domingo, 30 de dezembro de 2012

A chegada de um estranho


Me disseram que estou estranho.
Acho que é porque,
Agora mais do que nunca,
Estou parecido comigo.
  Pensamentos vêm e vão,
  Uns vêm e ficam,
  Outros sempre estiveram.
Alguns anos se passaram,
E minha barba deu na cara.
  Meio branca e cansada,
  Chegou e causou.
Olhares me olham calados,
Entre bocas inquietas e nervosas.

E agora, o que faço?
Continuo como o atual,
Em meu estranho meio ‘normal’?
  Ou volto ao passado,
  Naquele meu normal todo ‘estranho’?
Nem vou responder,
Senão vão achar meio estranho.
                                                                        Dezembro 2012


sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Futuro testamento


Dezembro chuvoso lá fora,
Avisa que o fim do mundo se atrasou.
 Aqui dentro no porão inglês,
 A mesa fica molhada,
 Do suor gelado de meu copo.
  A minha cerveja fica quente,
  Pedindo que tudo se acabe.
  Eu concordo com a loira e peço outra.
A bartender aceita meu pedido,
E traz um copo, papel e caneta.
 É o que preciso pra escrever um testamento,
 E atestar meu pensamento.

Como testamento eu deixo a todos,
A minha vontade,
De voltar a soltar os cabelos,
Em meio aos ventos,
E cilindradas em duas rodas.

Deixo litros e litros,
Repletos e transbordantes,
De lágrimas salgadas,
E esguichadas aos cântaros,
Por alegrias descontroladas,
E gargalhadas de doer a alma.
 Deixo litros e garrafões,
 Chorados e esgoelados,
 Em terras de gringos,
 A milhas e milhas distantes daqui.
Deixo garrafões e tambores,
Cheios até a boca,
Escorrendo pelas bordas,
Com lágrimas gosto de sal,
Por causa de sentimentos mil,
Que vinham a mil,
Desde os tempos do vinil.

Ah, eu também deixo,
Minha vontade de cantar,
Blues, jazz e rock,
Além de MPB de minha terra.
 Ao fundo uma gaita cortante,
 Como que sendo tocada,
 Numa estrada empoeirada do Texas;
Um sax riscando a noite fria,
De São Paulo ou Nova York,
E a bateria batendo e batendo forte,
Se confundindo e se misturando,
Ao ritmo da caixa de som de meu coração;
  E o solo de uma guitarra,
  Chorando um metal anos 70 ou 80,
  Like a rolling stone knocking, knocking on heaven’s door,
  In a cold November rain.
Deixo também,
Algumas linhas escritas,
Com versos pobres,
E rimas mal feitas,
Para tentar tocar o coração,
De pessoas que lêem,
E não reparam nessas bobagens e futilidades.

Por fim,
Deixo algumas contas,
Que prometi que pagaria,
Mas não paguei.
 E daí? Poe no SPC e proteste!
 Só não garanto estar presente na audiência.

Eu também deixo atestado,
Que eu te amei.
 Mas eu confesso,
 Foi um verbo pouco usado.
 Culpa de nós dois: eu e a vida.
 Eu me envolvi demais com a vida,
 E a vida se intrometeu demais em minha vida.
Sure I could... I’ll be there for you...

Esse é o meu testamento.
E o seu, como vai ser?
 Olhe para a sua vida,
 E ateste por escrito.
Uma coisa eu sei e tenho dito:
Seus garrafões, tambores e litros,
Tem de encher até a borda,
Escorrer e inundar toda a sua vida.

Já é tarde, vou pagar a conta,
Sair do porão e ir pra rua.
 Chove aos cântaros,
 E os bueiros estão cheios de tudo.
Have you ever seen the rain,
In a hot December night?

                                      Dezembro 2012


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Mr. C

O Mister M tinha segredos,
E não os revelava.
Foram segredos de sucesso,
E eram guardados,
 Dentro de baús acorrentados,
 Chaveados e trancados.
Truques trancafiados,
Para não serem plagiados.
 Mistérios que não podiam,
 E não deviam ser desvendados.

Eu sou o Mr. C,
E tenho segredos como você.
Ficam guardados,
Aqui e ali,
Dentro de mim.

E você,
É Mr. ou Mrs. de A a Z?
 Não sei quem é você,
Mas sei e tenho certeza,
Que tens seus segredos,
Bem escondidos e guardados.
São segredos de que tipo?
Cuidado ao classificá-los!
Uns devem ser eliminados,
E também,
Ser esquecidos.
E não se esqueça,
De não se lembrar deles.

O Mr. M não tinha poder,
Para as coisas fazer desaparecer.
Eu e você também não temos,
Mas devemos nos livrar,
De segredos e mistérios,
Enferrujados e embolorados,
Que podem fazer mal,
Dentro e fora de nós.
Segredos bons?
Guarde todos.
Segredos ruins?
Esqueça deles,
Ou conviva por toda a vida,
Mas com vida.
                                      Dezembro 2012

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O impossível da missão

Missão impossível,
É ver as dificuldades e dizer:
 'É a vida, o que vou fazer?',
E continuar a fazer,
Fazer o que tiver de fazer.

Missão impossível,
É perder alguém na morte cruel,
Secar as lágrimas,
E ter que continuar caminhando,
Ou se arrastando,
Pois um outro dia sempre está chegando.
... E continuar a se fazer de forte;
Ser forte sem força nenhuma.

Missão impossível,
É de manhã cedo preparar a marmita,
No almoço ter meia hora pra comer a comida;
E continuar a fazer o trabalho,
Pra conseguir o pão,
Porque ninguém faz no seu lugar, não!

Missão impossível,
É trabalhar o mês inteiro,
Esperar ansioso pelo pagamento,
Mas ele dura só até a metade do mês.
E o restante do mês?
Isso é outra missão!

Missão impossível,
É se olhar no espelho,
E ver olhos fundos e profundos.
Um ‘amigo’ te olha e pergunta:
Tudo bem?
Mas ele sabe que não está tudo bem.
Você responde:
Tudo bem!
Mas você sabe que ele sabe,
Que você não está bem.
Ele vai pra lá e você pra cá,
E fica tudo bem...
E tem que ficar tudo bem!

Missão impossível,
É fazer o possível e o impossível,
Pra fazer as coisas...
E as coisas acontecem...
E alguém sem noção nenhuma dizer:
Não é possível!Você só fez isso?
Dá vontade de abortar a missão.
Mas isso é impossível,
E você, simplesmente,
Nada mais que simplesmente,
Faz o mais difícil:
Continua...

Missão impossível,
É ser feito de bobo,
Por quem você vê o tempo todo,
E ter de continuar a viver,
Com esse sujeito tolo.
Dá vontade de expulsar,
Esse cara que insiste em te cutucar.
O nome dessa missão?
O inimigo que mora ao lado do pulmão.

...E por mais impossível que pareça,
Por mais que pareça impossível,
Você consegue ir,
Põem um sorriso na cara,
E continua sua missão impossível.
Pra você,
Não existe missão impossível.
O impossível da missão,
Você já fez:
Você está vivo,
Apesar de tudo e de todos.
                   Dezembro 2012