Trabalhar todo dia não é fácil, campanhêro.
Tem gente que trabalha no pasto,
Ou dentro de jaula dando aula.
Lidam com bicho manso,
E outros nem tanto.
Levam mordidas, picadas e coices.
O homem dá chicotadas,
Ou amansa o bicho com chibatas.
Até ferra o casco de equino meio
chucro.
Quanta violência!
Às vezes não tem jeito,
Tem de ser no cabresto mesmo.
E o animal dá carinho,
E pede um afago.
E o animal come,
Na mão do bicho homem.
Nem são semelhantes,
Mas vivem como se fossem.
Mas uns tem cabelo diferente,
Cor da pele é mais clara,
Cor da pele é mais escura.
Mas por dentro o rio corre,
E vai na mesma direção,
E é vermelho de vontade de viver.
É sangue na veia, irmão!
E vivem e convivem,
Em jaula urbana,
Com vista bacana.
Se ferram e se mordem,
Com olhares e palavras,
Adoçadas com veneno mortal,
Cor de mel e gosto de fel.
Apunhalam com afáveis carinhos,
O seu colega na fila do cafezinho.
Subordinados chicoteados,
É garantia de salário.
Nem precisa ser cavalo,
Pra viver ferrado.
Dizem que é canibalismo,
Mas é ambiente corporativo.
O contrário também tira sangue,
Sem direito a curativo.
O sangue derramado,
É disputa sadia pelo topo.
São apenas baixas necessárias!
É um semelhante,
Dominando seu semelhante,
Ignorando seu semblante.
O objetivo é seu semelhante,
Comer em sua mão,
O pão que o patrão amassou,
Servido no bandejão.
Azar do ser humano,
Que vive no abate,
E se debate feito um animal.
Sorte do animal,
Que não faz serão,
E não bate cartão.
Outubro 2013
É um semelhante,
Dominando seu semelhante,
Ignorando seu semblante
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