quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Chibatas corporativas

Trabalhar todo dia não é fácil, campanhêro.
Tem gente que trabalha no pasto,
Ou dentro de jaula dando aula.
Lidam com bicho manso,
E outros nem tanto.
Levam mordidas, picadas e coices.
O homem dá chicotadas,
Ou amansa o bicho com chibatas.
Até ferra o casco de equino meio chucro.
Quanta violência!

Às vezes não tem jeito,
Tem de ser no cabresto mesmo.
E o animal dá carinho,
E pede um afago.
E o animal come,
Na mão do bicho homem.
Nem são semelhantes,
Mas vivem como se fossem.

Mas uns tem cabelo diferente,
Cor da pele é mais clara,
Cor da pele é mais escura.
Mas por dentro o rio corre,
E vai na mesma direção,
E é vermelho de vontade de viver.
É sangue na veia, irmão!

E vivem e convivem,
Em jaula urbana,
Com vista bacana.
Se ferram e se mordem,
Com olhares e palavras,
Adoçadas com veneno mortal,
Cor de mel e gosto de fel.
Apunhalam com afáveis carinhos,
O seu colega na fila do cafezinho.
Subordinados chicoteados,
É garantia de salário.
Nem precisa ser cavalo,
Pra viver ferrado.

Dizem que é canibalismo,
Mas é ambiente corporativo.
O contrário também tira sangue,
Sem direito a curativo.
O sangue derramado,
É disputa sadia pelo topo.
São apenas baixas necessárias!
É um semelhante,
Dominando seu semelhante,
Ignorando seu semblante.
O objetivo é seu semelhante,
Comer em sua mão,
O pão que o patrão amassou,
Servido no bandejão.

Azar do ser humano,
Que vive no abate,
E se debate feito um animal.
Sorte do animal,
Que não faz serão,
E não bate cartão.
Outubro 2013

É um semelhante,
Dominando seu semelhante,
Ignorando seu semblante

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Postura de poste

Eu não cultivei nada,
Em frente de casa,
Mas plantaram um poste na calçada.
Ele é alto e parece um tubo,
E rachou o concreto bruto.
Faz sombra de dia, ao meio dia.
Dá luz à noite, à meia noite.

Um suspeito vem fazer entrega.
Fumaça sobe com cheiro de erva.
Parece algo contra a lei e sem regras.
Eu só observo atrás da janela,
Fico atrás da cortina amarela.
Que noite de alta tensão aquela!

Um casal chega à surdina,
Cheios de beijos na mochila.
Quem vê de longe parece briga.
Mal chegam e bem se vão.
Agora hormônios vazios e álibis a mil.
O poste se calou, mas ele viu.

Um cão chega para a inspeção.
Ele vem e se aproxima.
Outra visita canina de rotina.
A base da circunferência o intriga.
Focinho gelado e molhado.
É a qualidade do trabalho,
É o CSI do pulguento.
Ao final ele ‘assina’ o documento,
E o cão forense se vai satisfeito.

E a noite do poste,
Todo defumado, mal regado e bem amado,
Começa assim, assado e molhado.
Pobre do azarado do poste,
Que teve a sorte,
De ter nascido poste.
Outubro 2013






quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Pintando Itajaí

Salão Vila Nova de Blumenau pintando as guias do Salão de Assembleias de Itajaí em 06 de Outubro.
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Sentando no chão e pincel na mão.
Nem parecia manhã de domingo.
Eu não estava sozinho,
Muita gente estava lá comigo.

Pintei as guias de branco,
Minha roupa nem tanto.
E o amarelo pintava de vez em quando.
Tudo alí parecia direito.
Que jeito de mundo perfeito!
Parecia profecia da alegria.
Tudo novo cheirando a renovo.
A tinta e a vila eram novas.
Ai que dor nas costas!
Ô vontade de chorar,
Mas o riso teimava e tomava lugar.
O Sol escaldava o dia,
Mas a janela se abria,
E a brisa refrescava o dia,
Secava a tinta e o suor que escorria.

E como aquele povo sorria!
Batalha dura e divertida.
Diversão séria garantida.
Por isso eu era abastecido,
De água, tinta e pirulito.
Bonés e chapéus de palha,
Faziam a cabeça da moçada.

Os adultos trabalhavam feito criança,
As crianças trabalhavam igual gente adulta.
E ao término da labuta,
Ficou paisagem de moldura.
No final, um retrato falado,
Ficou retratado um retrato gargalhado.

Minas, Bahia e São Paulo,
Catarinas e sulistas naquele palco.
Tinha gente de todo o país,
Até gringo gritava 'xis'.
Ninguém com medo de ser feliz.
Gente feliz e nada a temer.
Isso é vislumbre do que vem a seguir.
Isso tudo é prelúdio do futuro,
De quintal sem muro.

Itajaí já está aí.
Itajaí é um pouco,
Do que está por vir.
Pode sorrir sem medo de sorrir.
O futuro pintou por aqui,
Com jeito de Itajaí.
                            Outubro 2013





terça-feira, 15 de outubro de 2013

Vida Formosa

Saudades do Zé Carlos Cruz, meu amigo e irmão, falecido em 11 de Outubro de 2013.
Seu corpo foi guardado no cemitério da Vila Formosa, em São Paulo e nós, os seus amigos estávamos lá para um 'até breve'. E quantas pessoas, quantos amigos! Foi emocionante!
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Aquele corredor estava cheio.
Quantas pessoas naquele meio!
200, 250, 300?
Era difícil contar direito.
Uma multidão veio,
E mostrou amor e zelo,
Carinho e respeito.

O corredor era largo.
Por causa dele se apertaram,
Por causa dele se ajuntaram,
Por causa dele prantearam,
Por causa de sua luta se enlutaram.

O corredor era longo.
E os corações se alargaram,
E os corações de apertaram,
E os corações de machucaram,
Mas muitos reclamaram:
Lenços não foram suficientes,
Para aqueles olhos carentes!

O corredor estava cheio,
Mas se esvaziou por inteiro.
Por toda a vida ele correu,
Pelo corredor estreito.
Aquele corredor esvaziou seu peito,
E ele correu até o fim,
E chegou à linha de chegada, enfim.
Ele fez exatamente assim!

O corredor deitou e descansou,
Venceu a corrida da vida,
Agora dorme sua morte tranquila.
José Carlos Cruz carregou sua estaca,
Correu sempre em guarda,
E agora apenas aguarda,
Uma simples chamada:
'José Carlos, acorda,
E vem para fora!'
                            Outubro 2013



segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Setembro e CIA

O inverno tá indo embora.
Este ano ele foi longe demais,
Mas não tão longo assim.
As flores estão chegando.
Que elas cheguem coloridas,
E encubram,
Minhas pedras cinza,
Minhas pedras doloridas.
Que em seu meio,
Em meu canteiro,
Brotem lindas margaridas.

Seja bem vindo ipê,
Paisagem boa de ver.
Cada flor bela,
Bela cabeleira amarela,
Elas parecem arandelas.
A seus pés fica só o tapete,
Tapete dourado tipo alameda,
Esparramadas aos pés da primavera.

Daqui já vejo o verão.
O sol vai trabalhar até suar.
Ah, mas não vou me estressar,
Pois ainda uso blusa pra esquentar!

Cada frio em seu inverno,
Cada folha em seu outono.
Cada flor em sua primavera,
Cada suor com seu verão.

Não posso chorar,
A lágrima de amanhã,
Nem gargalhar o sorriso,
Da próxima semana.
Por enquanto,
Vou suportando o sol de hoje.
Se tiver sombra eu agradeço,
Ou vou aceitando a chuva que cai.
Se tiver um abrigo, obrigado,
Senão vou continuar procurando,
Onde deitar meu corpo cansado,
E esperar o próximo inverno.
Que ele não seja tão longo.
Se for, que eu saiba suportá-lo,
Senão, que ele possa suportar-me.
                             Outubro 2013


Daqui já vejo o verão.
O sol vai trabalhar até suar.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Mãe, cadê o pai?

Mãe, você sempre me falou,
Que eu deveria ser bom.
Mas o meu ‘bom’,
Para muitos não é tão bom.
E esses muitos não são poucos.
Quando sou bom,
Dizem que é ruim.
Quando sou mau,
Dizem que é bom.

Mãe, você me ensinou,
Que roubar é errado.
Uns não foram bem ensinados,
E querem roubar minha alegria.
Quanta gente 'pobre' que vem a mim!
E eu aprendi contigo, mãe,
Que devo ajudar gente assim.
Mas como ficar sem alegria,
E dar pra eles a minha?
Me ajude, mãe.
Isso tira a minha alegria.

Mãe, você me dizia,
Pra respeitar as pessoas.
Tem dia que é difícil, confesso,
Mas faço mais do que eu posso.
Mas são tantos desrespeitos,
Que me vejo nesse meio,
Sem saber o que fazer direito.
Às vezes esqueço a sua lição,
E dá vontade,
De falar o que dá vontade.
Mas está bem aqui o meu respeito,
Bem guardado em meu peito,
Pronto pra ser usado.
É antigo, mas está intacto.

Meus chefes, 
Querem e exigem,
Que eu saiba lidar,
E me virar,
Com pressão e trabalho estressado.
Mãe, eu não sou panela,
Pra saber lidar com pressão.
Mas tenho que agüentar,
O fogareiro do fogão.
E seu eu apitar e bufar,
Igual panela a esquentar,
Vão me chamar de doido varrido,
E vão me internar num hospício.

Mãe, cadê o pai?
Você sempre me falou coisas boas,
E nunca de coisas ruins e à toa.
Você nunca quis falar,
Da tal da morte.
E agora o que eu faço?
Eu cresci e vi,
Que nem tudo na vida,
É só vida.
Mãe, cadê o pai?

Mãe, já está tarde demais,
E preciso aprender a ser pai.
Agora eu tenho filhos,
Pra orientar e pra criar.
Nem acabei de aprender,
E agora tenho que ensinar.
Mãe, cadê a senhora?
Mãe, cadê o pai,
Pra me ensinar a ser pai?

Mãe, eu sei,
Não adianta,
Pois a carga é minha.
Se terei lucro,
Ou se terei prejuízo,
Isso é da minha conta.
Obrigado mãe,
Obrigado pai.
Outubro 2013