terça-feira, 1 de maio de 2012

Torcendo sem juízo

Ele também é artista,
Mas não recebe aplauso.
Não importa o seu show,
Ele é recebido e despedido,
E ovacionado e saudado com vaias.
Juiz deve aplicar a lei,
Mas é bandido e inimigo.
É profissão bandida.
Que vida!
O jogador pinta e borda,
A bola pinga e rola,
O juiz apita e chora.
Juiz zela pela regra,
E a torcida em brados e prantos,
Quer quebrar ambos.
A bola é réu e vítima,
E o júri são todos menos dois:
Bola e juiz.
Juiz não julga,
E é julgado e sempre condenado.
Árbitro de futebol,
É profissão perigo.
Juiz não é campeão,
E não sobe ao pódio.
Não recebe medalha,
Nem salário milionário.
Nunca vai levantar o caneco.
Acaba o jogo e sai escoltado,
Não que seja badalado,
É necessário pra não ser apedrejado.
Juiz parece assalariado,
Se trabalhar certo não é lembrado,
Se errar merece ser degolado.
Antes vestia preto,
Igual agente funerário.
Em nossos dias,
Suas vestes são coloridas,
Mas profissão ainda é perseguida.
Juiz de dentro ou juiz de fora,
O cal é linha demarcadora,
E a situação da pressão não melhora.
Juiz parece ninja,
Tem de estar aqui e ali.
Juiz tem de ter olhos grandes,
Do tamanho do campo e dos lances.
Segurando o apito ou a bandeira,
Tem de ser sombra do jogador,
Não importa onde a bola for.
Criança vai ao estádio,
E antes de gritar gol,
Vê o exemplo maior,
Xingar o juiz e perder o juízo.
O pequeno aprende a arte,
De descontrolar a ira.
Desde cedo,
A criança se apaixona pela bola,
E aprende odiar o dono da regra.
Árbitro tem alvo em vista,
Objetivo é ir para a FIFA,
Assim talvez melhore a vida.
E o juiz segue o jogo,
Apitando pela vida e pelos campos,
Dando cartões,
E sendo descartado.

Quem sabe um dia,
Uma torcida organizada e enjuizada,
Gritará da arquibancada ou numeradas:
E dá-lhe arbitrôôô,
E dá-lhe arbitrôôô,
Olê, olê, olêêê...
Aí o juiz vai pra galera!
                                               Maio 2012