Contempla mais um dia em vão,
Procura um jornal e papelão,
Pra servir de edredom.
A gente senta no chão,
Pra mendigar um pão,
Ou aguardente pra suportar a situação.
A gente senta na terra,
E come a comida no chão,
A gente senta no chão,
E come a comida no chão,
Parecendo um cão,
Sem rumo, sem dono e sem direção...
A gente fica indignado e se sente indigno.
Mas somos
artistas sem cachê,
A gente
passa o dia sem comer,
Pra aparecer
no jornal da TV.
Pra brincar com cachorro,
Pra brincar de cachorro,
Pra ser tratado igual cachorro,
Pra pastar igual cachorro.
A gente senta no chão,
Pra ser feito de gato e sapato,
Pra engolir sapo e pra pagar o pato.
Esses são os bichos de estimação,
Quando a gente tá no chão.
Cuidado senão acorda o dragão,
E desperta o leão.
A gente senta no chão,
Pra educar e orientar o filho,
Pra ignorar o pai que tá velho,
E quando a gente estiver caquético,
A gente vai querer brincar com o neto.
A gente senta no chão,
Pra comer a marmita,
Com arroz e o feijão.
Quando a gente quer sentar no chão,
Pra descansar os ossos,
E acalmar o coração,
Aí dizem que a gente é a toa,
E que só queremos viver na boa.
A gente senta no chão,
Na esquina e na contra mão,
Depois que a vida te aprontou,
Te deu uma rasteira e te derrubou.
A gente fica ali no chão,
E um monte de gente,
Não te estende a mão.
Aí a gente levanta do chão,
Bate as lágrimas e seca a poeira,
E segue a vida estradeira,
E às vezes a gente nem perde o chão.
Abril 2013
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