quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Cigarra a cantar

0:00
Ninguém vai lá fora
Perguntar pra cigarra
Porque ela cantarola
Dizem que ela profetiza
Anunciando a chuva e sua justiça
Reclamam que não é cantoria
E nem melodia
Mas que é só gritaria

A gente olha pro nada
E vê um breu
A cor de fundo
É escuro profundo

1:30
Eu ouço e acho um canto triste
Na escuridão da noite
Os animais não reclamam
Ouvem e nada falam
Mesmo se falassem
Nada diriam
Quanto respeito
Pelo sofrer alheio

2:45
A madrugada passa
Enquanto a noite avança
E a cigarra não se cansa
Ela canta e ninguém dança
Ela não toca viola nem gaita
Não baila nem usa saia
Apenas fica só
E canta de fazer dó
Ou ré, ou mi, ou sol
Mas a noite é da Lua
E a rua fica toda sua
Pra cantar com ou sem luar
A cigarra não quer lutar
É só cantar
Como que riscando o ar
Igual quadro negro escolar

A mata emite mais sons
Grilos não se omitem
Sapos não finguem
Gatos não se decidem
E em cima do muro permanecem
Morcegos se escondem
Atrás de suas capas
E a cigarra alienada
Canta enquanto tudo passa
A floresta não é acústica
Mas a sua coreografia
É estática e rústica

4:00
A hora voa
E ela não fica rouca
E canta feito louca
Parece que vai estourar
De tanto cantar
De tanto esperar
Quem vai elogiar?
Não sei porque
Mas ela canta e não cobra cachê
Não seria muito
Só pra cobrir os custos

4:25
Quer uma dica
De quem lhe admira?
Chame um louva-a-Deus
Aprenda a orar
E resolva o que lhe incomodar

6:00
Amanheceu e ela vai se calar
Mas vai deixar no ar
Algo a lhe entregar:
Seu amor não veio lhe ver
Eu desconfiei disso
Que havia um motivo
Agora ela vai viver o dia
Pra cantar à noite
Sinto por você
Dona cigarra
Que se veste de gala
Não se irrite
Mas vou lhe confessar
Amiga minha
Mas a dona formiga
Se ri de sua angústia
Bom dia pra você
A gente se vê ao anoitecer
Dezembro 2017




Nenhum comentário:

Postar um comentário