Quando
eu era menor
Eu
tinha um super-herói
Desenhado em meu peito
Peito sem pelo e sem documento
Meu
irmão desenhava
Então
eu me transformava
Às vezes eu era invisível
Todos os dias eu era invencível
Balas
de mamonas?
Eu
era imune a todas
Meu batmóvel era uma bicicleta
Que me levava pelo bairro ou pra qualquer
lugar da Terra
Eu
pulava do segundo degrau
E
voava pra combater o mau
O vento ventania ventava
E balançava a minha capa
Eu
usava uma mascara
E
minha identidade não era revelada
Meus inimigos diários
Tinham uns 10 centímetros
E eram de plástico
Nas
batalhas eu nunca matava e sempre morria
Várias
vezes no mesmo dia
Lutei
em Gotham e Metrópolis
São
Paulo, New York e Patópolis
Onde o dever me chamava
Lá eu estava
Eu
enfrentava meus inimigos
E
sempre ficava ferido
Às vezes eu lutava solitário
Muitas vezes eu era derrotado
Todo
dia eu ia pra batalha
Armado
com um sorriso na cara
Meu campo de batalha
Era o campinho de terra perto de casa
Hoje
a batalha continua
Com
a realidade nua e crua
Meu herói não é mais desenhado
Fica do lado de dentro guardado
Hoje
eu não sou mais o herói de meus filhos
Como
em tempos idos
Descobriram que não tenho super poderes
No lugar, super falhas e temores
Hoje
a batalha continua
Eu
ainda morro várias vezes no dia
Mas eu tenho que voltar
E continuar a pelejar
Sorrindo
ou chorando
Tenho
que ser um super-humano
Não tenho super poderes
Mas tenho uma certeza:
Tenho que continuar
lutando
Até não-sei-quando
Até eu voltar a ser um
simples humano
... ou o que acontecer primeiro
Maio 2016
O vento ventania ventava
E balançava a minha capa
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