Nem financeira,
Nem de mulher rendeira,
Nem de costureira.
Mas sou cidadão de bem, sim senhor,
E declaro pra quem for,
O que deveria ser só da minha conta.
Aliás,ô conta toda vermelhona!
Igual a mim, cheia de vergonha.
O leão fica descabelado,
Com a boca cheia de dentes, assim ó!
Querendo comer,
Até a fivela do cinto da gente;
Cinto tão apertado,
Que tá marcando a minha costela,
Onde antes havia barriga,
E tá apertando a bexiga,
E me deixando doente.
E escreve aí que eu declaro,
Que tenho tantos dependentes,
Que acho que tô ficando demente,
E tenho certeza que não é parente.
É gente de a pé,
Gente de carrão blindado e importado,
Até gente de Brasília.
É gente de iate,
Enquanto eu fico boaindo,
Igual garrafa pet,
No Tietê em dia quente.
Escreve aí,
Que é tudo meu dependente.
E esse povo,
Nem sabe se sou gente,
Ou sou indigente.
Não quero cair na malha fina,
Mas pra pegar tubarão aí de cima,
Eu sei como e eu dou uma dica:
Eu sei como e eu dou uma dica:
Tem que ser rede da grossa,
Meter arpão no focinho,
E algemar as barbatanas.
Êita povo vivo!
Mas fede tudo a peixe morto!
É mais fácil limpar sardinha,
Do que essa gente de gravatinha.
Mas eis
que declaro meus bens.
Correção:
declaro meu bem,
Ano/modelo
sei lá de quando.
Tenho
uma despensa,
Que
dispensa comentários.
Ela parece
pneu vazio,
Não me
leva a lugar nenhum.
Eu
abro aquela porta,
E
olho lá pra dentro,
E
ela olha pra mim.
Ela nada
faz por mim,
E deixo
ela pra lá.
Se o tal
leão com cabelo de laquê,
Fosse
meu hóspede uma semana,
Ele voltaria
para a savana,
Com
manequim de louva-a-deus,
De juba
despenteada,
Orando a
Deus pelo povo judiado,
Pedindo perdão
pelos seus pecados.
E assim sem
mais, sem menos,
Assino e
carimbo,
Rubrico e
finalizo,
Minha declaração
de I.R.A.:
Imposto
de Renda de Assalariado Angustiado.
Se alguns
primeiros,
Segundos
ou terceiros,
Se injuriarem
pelo acima escrevinhado,
Abram os
trombones de seus ouvidos,
E ponham-se
a ouvir e escutar:
NADA
A DECLARAR!
Março 2013