segunda-feira, 11 de maio de 2009

A peleja do Sol

Pôr do sol observado na estrada, voltando de Apucarana, PR, para São Paulo.
Enterro do Mozart.
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Viajei quilômetros,
E pude ver uma batalha.
Da estrada olhei,
E no céu eu vi.
Era batalha de gigantes.
O Sol mostrou suas armas,
E seus raios eram poderosos.
Àquela altura os raios eram dourados.
Tão brilhantes que não podia fitá-los.
Seus oponentes eram as nuvens;
Eram grandes e musculosas.
Batalha espetacular,
E a nuvem encobriu o Sol.
Para nós,
Simples observadores,
Restou apenas a paisagem cinza.

Mas aos poucos eu vejo,
E alguns raios atravessam as nuvens.
Belas nuvens,
Com silhueta dourada.
E mais um raio,
E mais outro, e mais outro.
Talvez lá no alto,
Perto dos combatentes,
Explosões deviam ocorrer.
  É batalha de Titãs!
Nós vemos apenas os golpes,
Raios ‘rasgando’ as nuvens ao meio.
E vejo as nuvens desistirem.
  Humildes,
  Abrem passagem para o vencedor.
E naquele campo de batalha,
Observo e vejo outro personagem.
Ela vem chegando,
Mas não quer luta.
É a Lua que se achega,
Quieta e discreta,
Charmosa e elegante.

Agora sei a intenção do Sol.
Mas a Lua chega e permanece distante.
O Sol triste,
Aos poucos perde seu brilho,
Perde sua luz e se vai,
Se abaixa e some cabisbaixo no horizonte.
Ali, no alto, vejo apenas a Lua,
Solitária e bela na escuridão.
Lua amarela,
O Sol deixou sua marca nela.
Aos poucos ela perde aquela luz,
E a Lua fica com luz de Lua.
Estrelas fiéis,
Parece tapete de cristais.
  Quietas, somente elas são companheiras.
Silêncio e escuridão e mistério,
E a Lua passa a noite só.

Quem sabe amanhã,
Na próxima batalha,
Entre o sol e as nuvens,
Aquele poderoso,
Se carrega de mais luz,
E consegue impressionar,
Aquela dama da noite.
                                                   Maio 2009

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A gente

A gente vem do subúrbio e periferia,
Terreno baldio, terrão e campinho.
Lugar esquecido pelos ‘gravatas’,
Esgoto é conhecido como riozinho.

Nossa casa já é outra história,
O frio passa pelas janelas mesmo trancadas.
O sol não chega e paredes são emboloradas,
Buracos das portas convidam ratos e baratas.

Paredes das casas não têm reboco,
Água e luz têm nome de animal pacato.
Essa é a vida dessa gente,
No quintal tem galinha, cachorro e gato.

Seu Zé abriu um boteco,
Limparam o terreno para jogar bola.
Seu João abriu uma quitanda,
Tudo se abre menos a escola.

Febre, stress e depressão?
A gente não tem o direito de ficar doente.
Nossos idosos, nossas crianças e deficientes,
Não podem nem ter dor de dente.

Se a gente fica doente,
Tem SUS, PS, AMA.
Consulta só para daqui três meses,
Marcar exame é um drama.

O médico pergunta: Você bebe?
A gente diz: Não bebo nem como, não!
Agora já passa das quatro,
Até agora só comi um pão.

Tentam chamar a gente com letras.
Dizem que são classes e devem ser definidas.
Só sei que a nossa começa depois da terceira,
Dizem que somos letras e esquecem que somos vidas.

Os ‘gravatas’ aparecem de quatro em quatro,
Bebem água da torneira e beijam as crianças.
Falam que vem água, esgoto e escola,
Os vemos ir embora cheios de esperanças.

Os ‘nóias’ estão por ali e são parte do bairro,
A gente os cumprimenta até com gírias.
São jovens, trabalham e até pais de família,
Também precisam de ajuda e desejam melhorias.

A população aumenta e necessidades também.
Já disse, ‘gravatas’ só em épocas do ano.
Polícia é coisa rara por aqui,
Reportagem vem quando matam algum fulano.

Para trabalhar sai de noite volta de noite,
É trem, metrô e perua.
Passa o dia todo só com a marmita,
Quando volta, sua companheira é a lua.

Gente rica não faz idéia onde moramos,
Gente rica se emociona ao ver nossa situação,
Gente rica lê livro sobre nossa gente,
Gente rica conhece a gente apenas pela televisão.

Asfalto aqui é cheio de buraco,
Seria tudo diferente se fosse Moema.
Do pobre é fácil se esquecer e difícil se lembrar,
Na verdade pobre só é agradável quando vira poema.

Com tudo isso a gente é perseverante,
A gente depende da gente pra seguir em frente.
Final do dia a gente adormece contente,
Pois só Deus para ajudar a gente a ser gente.
                                                      Maio 2009

Pioneiros

Você pega a bolsa ou a pasta para mais um dia,
Quantos irão te receber com interesse verdadeiro?
Uma coisa eu sei: que seu trabalho é feito com alegria.
Aliás, alegria é um dos requisitos de servir como pioneiro.

Jovens, adultos e idosos mostram grande energia.
Disposição sem igual esses irmãos mostram que tem,
Cai a noite e os pés doem pelo intenso dia,
Muitos trabalham assim e sequer esse membro tem.

Iguais a Paulo regam e plantam,
Iguais a Jesus vão e pregam,
Iguais a nós sofrem e choram,
Iguais a poucos, mesmo sofrendo perseveram.

Vejo vocês e me lembro de alguns do passado.
Um ficou receoso e seu nome era Baruc,
Mas orientado por Jeová se deixou ser usado,
Outro no capítulo 3, verso 18, foi um exemplo e era Habacuque.

Vocês são modestos e não gostam de comparações,
Afinal são pioneiros e a isto fazem jus,
Mas tem um que, quando lemos nos causam emoções,
Ele foi o primeiro pioneiro e seu nome é Jesus.

Sim, ele foi o primeiro e deixou um modelo,
Às coisas do mundo simplesmente deixou de lado,
Vocês são modestos, entendo, mas trabalham com anelo,
Jeová aprovou o trabalho de seu filho; o de vocês também tem aprovado.

Muitos não têm tempo da casa arrumar,
Irmãs esquecem até mesmo de sua vaidade,
Alguns não recebem apoio familiar,
Mas todos visam o prêmio: a eternidade.

O frio não é convidativo, mas acordam cedo.
Num portão não são bem recebidos, mas não guardam mágoa.
Ouvem palavras duras, mas não conseguem ter medo,
Mesmo se, no território as boas vindas é um balde com água.

Meus irmãos pioneiros, como vocês conseguem?
O trabalho é árduo e vocês continuam por anos,
Ajuda extra, será que vocês recebem?
De uma coisa tenho certeza, seus companheiros são anjos.
                                                                      Maio 2009

domingo, 3 de maio de 2009

Meu currículo

Até 2009, já totalizava 33 tipos de trabalhos diferentes que realizei desde 1980.
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Na transportadora trabalhei um dia,
Comi comida fria, minha mãe disse lá eu não voltaria.
Minha mãe ajudou e com 15 anos nas Pernambucanas eu começava.
Office boy, auxiliar de escritório e documentos arquivava.
Aos 20 fui trabalhar em turnos, transferido fui para o CPD.
Manhã, tarde, noite e madrugada, um digitador fui ser.
Trabalhava períodos de 6 horas, esse era meu horário.
Em outras empresas, era operador de micro e completava o salário.
Ainda nas Pernambucanas fiz curso de programador.
Isso era 89, fui promovido e melhorou meu valor.
Eu, a Cris e minha mãe trabalhávamos em festas de todo tipo.
Em finais de semana, em Buffet, eu era copeiro, apenas um bico.

Em 92, um ano diferente, minha vida mudaria.
Na América, bem longe, vários trabalhos aprenderia.
Cheguei no verão, calor intenso e já estava queimando.
Fazia bicos cortando grama, mal começava e estava suando.
Em Fishkill, New York, trabalhei em padaria de português.
Meus colegas eram mexicanos, lá fiquei mais de um mês.
Logo depois fui colocador de carpete;
Conheci Delaware e Pensylvania e o Frank era meu chefe.
Próximo trabalho era em construção, esse era pesado.
Trabalhava com formas e concreto, fim do dia estava acabado.
Fim do ano, inverno rigoroso, como eu faria?
Meu cunhado me conseguiu um trabalho na lavanderia.
Dezembro de 92 a Janeiro de 94, período que trabalhei na lavanderia.
Era longe, em Fishkill, mas fazer bicos eu conseguia.
Southbury, Connecticut, Blade’s era o nome do restaurante.
De semana era das 17 as 22, domingo das 9 em diante.

Em 94 seria diferente, em muitas coisas me preocupava.
A seleção foi campeã, mas isso nem me importava.
Numa companhia de telefone, fui limpar e consertar.
Lá ficamos 3 meses, salário baixo, difícil de agüentar.
Dunkin Donuts, das 16 as 6, era meu novo horário.
De madrugada a Cris me ligou, o Senna morreu, era 1º de maio.
O Court foi meu chefe na pintura, isso foi depois.
Lá não fiquei muito tempo, em meses foram dois.
Faltei ao trabalho, Rodolpho com febre de 40, fui dispensado.
Filho doente e esposa grávida, fiquei preocupado.
Na Pizza Hut fui pizzaiolo e pratos lavava.
O ano não acabou e muita coisa ainda faltava.

Voltei para a construção, a situação não estava boa.
Jonas era o chefe, bebia muito, mas não podia ficar a toa.
Depois, por um mês limpei supermercados de madrugada.
A situação estava mais difícil e a Cris ainda estava grávida.
Em dezembro arrumei outro trabalho, tudo começou a melhorar.
No início do mês, 3 escritórios comecei a limpar.
Naquele mês, com a família Leite estávamos morando.
Nasceu Matheus e finalmente o ano estava acabando.
Mas antes consegui uma segunda atividade.
Era em um asilo, pessoas de avançada idade.
Início de 95 consegui uma terceira atividade.
Na Domino’s, entregava pizza pela cidade.

Época em que eu tinha 3 trabalhos, uma vida agitada,
Trabalhava das 7 da manhã às 2 da madrugada.
Com o tempo deixei a limpeza de escritórios e a pizzaria.
Inverno rigoroso, ficava mais com a família.
Depois fui trabalhar no Caldor com brasileiros e chilenos.
Descarregava caminhão e repositor, nessa loja de departamentos.
Rapei neve, cuidei de crianças e casas limpei.
Registro estes agora, pois não me lembrei.

92 a 96, quatro anos foi o período que estive fora.
Quatro anos, parece que foi um, e agora estava indo embora.
Era Maio, um sábado, eu estava voltando.
Na terça-feira de madrugada eu estava acordando.
Ia para o CEASA comprar peixes, mas experiência eu não tinha.
Agora era feirante, entre outros vendia cação, traíra e sardinha.
O comércio era da cunhada Ivone, eu estava lá só pra ajudar.
Negócio difícil de lidar, saí de lá antes de o ano acabar.
Fui ser vigia numa gráfica na Barra Funda e usava arma de fogo.
Depois fui ser manobrista em Moema numa casa de jogo.
Fui trabalhar no escritório como contratado na polícia, meu irmão me ajudou.
Fiquei lá 3 meses até que o contrato acabou.
Era 98, a Cris grávida, eu desempregado, o que eu faria?
Em maio o Arthur nasceu e muita coisa mudaria.
Naquela mesma semana uma consultoria me chamou.
Estava voltando à minha antiga área, fui ser programador.

Nessa época, eu sei, o sufoco havia passado.
Não posso esquecer a ajuda que o Dija havia me dado.
Fui ser analista de sistemas antes do final do ano.
Foi em outra consultoria para atender o Bradesco, outro banco.
Chegou o ano 2000, fatos deste ano quero apagar da memória.
Escrevi sobre muitos anos, mas este gostaria de eliminar de minha história.
Do ano 2001 até agora continuo como analista.
Atendi Banco Real, IBM e quem sabe se não aumenta esta lista.
Parece que não mas meu aprendizado é minúsculo.
Continuo aprendendo e, se alguém quiser, da minha vida esse é meu currículo.
                                                            Maio 2009


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Noites

Os olhos dos carros,
Sabem das horas.
As avenidas,
As esquinas,
Os becos,
Falam a mesma língua.
A lua traz a noite.
A escuridão convida para o sono,
Mas muitos resistem.
A noite avança,
Eles ficam vigorosos.
A lei acabou,
Tudo se permite,
Eles se permitem.
Falas, palavras estranhas.
A noite mostra entranhas.
Se dizem anjos da noite.
Se dizem anjos de luz.
Risos e choros,
Ecoam como coros.
Um corpo cai outro se levanta.
Um corpo se despe outro se veste.
Um corpo se enche outro se esvazia.
Um corpo se aquece outro se esfria.
O doce e o amargo,
Quem os decifra?
O belo e o feio não existem.
Vida e morte são parceiras.
A verdade é mentira,
A verdade é para o dia.
Olhos que não vêem,
Pernas que não andam.
Cidade grande com muitos picos.
Toneladas de concreto,
E das queimadas sobem fumaças.
O corpo expele o inútil,
O asfalto fica colorido.
Sorrisos incertos,
Confirmam incertezas.
A sarjeta é travesseiro,
O que corre nela é a fronha.
Papelão? Edredom.
Dentro do capuz algo que não funciona.
É noite e os óculos escuros,
Escondem luzes vermelhas.
A garoa é romântica,
As lágrimas nem sempre.
A dama da noite aos poucos se vai.
O claro vence,
Expõem o escondido,
Ilumina caminhos.
Antes vigorosos,
Agora derrotados.
Um aqui, outro ali,
Saem de cena,
Tímidos,
Cabisbaixos,
Encurvados.
Aguardam o próximo show.
Para alguns,
Esse foi o último.
                                             Abril 2009