Vi
um buraco
Estatelado
na rua
Estirado
na avenida
Atrapalhando
a travessia
Todo
mundo evita
Todo
mundo desvia
Todo
mundo se esguia
Todo
mundo quer tirar fotografia
E
reclamar na repartição pública
Vi
um buraco
Estampado
num pedaço de pano
Todo
mundo desfila
Todo
mundo mostra na camisa
Todo
mundo expõe na calça comprida
O
rasgado desleixado é da hora
Mas
o buraco não é moda
Em
gente que mora na avenida
Em
gente rasgada pela vida
Tem
muito buraco
No
peito de muita gente
Gente
sofrida
Gente
com alma ferida
Gente
que se cala pra ser ouvida
Gente
que grita pra não ser esquecida
É
tanta gente assim
Que
cabe num buraco
Do
tamanho da Lua
Igual
buraco de rua
Recapeado
ou esburacado
O
peito da gente continua
Suportando
solavancos
Aos
trancos e barrancos
Em
mansões ou em barracos
Nas
avenidas da vida
Em
vidas espalhadas pelas avenidas
Quanto
mais o buraco aumenta no peito
Mais a gente se conhece por dentro
Março 2016