quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Clarinete solitário

Andando na Avenida Paulista em 03 de outubro de 2014.
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E na Avenida Paulista
Um solitário clarinete solista
Solta algumas notas represadas
Notas que bailam e flutuam
No meio do ar e poluição
Mas elas não se misturam
Pois apenas um é puro

O músico fica sentado
A partitura se mantém em pé
E no chão sonhos e cifras
Notas e moedas ficam caídas

E nós transeuntes
Em meio a transtornos e tragédias
Estamos cheios de tudo e de trânsito
Quase transbordando de traumas
Nós escutamos, mas não ouvimos
O clamor do clarinete
Vivemos em total torpor
Na São Paulo cheia de rancor
Não! Estamos decididos!
Não queremos gastar os ouvidos
Nem ocupar nossos tímpanos
Com músicos solitários

E os olhos do tocador
Se fecham enquanto sua música
Pede espaço no trânsito da avenida
Como somos injustos com o músico
Não lhe damos nem um centavo
De tempo nem de nada

Mas para o verdadeiro músico
O show não pode parar
Por isso ele não para de tocar
Na calçada da Avenida Paulista
Ou num bairro da periferia
Outubro 2014





sexta-feira, 10 de outubro de 2014

EXtrada

A estrada parece amiga de todos
Nos permite de tudo
E nem pergunta quem somos

Que dama charmosa
De curvas perigosas e sinuosas
Ela envolve os mais ávidos
Pra não devolver suas vidas
Eles vivem passando dos limites
E morrem jovens
Talvez aos 80, 100 ou 120

Que presa cheia de pressa
Tão fácil de pegar

A estrada se adorna e se pinta
Pinturas e tinturas
Com marcas chamativas
Que cativa suas vítimas automotivas

Eles se deixam e tonteiam
Em suas curvas de serpentes
A estrada tem canto
E encanto de sereia
Na hora do beijo
Tudo vai pro brejo
A queda é grande
Do tamanho dum desfiladeiro

Naquele momento derradeiro
Ela olha pra baixo
E sorri por um momento
Na beirada de seu acostamento
E seu sorriso de vitória
Tem cheiro de borracha
E som de pneu careca
Ela chamou pra bailar
E só ele rodopiou e dançou

Mas na estrada nada para
E tudo continua
Ela volta a desnudar suas curvas
Para o próximo animal
Que se gaba e se enfuna:
Seria um lobo da estrada
Ou um coiote do asfalto?
E a estrada vai ao encalço
De mais um asno volante.
Outubro 2014

Que dama charmosa
De curvas perigosas e sinuosas



quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Saco!

Já era noite,
O escuro já estava no ar,
E eu vi algo branco,
Voando e flutuando.
Aquilo tentava passar despercebido,
Mais parecido a um cão perdido.

Que saco!
E era de plástico,
Acho que de mercado,
Talvez até furado,
Mas era um saco!
E seu flutuar era mágico,
Quase sádico, todo anárquico,
E eu apático dentro do carro.

Que péssimo contraste,
Da noite escura toda pura,
Com aquele branco sujo,
Sugismundo igual ao dono,
Daquele saco sujo.

E o vento continuava a soprar,
Aquele lixo a bailar.
Parecia bailarina de botina!
Mas não adiantava ventar,
E tentar levar aquela leveza.
Aquele peso para a natureza,
Ia continuar a flutuar,
Dançar até repousar,
Em sua casa ou em meu lar,
Na minha rua ou em nosso mar.

Quiçá todo lixo fosse fiel e saudosista,
Pudesse retornar à sua família,
Voltar para o aconchego de seu dono,
Igual cachorro após o abandono.
Outubro 2014