quinta-feira, 23 de maio de 2013

Caminhando e jogando xadrez

A vida da gente,
Parece jogo de xadrez.
A gente somos pião,
Damos um passo por vez,
E andamos pelo campo de xadrez.
Peão não anda de lado,
E nem anda pra trás.  
 Peão que é peão,
 Olha adiante e anda pra frente.

As vezes somos torres,
Nos sentimos fortes,
Rápidos e imponentes.

Às vezes somos uns cavalos.
Pastamos a vida toda.
Relinchamos de bronca,
E damos coices em quem apronta.
Quanta ignorância!
Cheiramos a pasto e usamos cabresto,
Que nos puxa o tempo inteiro.
Tem mais pangaré perrengue,
Do que corcéis puro sangue!

Bispos vemos aos montes;
Os noticiários que nos conte!

Tem umas se sentindo rainhas,
Altas e esguias,
São verdadeiras enguias.
Belas, ágeis e poderosas,
Sentem-se as perigosas.
Pena que abrem suas bocas,
Aí o nível desce,
E viram plebéias.
Modelos playboyas,
Mas mocréias de idéias.

Todos nos sentimos rei.
Almejamos glória e triunfo,
Aceitamos saques e despojos.
Mas somos vulneráveis.
Quando ameaçam nosso reino,
Corremos para o nosso trono.

E assim caminhamos,
E percorremos nosso tabuleiro.
Quadrado por quadrado,
Mantemos nosso caminhado.
Ora simples peões,
Ora reis glamorosos.
Ora tomando cheques,
Mas nunca jogando a toalha.
Quem está do outro lado,
Também andando quadrado por quadrado?
Deep Blue ou o Kasparov?
O que importa é quem está deste lado,
Pensando no próximo movimento a ser jogado.

Este jogo vital é puro drama.
Não é de dama e nem pra ‘damas’.
 Vai encarar o tabuleiro,
 Ou derrubar o seu rei e entregar o reino?
                                                           Maio 2013



domingo, 19 de maio de 2013

Marginalizado pelas margens

Caminho meu caminho,
Pelas beiradas,
Das calçadas sem calçamentos.

Não pelas margens da sociedade,
Nem pelos limites do permitido.

Mas tentando me permitir,
A fazer o permitido.

Eu sou um limitado,
E estou limitado,
Pelas bordas da margem.

Elas são precipícios sem princípios,
E desfiladeiros derradeiros.

Insistem em nos puxar,
Pra baixo, bem lá pra baixo,
E nos deixar cabisbaixos,
E mostrar suas baixarias,
Limitadas a não ter limites,
Sem limites para ter liberdade.

Lideradas e liberadas pela sociedade,
A marginalizar o caminhante,
Que caminha descalço,
Pelas calçadas sem calçamentos.
Que roda de fogo!
Que bola de neve!
Que circo vicioso!
Que círculo perigoso!

E as calçadas me acolhem,
Com ranhuras e rachaduras,
Que acomodam meus pés já rachados.
Às vezes passos largos,
Às vezes passos fundos e curtos.

Não me iludo com antúrios ou roseiras,
Com absurdos ou baboseiras;
Não tenho paladar refinado pra whisky,
Mas eu tenho,
E sempre tenho que continuar andando.

Sociedade para todos,
Saciedade para alguns.

                                                              Maio 2013



quinta-feira, 16 de maio de 2013

Sendo ser humano

Ser humano é assim:
Bom pra discutir,
Complicado de explicar,
Difícil de entender.

Ser humano é tudo igual,
Mas com igualdades diferentes.
E isso faz a diferença,
Pra sermos iguais.
E isso traz a semelhança,
Pra sermos diferenciados.
Mas o branco,
Não quer ser igual ao preto.
Mas o preto,
Quer ser melhor que o branco.
A minha cor é força e raça,
A outra cor é pura desgraça!

Eu penso cá com minha derme:
Ainda bem que o camaleão,
De cor não faz distinção,
Senão, eu acho,
Ele se sentiria,
Um desgraçado e amaldiçoado.

Ser humano é interessante e interessado,
Se estressa com o relógio estressado,
Planeja olhando o calendário,
Se perde em números fazendo conta,
Se endivida comprando uma geladeira,
Mas não se dá conta,
Com o que estressa as geleiras:
Elas se derretem toda por nós!

Mas ser humano é imperfeito,
Gosta do bonito e do feio.
Ri de seus erros e acertos.
Chora pelo amor conquistado,
E fica na fossa pelo perdido.
Se emociona com canto de pássaro,
E endurece seu coração,
Vendo alguém pedindo um pão.
Ser humano é organizado,
Gosta de seu lar bem cuidado,
E na calçada deixa um papel de bala,
Ou o sofá que não combina com a sala.
Ser humano não escuta,
Os gritos do bueiro,
Que se sente cheio.

Pra ser um ser humano,
Não é só chorar e sangrar.
Tem gente que chora,
Lágrimas de crocodilo;
Tem gente que sangra,
E quer ganhar medalha e ser aplaudido.
Mas tem gente,
Que chora e sangra por dentro,
E ninguém vê o quanto.
No canto do seu quarto,
Só Deus sabe o tanto!
 Isso é ser humano,
 O resto é umano.

Ser humano,
Precisa ser mais humano.
Não viver igual bicho,
Nem viver apenas por instinto,
Mas aprender com os animais,
A viver igual gente.
                                                        Maio 2013


Tô desconfiando e andando

A gente vive meio estranho.
É confiando desconfiando,
É desconfiando e confiando.

A gente estranha esse meio;
Meio estranho em que se vive,
E vive estranhando um confidente,
Mesmo que o confidente seja a gente.

A gente desconfia até da gente!
Às vezes a gente mente pra gente,
E fica meio assim, descontente.
Entende?
Até o dente da gente,
Morde a língua da gente,
Independente se a gente,
Tá descontente ou sorridente.
Isso é pior do que parente,
Que mora perto da gente!

Esse é o jogo,
Do confia no desconfidente.
Esse é o game,
Do pé atrás e pé na frente.
Mas pelo sim, pelo não,
(Ou o contrário, porque não?),
Lá no fogão é melhor não pôr a mão,
Senão pode virar carvão,
E chamuscar até o dedão da mão.
Não importa, não,
Se é colega ou amigão,
Se é pastor ou irmão,
Se é chefe ou patrão.
O jeito é ir confiando,
Meio que desconfiando.
O trejeito é ficar desconfiado,
Enquanto vai confidenciando.
Assim os pés ficam no chão,
E o queixo não cai, não.

Aí o único cheiro de queimado,
Vai ser culpa do churrasqueiro descuidado.
Desses pode ficar desconfiado.
                                                      Maio 2013


sexta-feira, 10 de maio de 2013

O barulho do silêncio

Ouvir o silêncio é ensurdecedor.
Às vezes a gente se inquieta;
Precisamos mais do que o quieto.

Mas quando o silêncio,
Resolve falar mais alto,
Isso cala fundo,
E agride os ouvidos.

E uma vontade vai aumentando,
Vontade de sair gritando,
Vontade de entrar berrando,
Pra espantar o silêncio que persiste,
Pra espalhar que a gente existe.

Fale algo e não se cale’.
Um minuto de silêncio,
É importante e necessário.
 O silêncio de uma vida,
 São batalhas sofridas,
 É guerra perdida.

O silêncio do inocente,
Que se cala e não diz nada,
Pode ser julgado culpado.
Isso tá na cara!

Até o muro pichado,
Abre os brônquios de seu reboco,
Fala pelas ruas e dá o recado.
Tem gente,
Que sobe e fica em cima dele.
Se equilibram e olham pra esquerda,
Cambaleiam e olham pra direita,
Se calam e ficam lá,
Sentados tomando ar,
Enquanto o muro e seus tijolos,
Continuam a se pronunciar.

Até o morto,
Que não tem vida fala,
Não se cala,
E deixa pistas,
E derruba álibis e armadilhas.
O CSI sempre conta,
E agradece as ajudas,
Desse pessoal que não mente.
O pior tipo de morto,
É o que pensa que vive,
E vive se fingindo de morto.
Pra esses, nem adiante gritar,
A terra não vai ser leve!
                                                 Maio 2013