Meu teto é o céu estrelado
Um céu esfumaçado
Nem sempre enluarado
Mas me serve de teto
Esse teto é bem-vindo
Enquanto estou dormindo
Procurar um agrado
Um regalo
Talvez uns trocados
Um real furado
Pra comprar um salgado
Ou um prato
De arroz e feijão requentado
Jogando coisas pelos ares
Pessoas vendem doces
Driblando seus amargores
Esse é o nosso palco
Onde somos mais palhaços
Do que gente
Por vezes a gente mente
Mas o que ganho
É pra aguardente
Serve pra acalmar a dor latente
Num peito indigente
É colorida de cinza
Minha vida
Vale uma esquina
Olho pra cima
Nem consigo uma rima
O semáforo me olha
E nem se incomoda
E me avisa: não demora
Pelos carros sou ignorado
De faróis apagados
Vidros fechados
Todos filmados
Hoje minha fome
Continua a mesma de ontem
E nem todo dia
Se ganha o dia
Dia sim
Dia não
A gente ganha o pão