Uma garrafa tem estilo.
É alta e corpo esguio.
Cabeça aberta para a vida.
Olha sempre para cima.
Tem aparência de esnobe.
Parece não gostar de pobre.
Boca pequena e charmosa,
Igual a uma dama.
Pensa que chega e abafa.
Garrafa parece uma girafa.
Garota de conteúdo.
Muitas vezes envelhecido,
E enriquecido.
Não importa!
Líquido vai para o gargalo.
Passa um aperto!
Parece que estrangula.
Ô fase difícil!
Isso é preciso.
Mas não passa disso.
A garrafa quer é servir!
Por isso passa por tudo isso.
Servir quem?
Sujeitinho baixo de bordas grossas.
Às vezes barato e sujo.
Gordinho... nada contra!
Mas é dependente da garrafa.
Sem ela vive sem conteúdo.
É um boca aberta!
Mas o líquido cai lá dentro,
Se ajeita e se deleita.
O copo se aproveita,
E a garrafa olha satisfeita.
Seu produto rodopia pra lá e pra cá.
Gira igual dança de salão.
Junto com o gelo é uma coisa só.
Que bela mistura!
A união faz a dose...
Garrafa olha para baixo,
(Que vontade de se curvar!),
E pensa lá com seus rótulos:
‘Valeu todo aquele engarrafamento’.
E o baixinho, até que simpático,
Com suas bordas agradecidas,
Quase que se trincando se orgulho,
Todo cheio de conteúdo,
Se sentindo de cristal puro,
De ‘bolachinha’ úmida e tudo,
(Só falta MPB ao fundo),
Sóbrio, olha para o alto,
Voz embargada e molhada:
'Obrigado, dona garrafa.'
Copo e garrafa...
Romance pra dar certo,
Em casa ou no boteco,
Na mesa ou na bandeja.
Agora sim,
O copo, às vezes todo suado,
Está pronto pra mostrar trabalho.
Também vai servir,
Não importa quem vir.
A garrafa, outrora orgulhosa,
Agora se deita, satisfeita,
Talvez em algum engradado sujo,
E medita no trabalho duro.
Gelo bate forte no peito.
Pela sua borda se vê,
Uma gota escorrida na face.
O copo espera revê-la,
Pelos bares e mesas da vida.
De repente uma voz fala:
‘Garçom, traz a garrafa.’
Só falta tocar Milton...
Junho 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário