Você
não se lembra de mim
Mas
eu conheço suas águas
Desde
outrora
Tu
eras mais doce do que agora
Quanto
amargo
Agora
pela TV eu me deparo
Por
favor, não contamines
Suas
águas já descoradas
Olhando
assim pra Mariana
Ela
também sofre desta pragana
Vendo
toda essa matança
Você
era doce da cor do barro
Você
era marrom de caramelo
Não
conheci teus pés de jenipapo
Nem
o coaxar dos teus sapos
As onças malhadas?
Nunca as vi nem pintadas
Mas
em ti eu já molhei meus pés
E
por ti eu fui bem recebido
Apesar
de eu ser um gringo
Eu era da cidade grande
E fui te conhecer gigante
Ah,
mas isso são histórias idas
Coisas
das antigas
Muita
gente ainda era viva
E
agora você está morrendo
Os
peixes já morreram
Mas
nós vemos tudo isso
Sem
poder morrer também
A
gente puxa uma cadeira
Senta
à sua beira
Se
ajeita em frente da TV
E
vê tudo isso acontecer
Em
horário nobre ao anoitecer
A
gente não fala nada
Só eles falam
Enquanto a gente se cala
Eles
são dotô
Pra
gente é jogo de horror
Eles são gente de estudo
Pra gente é tudo absurdo
Eles
são os sabe-tudo
Pra
gente é coisa do fim do mundo
O
que a gente quer
É
o Rio Doce
Correr
nas veias
Das
cidades mineiras
Descansar suas águas
Sob as sombras e os pés da Ibituruna
Sua
beleza distrair os parapentes
Enquanto
eles flutuam nas alturas
Ver o nosso rio
Saltar as cachoeiras
Seguir
suas corredeiras
Se
orgulhar de sua largura
Vê-lo
esquecer dessa amargura
E
finalmente retomar a sua doçura
E
voltar a ser doce
Nosso Rio Doce
Dezembro
2015