segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Cantor calado

É preciso
Estufar o peito
Mesmo com dores nas costas
E suportar o peso de anos e épocas

É necessário
Sorriso na cara
Em pleno horário comercial
Pra garantir o pão de hoje
Sem esquecer o de amanhã

É preciso
Usar cara de conteúdo
Pra mostrar ao filho que você entende de tudo
Mesmo em meio às novidades do mundo

É necessário
Manter os olhos abertos
Refutando o sono
E balançar o filho no colo
Até ele pegar no [teu] sono

É preciso
Fingir ser deficiente auditivo
E não ouvir
O que muitos insistem em dizer
Ao seu par de ouvidos

É necessário
Se passar por forte
Pra fortalecer quem precisa de uma força

É preciso
Calar e ficar mudo
Quando o mundo se cala
E não responde seus assuntos
Agosto 2015



É necessário
Se passar por forte
Pra fortalecer quem precisa de uma força

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Virando a página

Muita coisa tem acontecido
E eu fui me virando
E eu fui virando a página
Quem leu, leu
Quem não leu
Outra linha
Outra folha
Já está sendo escrita
Já está sendo produzida
Haja tinta!
Haja carga!
É a minha carga

Folha branca
Não adianta procurar na banca
Não está na livraria
Quem compraria?
Quem pagaria?
É de graça
É na faixa
É noite e dia
E continua a escrita
Parece lixa
Parece braile
Não parece com nada
Mas lá tem de tudo
Então eu me pergunto:
Até onde vai isso tudo?
E eu te pergunto:
Qual é a sua página?

Senta pra ler
Passa a régua
Tem história pra mais de légua
Número da página?
Tá virando pra 51
Cabe tudo num litro
Mas conte comigo
E não perca a conta
Nem percamos a contagem
Nem a coragem
Agosto 2015

Número da página?
Tá virando pra 51

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A morte do volume

Enquanto poucos arranham céus
Muitos deitam no chão

Cidade de tantos muros
E poucos rios
Nervos, corações e armações:
Todos petrificados

A grama cheia de energia
E calçadas frias
São aconchegos de vidas

Bocas de lobo
Gritam de desgosto
E quase engolem todos

Filas infinitas
Tentam disciplinar
A impaciência sem limites

E os céus ficam cinzas
Ora pela poluição
Ora pela situação
Ora pela desilusão
Ore para a solução
Oras
Você não assiste televisão?
Você não lê o estadão?
Você não vê os olhos do cidadão?
Pare de respirar
Pois há algo de impuro no ar

A cidade
Fica seca por uma gota
E quando elas caem
A cidade se enche toda
Cadê a cantoria da Cantareira?
Não adianta aumentar o som
Pois o volume está morto

E as torneiras se calam
E ficam de luto
No fundo, no fundo
Os canos respiram fundo
E esperam por uma luz no fim do túnel
Mas que seja uma luz
Sem conta de consumo
Essa luz vai ser
A solução de tudo
Agosto 2015

E as torneiras se calam
E ficam de luto