,
Às vezes a gente amadurece.
Nossos monstros,
Nossas crias desde pequeno,
Saem do quarto,
E passam a vida,
Andando conosco pela nossa vida.
A rotina é matar as crias.
A média é um dragão,
Ou um leão por dia.
Julho 2013
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Boo and her friend... not really a monster! |