quarta-feira, 20 de novembro de 2013

AVC

Ele era calado,
Eu não puxava papo,
E nem esticada assunto.
Dois opostos que não se atraiam.

Bem cedo ele deixou de ser sábio,
Pra ser mais um pai errado.
Assim por mim ele foi rotulado.

O que estou fazendo de errado,
Só porque o deixo de lado?
Eu me perguntava,
Mas nem me preocupava.

Ele ficava na dele,
E eu ficava na minha.
Choque de gerações,
Gerações em choque.
Isso era caso de vida ou morte.
Foi cair minha ficha,
Só depois do fim de sua vida.

Hoje eu sei e entendo,
Também compreendo.
Até seu jeito calado,
Tinha um significado.
Em tudo tem lição,
E orientação.
Mas com pouca idade,
Pensamos que somos e podemos.
Como somos soberbos!

Cedo ele se foi,
E ficou tarde pra arrumar,
O meu passado mal passado.

Quando o pior acontece,
Aí a lágrima desce,
E perguntas que nos entristece;
Porque eu fiz,
Ou deixei de fazer?
Porque eu falei,
Ou deixei de falar?
Porque deixei para lá,
Porque eu não disse ‘vem cá. ’?
Porque eu não o entendia?
Sua conversa me entediava.
Porque ele deixou de ser meu herói?
Ele sequer foi meu vilão.

Os anos 70 começaram,
O Brasil era tricampeão,
E ele já era bipolar...
Ou era depressão?
Era qualquer coisa,
Mas esses negócios,
Ainda não tinham diagnóstico.

Eu tinha todos os anos do mundo,
Pra entender seu mundo.
Mas os anos dele se acabaram,
E ele partiu deste mundo.
Mas a batalha continua,
E agora eu luto pra ser compreendido.
Espero conseguir,
Antes que alguém fique de luto.

E os anos foram passando,
E o tempo de apressando.
A sua cadeira ganhou duas rodas,
E passei a pensar,
Nas perguntas e respostas.
As perguntas me martelam,
As respostas são mistérios.
Poderia ser diferente,
Se eu fosse um adolescente diferente.

Seu cérebro não aguentou,
Três letras o derrotaram,
E o AVC o levou.
Mas pra Deus tudo muda,
E o AVC vira luta:
A Vida Continua.

Novembro 2013


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