quinta-feira, 19 de julho de 2012

Jogo de copa e marmita

É uma grande multidão,

Maior que muita nação.
  É verdadeira adoração,
  Parece religião,
  Sem padre pra comunhão.
Lá tem muito louco,
Um hospício é pouco.
  Outrora havia um doutor,
  Que tinha nome grego,
  Mas era brasileiro.
  Esse era verdadeiro!
    Mas seu calcanhar de Aquiles,
    Era frágil igual copo.
E tempos depois,
Chegou um redondo,
Correndo e faturando,
Atrás da redonda.
  Império durou pouco.
Cem anos se passaram;
Enfim sentem-se libertos.

É muita gente com pesadelos,
Que lhes fazem perder os cabelos.
  São visões do final do milênio;
  Era um quadrado de cal,
  E cinco chances no total,
  E cresceu um mostro verde,
  Que veio do oriente.
 
Ao fundo ouve-se,
Canecas de alumínio,
Ressoando um som contínuo,
Chocando-se em grades,
Pagando pelos seus males.
  Som dança pelos ares,
  E desagrada urubus de regata,
  Sobrevoa o invadido Pacaembú,
  E contagia a maior cidade.
Um tatu carrega a marca,
Cheira a Tietê de quebra,
E atraca no terrão de Itaquera.
  A terra se racha e estremece,
  E coisas estranhas acontecem.
São visões e divisões,
São chances ou sanches,
São lulas, mulas, txeiras...
E ainda X9s ou R9s...
  Sei lá, todos aparecem por lá,
  Acorrentam a todos,
  E sentem-se os libertadores.
 
Um bando de barões engravatados,
Assinam cheques e contratos.
  São fotos e retratos,
  Tudo fino e enlameado,
  Sujos de pó e de barro,
  Viajam de carro ou de jato,
  Ao som de cuíca,
  E vão parar lá na Suíça.
Até barbudo aposentado,
Toma a frente e dá palpite,
E joga a primeira pá de cimento.

Quem diria.
O pobre ficou rico,
E ganhou um presente,
E o povo paga o mico.
  São coisas do Japão:
  A gente Nunkassaby!
Um pedaço do pão,
Uma parte da marmita,
É pra pagar o cimento e a brita.
Todo trabalhador,
Quer ter quarto e sala,
Copa e cozinha.
  Cada nação,
  Tem a copa que merece.
O povão sua e faz serão,
E eles assinam o cheque.
                                                  Julho 2012





domingo, 1 de julho de 2012

Trabalho brilhante

Cadeira de madeira é alta.
Quem senta ali olha pra baixo.
  Quem está lá embaixo,
  Senta na caixa,
  Cabeça erguida,
  Olha pra cima, trabalha e sorri.
Chama a todos com educação.
  É ‘doutô’, madame ou patrão.

‘Vai graxa hoje?’
No centro de São Paulo,
Em frente à Bolsa,
No Largo do Café,
Na Paulista ou no Sumaré.
  Eles se espalham pelas praças,
  Restaurantes ou padarias.
Sempre os procuramos,
E os encontramos.

Quando ele bate na caixa,
É só mudar o pé.
  Leia o jornal,
  E tome um café.
Parece sapato do Fred Astaire.

Cor da graxa impregna,
Fica no pano e nos dedos.
  Mas o brilho,
  Fica apenas no sapato,
  E permanece no escuro,
  Bem no fundo dos olhos.

O dono do sapato,
Olha e fica grato,
Pelo trabalho realizado.
  Mas lá embaixo,
  Somente o engraxate,
  Consegue ver satisfeito,
  O reflexo de seu rosto,
  No trabalho realizado.
                                Julho 2012