segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Num banco de praça

Num cair de tarde, eu vi um homem num banco de praça. Acho que ele me olhava, mas não me via... ou não se importava.
Eu o observei e escrevi...
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Ele tremia e mal dava
Pra enrolar o cigarro de palha

No bolso uma garrafa de cachaça
Na mão uma cerveja em lata

Pernas cruzadas
Naquele banco da praça

Bochechas rosadas
Devido à “água” que ele tomava

A idade não era avançada
Mas a barba rala
Estava esbranquiçada

Ele olhava
Mas acho que não via nada
Ou talvez nem se importava

A multidão passava
E o ignorava
Na verdade, o evitava

Roupas esfarrapadas
O sujo o adornava
Nem um cachorro o acompanhava

A solidão que não o deixava
Essa sim
Era quem ouvia a sua fala
Muitas palavras
Mas não queríamos entender nada

Roupa folgada
E barriga apertada
Calça e vida rasgadas
Naquela cidade esfumaçada
Enquanto a fome o atormentava
A cana o acalmava

Fragrâncias da semana passada
Eram suas marcas registradas
De longe eram anunciadas
Pra quem ia e vinha pela calçada

A noite de longe já o observava
E lhe preparava a madrugada

Como seria aquela noitada
Para aquela pobre alma –
Comigo eu me perguntava

Eu iria pra casa
Para minha família que me esperava
Minha refeição já estava preparada
Roupa lavada e passada
Uma cama toda arrumada

Mas e aquela pobre alma?
Só uma certeza lhe era assegurada
Que a madrugada cairá pesada
Não será sossegada
E sem garantias de nada
Talvez nem o luar dê as caras

Talvez horas e semanas acumuladas
Todas já misturadas
Em copos e tragadas
Não significam mais nada de nada
Para aquela pobre alma
Naquele banco de praça
Agosto 2016

Ele olhava
Mas acho que não via nada