sábado, 26 de fevereiro de 2011

Ônibus

Chamado de ônibus ou autocarro,
Machimbombo, toca-toca ou otocarro.
Ônibus tem peito de ferro e cabeça chata.
Tem olhos de vidro e sapatos de borracha.
Mas coração de ônibus é igual de mãe:
Tem espaço para todos mesmo sem espaço,
Com ou sem Rexona debaixo do braço.

Ônibus é para o povo.
Lotado, pessoas parecem pinto no ovo.
Povo? Povo é assunto passageiro.
Povo? Gente do poder desdém.
Transporte? Que importância tem?
Ônibus é só vai e vem.
Qualidade? Ainda mais pra quem!

Já dizia um collorido no passado:
‘Com carroça o povo está acostumado’.
Poe na linha um articulado.
Nem pensar em ar condicionado.
Melhor dar aumento a um deputado.

É um tal de balança mas não cai.
Reportagem aparece quando um se vai.
Pendurados nas portas parecem pingentes.
Olhando de longe parecem indigentes.
Gente do poder esquece que povo é gente.
Parece pau de arara sem lona, indo pela estrada.
Sardinha pelo menos fica deitada na lata.
Lá dentro é igual a navio negreiro ou tumbeiro.
Lá fora, abastados, despreocupados, fazem cruzeiro.

Carga se ajeita quando chacoalha.
Igual transporte de sacos de batata,
Voltando do CEASA de madrugada.
Cobrador grita: dá mais um passinho.
Pessoas entram e querem mais um espacinho.
Não há santo que agüente aquele inferno.
Tanto faz de camiseta, batina ou de terno.
Lá dentro é muito calor humano.
Transporte na capital é desumano.

Acentos têm cores diferentes.
Preferência para gestantes, idosos e deficientes.
Alguns se sentam e se mantêm indiferentes.
Uns fingem dormir de boca aberta.
O da muleta se equilibra numa só perna.

Janelas abertas, reclamam do frio intenso.
Janelas fechadas, de calor estão morrendo.

Greve de ônibus, caos na cidade, é um sofrimento.
Final de greve é a tarifa que sofre aumento.
Na catraca o povo vê que está ganhando menos.
É assim que o povo ganha o sustento.
É assim que o povo mantém o país em movimento.
É assim o ano inteiro, de janeiro a janeiro.
                                                Fevereiro 2011

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Varal no quintal

Varal no quintal expõe intimidades.
Toalhas, camisas ou cuecas.
Violência, amor ou descuidos.
Fica tudo ali pendurado.
Vizinhos aproveitam e fazem comentários.
Roupas sofrem ou aproveitam a ação do tempo.
Ora sol forte, ora é vento.
Roupa nova ou desbotada.
Com prendedor ou amarrada.
Roupa antiga ou da moda.
Descosturada ou remendada.
Cobertas branquinhas ou amareladas.
Fronhas secas ou encharcadas com lágrimas.
Essas demoram a secar.

Prego fica quase esquecido na parede.
Fica enferrujado de tanta força que faz.
Prego é um cara cabeça!
O varal se amarra nele e não se largam.
Quando arrebenta é um desastre.
A mulher aproveita e briga com o marido.
Aí é hora de lavar a roupa suja.
Coitado do prego, vai tomar na cabeça!

Varal é forte e segura a onda.
Prendedores trabalham em equipe,
Também seguram o que podem.
Dona de casa trabalha até a exaustão,
E ali faz a sua exposição.
Fica orgulhosa com o trabalho do dia.
Obra de arte pouco valorizada.

Nossos varais de cada dia.
Nossas roupas sujas de todo dia.
Todo dia tem roupa suja,
Nem sempre tem roupa limpa.
Varal tem braços abertos,
Espera ansioso por sua amiga,
Dona de casa é parceira antiga.

Quando não tem roupa nos varais,
É ponto de encontro de pardais.
Balançam pra lá e pra cá até não poder mais.
Aproveitam para achar namoradas.
Cantam, fofocam e esperam por migalhas.
O chão é que sofre com suas borradas.

Varal não é exigente.
Pode ser fio elétrico, corda ou arame.
Se ficar bambo ou esticado,
Quem manda é a ‘chefe’.

Roupa molhada vive na corda bamba.
Muita gente vive assim também.
Se bater um vento forte vai parar no chão.
Corda arrebenta para o lado mais fraco.
Poe a culpa no prendedor, no varal e no prego.
Aí vai chorar a roupa derramada.
                                            Fevereiro 2011

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Jogos mortais

O local parece lan house de cinco lados.
Ali os senhores do mundo jogam.
São jogos mortais,
Ou mortal kombat.
É salvar o jogo e matar os outros.
Jogam com vidas de pobres mortais.
Acordos selados com sangue alheio.
Senhores das armas morrem de rir.
Indústrias de alimentos alimentam a guerra.
Fabricantes de sacos de lixo fazem serão.
Médicos curam para matar.
Moda veste o povo de morte.
É a morte na moda.
Final de guerra o uniforme é de plástico preto.
É embrulho de presente para família.
O sono é na trincheira.
Sonho de voltar, mas medo de falar.
Bravo candidato a corajoso morto.
Foto da família junto ao fuzil.
Só assim pra matar a saudade.

A medalha espeta o peito do soldado.
Sangue não sai,
Também não se ouve nenhum ‘ai’.
Bandeira do país dobrada com cuidado.
Adorno oficial cobre o caixão lacrado.
Sua lápide sem nome será pouso de pardais.
Salva de tiros saúda o herói anônimo.
Chefe de Estado lembrado no livro de história.

A ordem é defender a nação.
Mal vindos em nossa fronteira.
Igual cão demarcando território.
Pode matar que não é pecado.
Religiosos pediram a benção de deus.
Do outro lado também foram abençoados.
É benção de matar qualquer cristão!
Embate que deveria dar empate.
Que mundo desnorteado.
Mas que mundo loteado!

O amor bélico aumenta a cada clic.
Olhos nos vídeos games,
Coração odioso,
E sangue escorre pelos tubos.
São jovens bem treinados em casa.
Solução? Quando um cartaz disser:
‘Sob nova direção’.
É novo governo empossado.
Adeus poças de sangue.
                                     Fevereiro 2011

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Vaga-lume

Silêncio no quarto.
Escuridão alcançava todos os cantos.
De repente um clarão.
Parecia mini-relâmpago.
 Vaga-lume solitário,
 É lanterna com asas.
Não se importa por estar só.

Janela entreaberta.
O pirilampo alado foi vaguear.
Foi iluminar outras escuridões.
É luz fria que intriga entendidos,
E esquenta curiosidade de eletricistas.

Lá no alto na imensidão,
Paira sua musa solitária.
A luz não é dela.
É presente do astro rei.

Vaga-lume vaguea iluminando,
A noite densa e sinistra.
Escuridão causadora de tropeços,
Mas não tem poder sobre você.

Vai vaga-lume,
Vai clarear outras escuridões.
Você passa luminoso,
E nossos olhos brilham.
 Quando lhe seguramos,
 É como ter uma estrela nas mãos.

Você é lamparina de Deus.
Igual ao arco-íris,
Você é um presente de Deus.
                                              Fevereiro 2011