sábado, 24 de agosto de 2013

Hino marginal

Às margens plácidas,
Corre um rio pálido,
Fugindo da realidade,
Abatido e apático.

Já correu vigoroso,
Em priscas eras.
Hoje ele rasteja,
Pelo leito maculado,
Por entre pedras.
Parece um senhor aposentado,
Cheio de vigor,
Mas triste e encostado.

Em seu leito dormem,
Coisas sem vida,
E coisas com pouca vida.
Em suas margens,
Boiam pneus e sonhos paulistanos.
Em sua nascente tem vida,
E sua morrente sem vida.

Isso é crime hediondo,
Com dever ao cárcere,
Sem direito a banho de sol,
Nem copo com água.

Eu nunca vi foguete na NASA,
Eu nunca tive caviar em casa,
Eu nunca vi o Tietê,
Limpo em sua beirada.

Ouviram do Tietê às suas margens?
Era o grito do rio,
Respirando moribundo,
Sem ajuda de aparelho$.
Pra que verba pra lixo?
Que verbo mal cheiroso,
Mal conjugado e mal deputado.
Que rio marginal em fase terminal.
Pobre rio marginalizado,
Adornado pelas vias,
Que vão e que vem.
Sem respirar fundo,
Balançam a cabeça em reprovo.
E todo aquele povo,
Vem e vai,
E depositam seus excessos.
Fetos, dejetos, desafetos.
Carga e descarga.
Pura realidade com conteúdo impuro.
Todo impróprio pra banho e pra sonho.

Ó Deus,
Olhe pelo meu Tietê,
Salve, salve.
                             Agosto 2013


O Rio Tietê nasce belo em Salesópolis - SP
e vai morrendo aos poucos em poucos quilômetros.

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