Sou
forasteiro aqui onde vivo.
Vivo aqui,
Como se eu não fosse daqui.
É
estranho ver tudo assim;
Não
compreendo e não concordo,
E
me sinto um estranho.
Por onde vivo, por onde ando,
Tenho que ter dinheiro,
Senão não existo.
Tenho
que matar pra viver,
Tenho
que viver pra matar,
Ou
não entendem como vivo.
Mundo
corporativo é um mundo à parte,
Com
vida própria,
E
próprio idioma.
Quem lá vive,
Produz para a carreira,
A vida inteira,
E morre na aposentadoria.
Sento
pra ver TV,
E
escolhem o que devo ver.
É programado e enlatado,
É tudo preparado e pré-pronto.
É
o horário nobre,
Pra
assalariados e desempregados.
Eu como minha janta,
Digo boa noite por hoje,
E vou dormir pra amanhã.
Hoje
a coisa tá preta,
E
amanhã é dia de branco.
Vivo
sobrevivendo 30 dias por vez;
É
o tempo que tenho todo mês,
Pra
receber e pra pagar.
Não exatamente nem necessariamente,
Nessa ordem e progresso.
Mal
ou bem pense bem:
Ainda
bem que temos o futebol.
A gente comemos
marmita com farinha,
Mas a bola é nossa alegria.
Obrigado
governos e cartolas,
Por
tantas boladas.
E
a gente ri e chora,
E
vamos pra galera.
Nosso nome não aparece na galeria,
Mas o mais importante,
É não ter vergonha de ser ficha limpa,
Enquanto sobrevivemos,
Como forasteiro num mundo,
Cheio de coisas vazias.
Pessoas
nascem iguais,
E
são tratadas diferentes.
Lhes marcam as testas como indigentes,
Se o sangue não for azul,
Se forem do hemisfério sul.
Se
forem afros e pobres,
Serão
pessoas sem sorte,
E
lutarão contra os poderes do norte.
Apesar
de tudo e de todos,
Encaro
meus monstros,
Escancaro
meus dentes,
E
sorrio como se eu fosse,
Um
perfeito forasteiro estrangeiro,
Num
mundo estranho,
Onde
nasci e cresci,
Onde
mais sobrevivo do que vivo.
Abril 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário