sexta-feira, 21 de junho de 2013

Boteco do Butiquim

Fui na Rua Floriano Peixoto em Blumenau e conheci o Butiquim.
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Fui no Butiquim,
Minha terra é meio assim.
Lembrei do Bixiga e do Pari,
A Sampa também é toda assim.
Lá tinha pouca luz...
E pra que mais luz?
A lua tá lá fora,
Ela que tente ser o sol.
Lá dentro me senti livre,
E a Coca virou cuba libre.
Eu ouvi MPB no vinil,
Na próxima,
Vai ser Caetano e Gil.
Lá é tudo rústico,
Cadeira é de madeira,
E bom som acústico.

Na saída o beco era escuro,
Luz amarelada na calçada,
Iluminava paralelepípedos.
E a garoa caia,
Toda melodiosa e boêmia.
Sounds like England by night.

Num verso e prosa,
Noel Rosa diria sem dúvida:
Vamos tomar mais uma.
A noite é uma criança,
(What a sad!),
Mas eu sou adulto e tenho responsa.
A lei toda seca,
Não me deixa molhar a garganta;
A noite está tarde,
E o dia vem cedo.
Tchau Butiquim.
Vou indo, mas deixo a conta fechada,
As portas abertas,
E a cerveja gelando me esperando.
 Sem saideira, por favor, 
 Senão acho que não acho a saída.

Não chores por mim,
E não me espere muito,
Porque volto logo.
Mais logo do que cedo.  
                                   Junho 2013 



quinta-feira, 13 de junho de 2013

Álibi com mau hálito

Um álibi parece hálito,
Às vezes parece bafo de alho,
E não cheira bem.
Tem cheiro de ‘não sei o quê’...
Sei lá, entende?

Às vezes parece fragrância de menta.
Não é mentira!
Fica algo bom no ar...
E só aumenta...
É um ar mentado!

Tem álibi,
Que parece desculpa esfarrapada,
E a cara deslavada,
Nem fica avermelhada.

Tem álibi,
Que carece de desculpa estapafúrdia,
Pra ficar com cara de álibi...
Isso é álibi precisando de álibi!

Tem álibi,
Que traz alívio,
Porque é verdadeiro e límpido.
Isso livra a cara!
E a cara nem precisa ser lavada.

Estes são nossos álibis da vida.
E quando a vida finda,
Aí não precisa mais de álibis.

A vida é um álibi pra morte...
E a morte acredita na vida.
                                                   Junho 2013

 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Meu querido preterido preferido

Eu perdi meu trabalho, fui mandado embora. Isto é fato e ponto! Eu espero e desejo que o leitor 'viaje' com o texto abaixo. A minha intenção pode ser qualquer coisa com os devaneios do leitor (isso eu não posso controlar e nem gostaria de ter tal poder), mas gostaria de deixar claro (e bem esclarecido) que não quero atingir de forma negativa meu antigo empregador, o qual me aturou por longos meses e dias... e agradeço, portanto. O texto abaixo é dramático e ao mesmo tempo sarcástico referente à situação de um desempregado, antes paulistano mas agora "blumenauano".
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Dancei todo afoito.
Foi um verdadeiro,
Samba do crioulo doido.
Naquela mesa redonda,
Naquele calabouço medieval,
Me senti um miserável,
Me senti deste tamanho,
Menor do que um pedaço de ranho.

Ano passado foi um prelúdio,
Deste atual absurdo.

Fui preterido,
E chamado de querido(?).
A marca da bota,
Está em meus fundos.
Isso é tatuagem em meu corpo,
Marcada a ‘ferro’ e ‘fogo’;
 Vou carregá-la em meu dorso.

Fundo de garantia,
Não me garante muitos fundos.
Tomei um pé na minha 'funda';
Pra compensar a angústia,
Vou tomar uma cerveja escura,
Vou tomar uma Caracú...
(A 'escura' foi só pra ficar rimando,
E não passar em branco).

Mas pra falar a mentira verdadeira,
Eu não tô,
Pra ficar rimando qualquer besteira.
Eu tô desempregado,
Ferrado e muito danado.
Todo lascado e endividado,
Em muitos dígitos,
Algarismos e algoritmos.

Eu tenho que me manter de pé;
Mas onde e como se perdi meu chão?

Minha cara vai ficar desbarbeada;
Vou pro bar e beber Velho Barreiro.
Meu barbeiro,
Vai perder os cabelos.
Ó Rapunzel! Tú vais parecer careca,
Perto de minhas madeixas!

E na entrevista,
Farei cara de otimista.
E as preocupações e desesperos,
Minhas ansiedades e medos,
Que fazem bocas e caras?
Todas ficam na sala de espera,
Juntas com minhas outras máscaras.

Ali, naquela sala de torturas,
RH ou departamento de gente,
Arreganho todos os meus dentes;
Eu me mostro destemido e valente,...
Um perfeito toreador de pressões,
Só pra agradar os patrões!
Meu negócio é sair dali,
Com carteira assinada e carimbada.

E assim,
Todo desempregado desesperado,
Se acaba um pouco a cada dia;
Toda noite e dia após outro dia.
 O desafio é ficar inteiro,
 Até achar o próximo emprego...
Junho 2013


Doce vida

Paladar aguçado com açúcar mascavo.
Café adocicado com açúcar refinado.
Ah, doce vida!
Adoçada com muitas amarguras,
Com sabor chocolate amargo.

Amarguras doce de se engolir,
Dando nós na garganta,
E nos dando dor de garganta.

E vomitamos nossos problemas,
Para o deguste de comensais.

Queremos e precisamos,
Repartir nosso bolo cru,
Enquanto mandamos todos tomar café.
  Vocês têm que me engolir!

Empurramos goela abaixo,
De quem tá com fome ou não,
Nossos pepinos e abacaxis,
Para nosso amigos e inimigos...
Não tô nem aí!
Amizade amarga,
É melhor do que doce solidão?
Uns dizem sim,
Outros dizem não,
E muitos dizem:
Não tô nem aqui!

Se algo não desceu bem,
Tome um sal de frutas,
Pra aguentar minhas agruras.

Tem coisas que a gente come,
Que dá dor no abdômen.
Tem dor que incomoda uma semana,
Tem dor que dura um longo dia,
Mas tem dor que dura só uma vida.
                                       Junho 2013


quarta-feira, 5 de junho de 2013

A necessidade do necessário

O necessário sabe onde você mora,
E chega até você sem demora.

O desnecessário,
Parece montanha grande sem topo,
Parece pacote sem fundo,
Parece um poço sem fim.
A procura nunca acaba,
E a vida acaba se acabando antes.

O desnecessário,
Deve morar num palácio,
Ou num arranha céu,
Ou na cobertura de um hotel.

O endereço a gente nunca sabe,
E quem procura o desnecessário,
Procura e procura,
E a procura nunca acaba,
E ele nunca acha,
E sempre acha que vai achar,
E vai achar que achou.
Mas de achismo a vida tá cheia!
O que você acha?

O desnecessário,
Se acha um super herói:
É o tal do supérfluo.
Mas o necessário,
Parece nosso cão fiel,
Parece sombra companheira,
Parece estar sempre ali e por aqui.

Sabe a diferença de um e do outro?
Um a gente tem e sempre pode ter.
O outro a gente não tem,
E vai gastar a vida pra ter,
E se tiver,
A sensação é de não ter.
Você sabe quem é qual?
Você sabe qual é quem?
Na dúvida,
Fica na sombra,
Com o cão vira-lata.

Enquanto isso ou aquilo,
O necessário fica longe,
E pode ficar pra nunca mais.

... E a vida passa e se acaba,
E acaba passando necessidades...
(10)necessariamente nesta (10)ordem...
                                                 Junho 2013
Necessário ou desnecessário?

terça-feira, 4 de junho de 2013

O lado escuro da madrugada

Escrito e oferecido para duas pessoas.
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Várias portas fechadas;
Fachadas fechadas para a noite.
Mas a noite se abria para outras variedades;
Variações para gostos e desgostos.

Mas uma porta se abria,
E a estrela da noite me guiou.
Eu vi mesas e cadeiras assentadas;
Assentos reservados e desarrazoados;
Garrafas cheias se esvaziando,
Convidavam vidas evasivas,
Repletas de vazios querendo se encher.
Pessoas rindo e se rindo,
Em fachadas decaídas,
Chorando e se rachando,
Por dentro lá no fundo.

Tudo isso e mais um pouco,
Acontece na calada da noite;
Mas a noite não se cala.
O CSI é que agradece a sua fala.

Mas eu vi um par de olhos,
Que andava aos pares,
E cambaleava naquele lugar.
Com certeza eram passos incertos,
Se segurando em algo inseguro,
Com pé e sem cabeça.

A noite que me perdoe,
A lua que procure outra,
Mas aquele par de olhos,
Tão preciosos,
São preciosos,
E não vão brilhar,
Naquela penumbra,
Na escuridão daquele lugar.

Aqueles olhos negros,
Me viram e choraram,
Prantearam e se aliviaram.
Aquele par de olhos,
Foi resgatado,
Da noite e de seus engodos.

Não me diga 'obrigada'.
 Eu sou um errante;
 Eu também estava lá.

E acabou cedo a madrugada;
Aqueles olhos foram pra casa,
Se fecharam e descansaram,
Num sono adolescente.
                                           Junho 2013


domingo, 2 de junho de 2013

Teto de ovo

Muitas vezes tô com pedras na mão,
Às vezes com um carrinho de mão,
Com pedras de montão.

Eu me armo pra disparar o canhão.
Mas olho meu teto que é de vidro,
Que não agüenta um cisco.
Aí eu me esqueço disso,
Eu me viro,
E tenho que me virar,
Com meus montes de pedras.

Mas nem tudo tá perdido,
Com as pedras e cascalhos.
Aproveito e construo,
Um castelo com teto de concreto.

E uma folha desce,
E toca o teto.
Meu teto não é isso tudo,
Não é aquelas coisas,
E não é tudo aquilo.
Meu teto desaba,
E desanda tudo.
A casa cai,
Eu caio junto,
E me acabo no meio de tudo.

Ô folha pesada!
Êita teto leve!
Ó, que pena...
Com peso de chumbo!

Telhado dos outros é de vidro,
O nosso é casca de ovo.
Pense nisso,
Repense de novo,
E guarde e resguarde,
As suas britas no bolso.
                                                   Junho 2013