domingo, 24 de fevereiro de 2013

Hora do banho

Banho é local de reflexão,
Local de pensamentos em vão,
E pensamentos que vão e que vêm.
Às vezes a cabeça,
Tá assim, daquele tamanho.
Cheio de coisas,
Sem pé nem cabeça,
Cheio de coisas,
De arrancar os cabelos.
No mínimo,
De deixar cabelos em pé.
Aí vem água do céu,
É aquele banho de água fria.
Tudo aquilo sai e vai pro ralo,
E às vezes dá vontade de ir junto.
Mas a gente fica,
E vai ficando por aqui,
Tomando os banhos da vida.

Água na nuca,
Penetra em tudo,
E lava a alma.
Água e pensamentos sujos,
Se vão.
É hora de lavar a roupa suja,
Haja bucha e sabão!

Água bate na cara,
E não se mistura,
Com as lágrimas.
Lágrimas salgadas pela vida.
Vida salgada pelas lágrimas.

Água bate na cabeça,
E lava as idéias:
Parece lavagem cerebral.
Essa é para o bem e não para o mal.
Os problemas continuam na cabeça,
Mas parece que o caminhão andou,
E ajeitou as coisas na carroceria.

Água bate no peito,
E acalma o seu parceiro.
Coração fica frio,
E acaba aquele calafrio.

O registro se fecha,
Igual escotilha de submarino;
Enfim você volta à tona.

É o fim do banho:
 E a toalha te abraça,
 Te acalenta e te acalma.
A última gota de lágrima,
Fica na toalha.
As últimas gotas do dia,
Ficam na toalha.
A toalha se encharca de você,
Ela se sente um lenço de papel,
E deixa tudo evaporar.
E fica seca, te esperando,
Para um outro dia.

Você sai do box,
Você sai daquela cela,
E vai pra vida de cabeça erguida!
Problemas e soluções,
Permanecem ali fora,
Aguardando ansiosas,
Pelo companheiro.
Você as abraça,
E continuam a caminhar,
Com choros e sorrisos.

Você olha ali atrás,
E vê um leão morto.
Fevereiro 2013






quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Conta gostas

Olho a janela,
Do ônibus ou do metrô.
Gotas insistiam e persistiam,
E não desistiam,
Ali se apegavam e não saiam.
Eram gotas solitárias,
Simples gotas sedentárias,
Gotas sedentas de algo.
Outras resistiam,
Mas não conseguiam,
E se escorriam e desciam,
Até o canto do ‘quadro’,
E sumiam atrás da moldura,
Pra nunca mais.

O sol veio,
E secou outras gotas solitárias.
Umas insistiam,
E permaneciam.
Mas o calor as secava,
Evaporavam e viravam ar,
E desapareciam,
Num bailar invisível.

O vento fazia caras e bocas,
E soprava um turbilhão.
Aquelas gotinhas valentes,
Resistiam e desistiam.
No fim se escorriam,
Naquela cara lisa de vidro.

Eu não ajudava,
E olhava aquilo tudo.
Eu deste lado,
Só olhava e nada fazia;
Pobre gotas que me apareciam,
E me escorriam.
                                                     Fevereiro 2013

 

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Moldura no quarto

Pela janela do meu quarto eu vi,
Uma tempestade que vinha,
Rápida como o vento que a acompanhava.
De repente o vento chegou,
E parecia ansioso e furioso,
E precisava de algo a lhe acalmar.
Naquela esquina ele viu a árvore,
E ele a envolveu com seu charme.
E em pleno ar,
Eles começaram a dançar.

Os longos cabelos da árvore,
Se misturavam ao vento.
Ela parecia andar de moto,
Numa rodovia sem limites,
Sem capacete e sem destino.

Os braços da árvore,
Balançavam e chacoalhavam,
Igual barco solitário,
No meio do oceano,
Sem leme e sem direção,
Cercado por ondas carinhosas.

A música de fundo,
Era trovões e estrondos,
Como uma melodia antiga.
Parecia Clapton tocando ao vivo,
Same old blues.
O jogo de luzes,
Vinha com os relâmpagos,
Que riscavam e cortavam,
E clareavam o céu escuro.


Mas aquela árvore,
Era alta e majestosa.
Era elegante igual a uma dama,
Coluna reta e ereta.
Era um charme de salto alto,
Emoldurada pela minha janela.


O vento veio de longe,
A envolveu, a rodopiou,
Ventilou seu charme e se foi,
Talvez para outros ares.
E a árvore se viu só.
Seus braços e cabelos,
Se acalmaram enfim.
Para o poste tudo era claro;
 Ele viu tudo mas nada disse,
E continuava ali, segurando vela.


Não paguei nada, mas o show acabou.
Lembrei de Armstrong,
What a wonderful world.
Boa noite... 

...e lá no alto pequenas luzes,
Continuam a cintilar a noite.
E naquele silêncio,
A lua ansiava e aguardava o amanhecer,
Esperando pelo seu affair.
                                                Fevereiro 2013
















sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Assim e assado

Às vezes sou calçada,
Às vezes sou terra encharcada.

Às vezes sou o fio,
Às vezes sou pássaro.

Às vezes sou pombo,
Às vezes sou estátua.

Às vezes sou martelo,
Às vezes sou bigorna.

Às vezes sou suco,
Às vezes sou canudo.

Às vezes sou decepção,
Às vezes sou salvação.

Às vezes estou zerado,
Ás vezes sou zero à esquerda.

Às vezes sou animação,
Às vezes sou depressão.

Às vezes sou imigrante,
Às vezes sou residente,
Às vezes sou desistente,
Às vezes sou itinerante.

Às vezes sou lágrima,
Às vezes sou lenço,
Às vezes sou lástima,
Às vezes sou risada,
Às vezes sou piada.

Às vezes eu canto,
Às vezes eu falo,
Às vezes desencanto,
Às vezes eu me calo.

Às vezes sou pé de chinelo,
Às vezes sou pé no chão,
Às vezes sou sapato importado,
Às vezes sou pé rachado.

Às vezes sou pé,
Às vezes sou sapato.
Muitas vezes preparo-me,
E deixo pisar e sou pisado.

Às vezes sei quem sou,
Às vezes me falta soul,
Às vezes nem sei quem sou,
Às vezes sou o que sou.

Eu sou deste,
E daquele jeito,
Assim e assado,
Cozido e mau passado.

Assim sendo,
Vou tentando ser o que sou.
Eu sou eu,
Os outros são os outros.
Isso é difícil de entender,
Por isso alguns não me entendem.
                                                 Fevereiro 2013