quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Ano/modelo 64

Fui e fiz uma entrevista
Se eu fiquei otimista?
Depende do ponto de vista
Parecia compra de carro usado
O suposto interessado
Queria depreciar
Queria desvalorizar
Queria subestimar
Aquele veículo antigo
Mas não velho ou destruído
Aquele veículo rodado
Mas não ultrapassado ou encostado
Aquele veículo já gasto,
Mas não quebrado ou enferrujado

Ali estava um genuíno Cleidinei
De rodovias e highways
De estradas empoeiradas
De barros e barrancos
Ali estava uma relíquia ano 64
Limited edition de fato
Raridade que não tem no mercado
Produção feita à mão
Em bom estado de conservação

O hodômetro já virou
Girou e revirou o mundo
Em quilômetros e milhas
Mas sempre trabalhando
Nunca descansando
Mas tenho que confessar
Uma realidade que cansa e dói:
Aí tá mais pra carro de boi
Do que carro de boy
De tanto trabalho que foi!

Mas é carro bom pra estrada
Nacionais e internacionais
Carro bom pra terrenos ruins
Não deixa ninguém na mão ou a pé
Modelos mais novos
Não aguentam tranco nem solavanco

Motor quase 5.0
Melhora enquanto fica mais velho
Econômico quando precisa gastar
Gasta pouco pra ser econômico

Confesso e não é mentira
Saí da oficina...
Ou melhor, da entrevista
Com as vistas meio caídas
Mas pensei me olhando no retrovisor:
Não estou à venda nem procuro comprador!
Acelerei meu motor
No rádio um Credence ano 72
8000 RPM e nem é turbo
0 a 100 em não sei quantos segundos
Ou minutos...?
Girei a manivela e abri os vidros
Pro vento desmanchar
Cabelos e ideias afins
E eu disse pra mim assim:
This is Clei
On the road again!
With no work, no gain
But still running on the highway!
                                             Janeiro 2014

No museu da Mercedes em Stuttgart, Alemanha. Julho/2012

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Sorriso verdadeiro

Tem sorriso,
Que parece diamante,
Em pescoço de madame.

Tem sorriso,
Que parece frescor da manhã,
Depois da noite fria e sombria.

Tem sorriso,
Que parece um cão,
Esperando paciente,
Por seu dono no portão.

Tem sorriso,
Que parece a alegria,
Dum pássaro livre,
Da gaiola e suas barras.

Tem sorriso,
Que é igual à terra,
Seca e rachada,
E toda cheia de cascalho,
Dum sertão surrado,
Que recebe a chuvarada,
Do céu carregado.
Êita, aguaceiro abençoado!
E o ramo verde e vigoroso,
Lhe brota alegre e majestoso,
E sobe cheio de vida,
Como que agradecendo:
Oh, Deus, obrigado!

Isso sim é sorriso,
Verdadeiro e satisfeito! 
Janeiro 2014





sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Queria escrever

Queria escrever,
Para um monte de gente ler,
Para alguns entenderem,
Para poucos aceitarem,
Para uns corações se tocarem,
Para você sorrir ou chorar,
Para eu continuar a escrever.

Queria escrever,
Querendo acertar o alvo,
Almejando sempre o certo,
Mas sem condenar os errantes.
Para isso temos espelhos cortantes!

Queria escrever,
E ser entendido pelos ‘loucos’,
Porque os ‘sãos’ me chamam de doido,
E não me compreendem, tampouco.

Queria escrever,
Sem muita responsabilidade.
Quando a gente nasce nesta sociedade,
Temos cobrança desde a maternidade.
Ela é parceira fiel,
Até à pior ou melhor idade.
Depende de cada mentalidade.

Queria escrever,
Sobre um mundo melhor para viver,
Daqueles que se fala no portão,
Para um amigo ou não.

Queria escrever,
Até um rei ser puro igual criança,
Até uma criança se sentir rei.
Aí eu paro de escrever,
É hora do novo governo reger.
                                            Janeiro 2014





quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

2014 em cartaz

O ano chega,
Com cara de uma dúzia,
E mais dois de reforço,
Pra chegar até o fim,
Sem esforço,
Sem corda no pescoço.

Se perguntam eu respondo e ponto:
Yes, nós temos COPA,
COPA no Brasil, zil, zil...
COPA do Brasil,
COPA boi dormir,
COPA, mesa e banho pra lá,
E sem água pro banho,
E sem nada na mesa pra cá.
É Neymar nem bem,
Mas FIFA tudo na mesma lerda.

O negócio é bola na rede,
E bolada na conta deles.
Parece película ridícula,
Roliudiana pior que indiana:
Os onze filhos de Filipe;
Onze homens e um enredo;
Tropa de Filipe;
Ali está os 40 ladrões;
Apertem os cintos, a COPA é no Brasil.

Catorze e mais dois mil,
Vai ser assim e coisa e tal:
Cada um por si,
E muito dinheiro pra eles.
E sai da frente,
Que atrás vem muita gente,
Querendo mais dinheiro da gente.
E eu nem sabia,
Que a mãe Joana,
Tinha tanto filho bacana.

Mas fala a verdade.
Isso não é sério, né?
Num passado não tão distante,
Meu professor embargava a voz,
E quase que batendo continência,
Dizia para todos nós:
Este é um país do futuro!
Aquele mestre trabalhou duro,
Com toda certeza do mundo,
Já bateu o botinudo,
E não viu esse tal futuro.

Enquanto isso o ano passa,
E o Frederico chega em casa,
Depois do suor na obra,
Mete o pé na porta,
E grita com a fome de um T-Rex:
DIL-MA, CHEGUEI!
E ele é ignorado,
Como um cartum do passado,
Como um filme atualizado.

E a galera grita:
É nóis na FIFA!
                                                   Janeiro 2014