segunda-feira, 27 de abril de 2009

Noites

Os olhos dos carros,
Sabem das horas.
As avenidas,
As esquinas,
Os becos,
Falam a mesma língua.
A lua traz a noite.
A escuridão convida para o sono,
Mas muitos resistem.
A noite avança,
Eles ficam vigorosos.
A lei acabou,
Tudo se permite,
Eles se permitem.
Falas, palavras estranhas.
A noite mostra entranhas.
Se dizem anjos da noite.
Se dizem anjos de luz.
Risos e choros,
Ecoam como coros.
Um corpo cai outro se levanta.
Um corpo se despe outro se veste.
Um corpo se enche outro se esvazia.
Um corpo se aquece outro se esfria.
O doce e o amargo,
Quem os decifra?
O belo e o feio não existem.
Vida e morte são parceiras.
A verdade é mentira,
A verdade é para o dia.
Olhos que não vêem,
Pernas que não andam.
Cidade grande com muitos picos.
Toneladas de concreto,
E das queimadas sobem fumaças.
O corpo expele o inútil,
O asfalto fica colorido.
Sorrisos incertos,
Confirmam incertezas.
A sarjeta é travesseiro,
O que corre nela é a fronha.
Papelão? Edredom.
Dentro do capuz algo que não funciona.
É noite e os óculos escuros,
Escondem luzes vermelhas.
A garoa é romântica,
As lágrimas nem sempre.
A dama da noite aos poucos se vai.
O claro vence,
Expõem o escondido,
Ilumina caminhos.
Antes vigorosos,
Agora derrotados.
Um aqui, outro ali,
Saem de cena,
Tímidos,
Cabisbaixos,
Encurvados.
Aguardam o próximo show.
Para alguns,
Esse foi o último.
                                             Abril 2009