segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Velho

Vivem me lembrando
E não me deixam esquecer
Sobre meu envelhecer
Será que já estou esquecidiço?
Será por isso
Que sempre me lembram disso?

Você também passa por isso?
Você também fica irritadiço?
Será que é um privilégio só seu?
Será que é um vitupério só meu?

Viver com as minhas cãs
Não chega a ser uma vida de cão
Não é por nada não
Mas de grão em grão
A galinha enche o saco
Este provérbio velhaco
Pode não se aplicar ao caso
Mas que irrita
Ah, isso me intriga

Essa vai ser a tal
Da minha melhor idade?
A pior está por vir
Ou já veio e eu nem a vivi?

Essa é a famigerada
Da idade danada
Que a gente esquece de tudo
E não se importa com nada?

Essa é a época da vida
Que o idoso tem assento reservado
Mas que o tal assento tá sempre ocupado?
Hein? Fala mais alto
Meu ouvido está tapado
E eu já estou ficando indignado

Por falar em teimosos
Que os jovens continuem vigorosos
Pois os anos estão ansiosos
Pra nos deixar todos idosos
Mas têm uns com muita energia
Que se aproveitam demais da vida
Aí a vida se aproveita deles
Estes (se) acabam velhos
Enquanto são jovens
Estes perdem a vida
Querendo ganhar o mundo

Querem aproveitar de tudo e de todos
Querem beijar todas as bocas
Querem chutar todas as bolas
Querem viajar todas as viagens
Querem beber todas as cachaças
Querem bailar todas as danças
Querem embalar todas as baladas
Mas antes da velhice dar as caras
Podem amanhecer nas calçadas
Aí tudo termina em bagaço
Antes de se curtir o suco
Cuidado:
A pressa é inimiga
Da boa vida

Na verdade
Eu devo parar de rabugentar
E começar a agradecer
Àqueles que não me deixam esquecer
Sobre o meu envelhecer
Eu tenho que aproveitar
E descansar de minhas lutas
E curtir minhas rugas
Que experiência única!
Afinal de contas
No final das pontas
Só se envelhece uma vez
Pra nunca mais
Novembro 2015


Só se envelhece uma vez
Pra nunca mais

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Ainda é cedo pra ser tarde

A noite não combina com nada
E também com ninguém
A cor da noite
É escuro profundo
Pra confundir todo mundo
Seu ar sem perfume
Tem cheiro de perigo
E pra tudo acham um motivo

A fumaça sobe
Enquanto a cortina desce
Tudo fica exposto
O cheiro agrada a todos
Mas todos cheiram mal
O olhar sem foco é fosco
Em olhares sem brilho
Que permanecem vidrados
Mas depois serão fechados
Sem garantias de serem abertos

Na noite não existem micos
Nem outros bichos
Tudo é permitido
Até o mais ridículo
É aceito como ídolo

A noite quer enganar
E não faz mistérios
São mentiras on the rock
São falsidades com gelo e limão
São vidas servidas na bandeja
Pra quem quer que seja

Que confusão de sabores
O azedo é muito doce
O amargo é agradável
O podre é comestível
O bom é insuportável
O bom é para os fracos

Durante os exageros
Endireitados com muitos erros
Reúna os inimigos
Em pele de superamigos
Olha a self!
Sorrisos sem direção
Olhares sem noção
Olha o xis!
Olha o look!
Agora é só se expor no FAKEbook

Depois da balada e do batidão
Se bater um arrependimento
Cuidado!!
Ouça as badaladas do relógio
Pois pode ser tarde...
Não tarde da noite
Talvez tarde pra vida
Novembro 2015

A noite quer enganar
E não faz mistérios


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Café com jornal

Café com jornal se misturam
E se esparramam
Em cima da mesa e no balcão
Ou lá embaixo no chão
Para muito cidadão
Um copo de café é refeição
Uma folha de jornal é edredom
E duas já servem de colchão
Tem que ter muita disposição
Pra virar a página
Quando o dia não está bom

Mas as letras são frias
Com café quente
Quando as noticias queimam a língua
Tudo fica mais amargo
E fica difícil de engolir
Que dó da garganta
Que nó na traqueia

Certas notícias
(Mais erradas do que certas)
Nos empurram goela abaixo
É tanta noticia ruim
Que o café desce amargo
Mas se a noticia é agradável
O café tem sabor encorpado

Pra quem tá preocupado
Debruçado nos classificados
Pede um pingado
Mas não peça fiado
O dono pode olhar atravessado

Eu vou à padaria
Pra tomar café e ler jornal
Pra ler jornal e tomar café
Cada gole no jornal
É uma paginada no café
A confusão é tanta
Que às vezes a gente erra
Mas sempre se levanta

Aí vai uma regra
Que nunca se quebra:
O jornal pode ser de ontem
Mas o café tem que ser de hoje

E amanhã vai ter
Mais páginas frias pra gente se virar
Mais café quente pra gente se queimar
Por favor
Uma folha e um gole por vez
Porque já sou freguês
Novembro 2015


O jornal pode ser de ontem
Mas o café tem que ser de hoje