Muitos moram no sopé do morro,
É pé rachado pra subir e pra descer.
Os soberbos tem frase sem pé nem cabeça:
Os chamam de pés de chinelo.
Alguns nem chinelo têm pra pôr o pé,
Aí não dá pé!
Ex-proletários ficam elitisados.
Viram doutores, cantores ou jogadores.
Viram artistas, deputados ou vereadores.
Dizem ser ainda do morro,
Mas passam longe do morro.
Passam lá pra aparecer na foto;
Fotos para reportagens especiais.
É gente que venceu na vida.
Quem é do morro é perdedor?
Nem sujam seus ternos bem cortados.
Eles sobem na vida,
E descem o morro.
Descem antes da chuva descer,
Antes do barro escorrer,
Antes da polícia subir,
Antes das balas zumbirem,
Antes do rabecão chegar.
Ônibus passa rápido.
O pó sobe e a fumaça aumenta,
É muita loucura.
Os olhos ficam até vermelhos.
Morro grita alto.
Quem deveria ouvir se fazem de surdos,
Mas a lei do silêncio é mortal.
Pra viver no morro tem que saber viver,
Não é viver de qualquer jeito.
Tem gente que escreve sobre o morro,
Tem gente que canta sobre o morro,
Produção de fazer chorar,
Concorre até ao Oscar.
Mas o prêmio vai pra qualquer Hollywood,
Brasileiro ou estrangeiro.
Para o povo do morro,
Não sobra nem tratamento de esgoto.
Esse é o lado poético do morro.
Tem gente que diz: Quero sair daqui!
Outros dizem: Se sair do morro, eu morro!
Março 2011