segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O encontro do Paulinho


Este adulto eu conheço,
Desde sua época de berço.
  Caia e levantava,
  E a cabeça vivia costurada.
Idas e voltas ao hospital,
Pra enfaixar e engessar,
Pernas, braços e maxilar.

Sujeito elétrico e agitado,
Tem umas rixas no passado,
Com um tal de Paulo Lauro,
E um certo Eduardo Prado,
Até sossegar no Colégio São Paulo.

Pedaços de asfalto,
Devem fazer parte de seu corpo,
Debaixo da unha e pelo dorso.
  Esse era Paulinho,
  Jogando bola na rua ou no campinho.

A Ivone berrava seus cantos,
Na Buenos Aires ou no Savoy,
O que tinha nas mãos voava,
Pra trazer o caçula pra casa.
  Pegasse onde pegasse,
  Na cabeça ou na mão,
  Mas a verdadeira intenção,
  Era acertar o coração.

Todos sabíamos que demorava,
Mas ele obedecia e voltava,
E permaneceu na verdade.
  Ela tinha ajuda de tutores:
  Foram uns 18 instrutores,
  Até cair na piscina e vir a calmaria.

As estradas foram parceiras,
Nos caminhos do BDN.
  Ele foi de sul a norte,
  Montando e desmontando a sorte.
Ora de currier ou Montana,
De caminhão ou avião,
A poeira subia e baixava,
Até ele baixar no sul e ficar.
Mistura que renova:
  Vida nova com Vila Nova!
  As coisas anteriores estão passando.

O Zezinho que me perdoe,
Mas vá parecer assim,
Lá nos cafundó do Guriri!
Um dia quero ver o reencontro,
Aí eu te conto.
O mundo diria: ‘Isso é  final feliz’!
  No novo mundo diremos:
  'Eis um início feliz sem fim'!
                                                         Agosto 2012


sábado, 4 de agosto de 2012

Se virando nos 50

Estou virando nos 48,
E os pneus não mais derrapam.
Antes eu ia até a borda,
A pista avisava e reclamava.
No retrovisor eu via,
A poeira que subia.
E o meu asfalto da vida,
Era só subida ou descida.
Eu pisava e ia mais rápido,
Eu tinha pressa e o motor era ágil.

Agora eu paro no meio fio,
E contemplo acontecimentos,
E me lembro de tempos passados.
Nessas avenidas, vividas,
Conheço as calçadas e esquinas.
E quando passo por elas,
De novo e novamente,
Sempre tem surpresas pra gente.

Em muitas ruas passei mais de uma vez.
E conheço o terreno de cor, talvez.
Sempre há velharias e novidades,
São canteiros, bueiros e buracos.
Tome cuidado!
Água e gelo na pista,
Deixavam a rua escorregadia.
O volante girava e rodava,
Os pneus gritavam e se esborrachavam,
E lá na frente o asfalto secava,
Ou a terra se empoeirava.

Os meus 50 estão bem perto.
Cheguei na metade de alguma coisa,
Ou essa ‘alguma coisa’ já é o inteiro?
Neste longo caminho caminhado,
Muitas vezes me senti aos pedaços,
Andando aos flancos e barracos.
Espelhos quebrados aos cacos,
Mesmo despedaçados,
Mostravam minha cara inteira.
A lição era verdadeira:
Inteiro ou quebrado,
Muita gente olha pra mim,
Querendo e precisando algo de mim.

Esse sou eu com 30, 40 ou 50;
Agora dirijo nos 50 ou 40;
Assim vou tentar chegar aos 70.
Infelizmente tem gente com seus 20,
Teimando em andar e viver em 120,
Insistindo em não ouvir alguém de 50.
Ô vontade de ser velozes e furiosos,
Com sonhos duvidosos!
Que eles não fiquem aos pedaços,
Antes da sabedoria chegar...
Se ela chegar.
                                  Agosto 2012


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

85 e muito mais

Um turco com sotaque paulista,
E aquele mineiro da antiga.
Um não durou muito,
O outro está até hoje.
A ditadura dizia que saía,
E quem dava as caras,
Era a liberdade de mentira.
O Zé do bigode não larga a teta,
E o osso fica pros desdentados.
Era tudo pelo social!

O letreiro na Penha,
Piscava Começar de Novo.
Eu obedeci e levei a Cris.
Foi um drink ou dois,
Três não foi.
A MPB se calou,
Pra dizer que o mineiro,
Se deitou e ficou.
Segunda é feriado,
Dia da casa de marimbondo;
Ninguém mete a mão!

Ah, foi um beijo na Cris,
Pra ficar na história do país.
Nós queríamos liberdade,
E pedimos cuba libre bem tarde.
A moto nos levitava,
Pelo asfalto paulista.
Nossos cabelos,
Aproveitavam e se desmanchavam,
Com os ventos da juventude.
Ela mineira, eu paulista:
Êita casamento pra dar certo!
Dois anos está perto.

Tudo se rachava e ruía,
Naquele cenário de mentira.
A gente pouco se importava,
E nossa verdade se firmava.
Nunca saímos em revistas,
Nem em matérias televisivas.
Horário nobre é pra quem pode!
Ainda bem que não depositamos,
Nossos votos e esperanças,
Em quem não é digno de confiança.
No início, no começo de tudo,
Eu e ela traçamos nosso rumo.
O tempo avançou e não esperou,
Nada e ninguém.
Foram certezas e enganos,
Perdurando por anos.

Desordem e regresso,
Eu via e vejo por perto.
Mas nós tateamos e achamos,
E continuamos encontrando,
A Verdade que nos separa da mentira.
Igual óleo no meio da água,
Nós vivemos,
Em meio a essa anarquia instaurada.

São 25 anos de sonhos,
E não de fantasias.
‘É muito tempo!’ – Talvez tu dirias.
Então sentas, pois te contarei,
Por quanto tempo quero viver.
Tempo suficiente,
Pra eu e a Cris,
Contarmos as estrelas,
Refletidas no mar sem fim.
                                  Agosto 2012