Num
cair de tarde, eu vi um homem num banco de praça. Acho que ele me olhava, mas
não me via... ou não se importava.
Eu
o observei e escrevi...
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Ele
tremia e mal dava
Pra
enrolar o cigarro de palha
No
bolso uma garrafa de cachaça
Na
mão uma cerveja em lata
Pernas
cruzadas
Naquele
banco da praça
Bochechas
rosadas
Devido
à “água” que ele tomava
A
idade não era avançada
Mas
a barba rala
Estava
esbranquiçada
Ele
olhava
Mas
acho que não via nada
Ou
talvez nem se importava
A
multidão passava
E
o ignorava
Na
verdade, o evitava
Roupas
esfarrapadas
O
sujo o adornava
Nem
um cachorro o acompanhava
A
solidão que não o deixava
Essa
sim
Era
quem ouvia a sua fala
Muitas palavras
Mas não queríamos entender nada
Roupa
folgada
E
barriga apertada
Calça e vida rasgadas
Naquela cidade esfumaçada
Enquanto
a fome o atormentava
A
cana o acalmava
Fragrâncias
da semana passada
Eram
suas marcas registradas
De
longe eram anunciadas
Pra
quem ia e vinha pela calçada
A
noite de longe já o observava
E
lhe preparava a madrugada
Como
seria aquela noitada
Para
aquela pobre alma –
Comigo
eu me perguntava
Eu
iria pra casa
Para
minha família que me esperava
Minha refeição já estava preparada
Roupa lavada e passada
Uma cama toda arrumada
Mas
e aquela pobre alma?
Só
uma certeza lhe era assegurada
Que
a madrugada cairá pesada
Não
será sossegada
E
sem garantias de nada
Talvez
nem o luar dê as caras
Talvez
horas e semanas acumuladas
Todas
já misturadas
Em
copos e tragadas
Não
significam mais nada de nada
Para
aquela pobre alma
Naquele
banco de praça
Agosto
2016
Ele olhava
Mas acho que não via nada
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