sexta-feira, 17 de junho de 2016

Manda chuva

Chuva devia fazer dieta
E cair na medida certa
Mas se algum humano reclamar
E falar pra ela cair devagar
A chuva vai responder sem gotejar:
A culpa é sua, criatura!

Não quero insinuar nenhum parentesco
Mas prefeitos e bueiros
Perdem o sono o ano inteiro
Quando desce o aguaceiro

Chuva não age antes de avisar
E avisa antes pra gente agir
Quando o céu tá escuro
Em nuvens sisudas e carrancudas
Pode saber que aí vem chuva
Aumentam as preocupações
Se tiver raios e trovões

Chuva na cidade
Apesar da modernidade
Ainda tem um glamour
Que lembra champanhe e liquor
Os faróis dos autos
Brilham no asfalto
E o tapete de luzes
Faz a noite dançar na chuva
E a lua ciumenta
Também brilha a sua silhueta
E brinca de brilhar
Até a chuva secar
Até o sol raiar
Até o sol ralhar

Mas o caos do trânsito
É um defeito colateral
É coisa fora do normal
Tira a paciência
Às vezes com violência
E a chuva antes galã
Vira vilã
E lá se vai sua beleza
Nossa dureza
Deturpa a chuva
E ela escoa moribunda
Em qualquer bueiro poluente
Somos nascidos mal agradecidos
Nem percebemos os benefícios
Nem os presentes recebidos
Que desce do céu
Ou brota da terra

Nem dizemos um obrigado
A Deus por tudo isso nos dado
Merecendo ou desmerecendo
Chuva e sol são regalos
Que caem bem no nosso quintal
Quando não cair mais
Então será tarde demais
Talvez um chuvisqueiro
Soará como um aguaceiro
Junho 2016


Chuva não age antes de avisar
E avisa antes pra gente agir

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Conta gotas

Toda goteira
Parede tortura chinesa
Aquele pinga, pinga
Parece bebum no buteco da esquina
Pedindo cachaça na faixa
Cada gota que cai
Parece bomba lançada
No chão lá de casa
O som da goteira
Incomoda os ouvidos
E dói em meu bolso sofrido
Mas cá com meus encanamentos furados
Até a goteira tem trabalhado
Enquanto eu continuo desempregado

À noite eu sou conta gotas
Preferia contar carneiros
Em busca do sono perfeito
Gotas noturnas com insônia
Ivadem a madrugada
O escuro não é páreo
Para essas saraivas que vêm do alto
Isso enche o saco
Transbordam baldes
E enchem bacias

Preciso de um encanador
Ou um empregador
Pra tapar vazamentos da vida
Me debruço sobre os classificados
Em muitos dias dedicados
Mas os anos se passaram
E minhas goteiras
Continuam fiéis companheiras
Tô dando nó em pingo d’água
Nessa luta árdua

Nessa fase da vida
Meu mundo quase perfeito seria
Canos sem vazamentos
Chuveiro quente
Torneiras sem goteiras
E registro na carteira
Junho 2016



Resultado de imagem para torneira pingando

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ah, braços!

Ah, braços
Que te quero abertos
Para se fecharem em abraços

Ah, braços
Que depois de fechados
Parecem laços
Em forma de abraços

Ah, braços
Que chegam secos
E saem molhados
Às vezes encharcados
E lá
Entre os braços
Vem um peito todo cheio
Para o aconchego

Ah, braços
Que chegam inteiros
E saem aos pedaços
Por terem se dado

Ah, braços
Que rodeiam e dão a volta
Vão longe até as costas
Costas outrora dispostas
Agora cansadas

Ah, braços
Que vêm com pacote fechado
São os ombros que chegam
Pra dar suporte aos abraços

Ah, mas nem precisa ter braços
Para alguém se doar
E oferecer seus abraços
Ah, braços
Junho 2016

Ah, braços
Vão longe até as costas