segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Sempre ali

Aquele poste sempre esteve lá
Sentinela e esguio
Ostentando seus fios
Suportando apagões
E dando luz aos milhões

Aquela árvore sempre esteve ali
Frondosa e arboriosa
Enfrentando ventos assim
E serras afins

Aquele rio sempre correu pelo bairro
Ô riacho!
Corria, serpenteava e se esguiava
De pneus que deviam estar na estrada

Aquele muro sempre esteve ali
Quanto reboco, muito tijolo
Quantos pichos, quantos avisos
Quanta separação, quanta divisão
Apesar do bom trabalho por anos
Seu futuro será aos escombros

Aquele passarinho sempre esteve ali
Empoleirado atrás das grades
Sem pena foi sentenciado
A viver calado
E morrer enjaulado

A mãe sempre esteve lá
Cozinhando e lavando
Falando e perturbando
Tomara que ela vá ficando
Até não-sei-quando

Aquela dor sempre esteve ali
Incomodando e me encarando
Me lembrando e me ensinando
Que eu não passo de um ser humano
Outubro 2015




sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Dona Elza

Meus filhos Matheus e Arthur estudaram na Escola Estadual professora Elza Pacheco. Dedico este texto aos profissionais da educação que exercem e exerceram suas atividades da melhor forma possível nesta escola, apesar de tantas dificuldades que enfrentam já por muitos anos. Uma das dificuldades é o fato desta escola nunca ter tido uma sede própria. Só eles sabem quanto desgaste isso lhes causou.
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Fui visitar a dona Elza
Ela está bem e mandou lembranças
Está doente
Mas não está demente
Pode estar carente
Mas jamais entregue
Aliás, doente já por muitos anos
Por causa de uns e outros tantos

É de partir o coração
Vê-la nessa situação
Mas essa compreensão
É só pra quem tem coração

A dona Elza fez o bem a muita gente
No passado e no presente
E se depender dela
Quer seguir em frente
Educando e ensinando
Contribuindo para a sociedade
E a comunidade

Ah, mas a peleja é grande
Com um Golias gigante
Ela é uma idosa sem casa
E não se importam com sua causa
Se sente uma abandonada
Largada e mal tratada
Depende de favor
Pra morar e pro labor

Por favor
Minha senhora e meu senhor
Sejam quais erros forem
Ou dissabores
Vejam o que ela fez de bom
E paguem-lhe com o bem
Ela precisa e merece de verdade
De uma velhice com dignidade

Se a deixarem morrer
Por favor, sem discursos
Pra jornais e pra TV
Depois de morta
Ela será lembrada apenas
Por quem importa
Por quem lhe deu importância

Ela sempre foi tratada sem educação
Apesar de seu ganha-pão
Ser a própria educação
Quanta ironia
Com aqueles que dedicaram suas vidas
A cuidar dos filhos de Santa Catarina
Dentre os muitos filhos teus
Estão dois dos meus
Arthur e Matheus

Quer saber o nome
Desta senhora idosa
Mas com energia vigorosa?
Muitos saberão
Mais tarde ou mais cedo
Que é Escola Estadual professora Elza Pacheco
Outubro 2015



quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Calçado e sem chinelos

Meu filho quer jogar futebol
Mas eu não dou bola

A chuva bate na janela
Mas eu prefiro o chuveiro
No box do banheiro

A lua me espera lá fora
Mas eu fico dentro do edredom
O sol convida para o frescor de seus raios
E eu suando no ar condicionado

O mar e a areia me gritam
Os chinelos correm e me procuram
Mas os sapatos não largam de meu pé
Sai chulé!

A bermuda me chama pras férias
Mas as calças me pegam pelas pernas
O bronzeado se oferece
E a minha brancura fica à flor da pele

O vento tenta soprar meus cabelos
E mandar pra bem longe meus lamentos
Ele apenas ouviu meus apelos
Mas agora não tem jeito
E eu ajeito um baita nó da garganta:
Gravata e camisa passada
Estou pronto pra reunião no escritório
Às vezes parece velório

A rede se balança na varanda
Pra lá e pra cá a bailar
E tenta me seduzir naquele dançar
Mas eu resisto e insisto
Na rotina da vida em que vivo

O tempo todo eu fico sobrevivendo
E para outras coisas eu não tenho tempo...
Viver por exemplo
Outubro 2015



O tempo todo eu fico sobrevivendo
E para outras coisas eu não tenho tempo...
Viver por exemplo