sexta-feira, 6 de maio de 2016

Super-humano

Quando eu era menor
Eu tinha um super-herói
Desenhado em meu peito
Peito sem pelo e sem documento

Meu irmão desenhava
Então eu me transformava
Às vezes eu era invisível
Todos os dias eu era invencível
Balas de mamonas?
Eu era imune a todas
Meu batmóvel era uma bicicleta
Que me levava pelo bairro ou pra qualquer lugar da Terra
Eu pulava do segundo degrau
E voava pra combater o mau
O vento ventania ventava
E balançava a minha capa
Eu usava uma mascara
E minha identidade não era revelada
Meus inimigos diários
Tinham uns 10 centímetros
E eram de plástico
Nas batalhas eu nunca matava e sempre morria
Várias vezes no mesmo dia

Lutei em Gotham e Metrópolis
São Paulo, New York e Patópolis
Onde o dever me chamava
Lá eu estava
Eu enfrentava meus inimigos
E sempre ficava ferido
Às vezes eu lutava solitário
Muitas vezes eu era derrotado
Todo dia eu ia pra batalha
Armado com um sorriso na cara
Meu campo de batalha
Era o campinho de terra perto de casa

Hoje a batalha continua
Com a realidade nua e crua
Meu herói não é mais desenhado
Fica do lado de dentro guardado
Hoje eu não sou mais o herói de meus filhos
Como em tempos idos
Descobriram que não tenho super poderes
No lugar, super falhas e temores

Hoje a batalha continua
Eu ainda morro várias vezes no dia
Mas eu tenho que voltar
E continuar a pelejar
Sorrindo ou chorando
Tenho que ser um super-humano
Não tenho super poderes
Mas tenho uma certeza:
Tenho que continuar lutando
Até não-sei-quando
Até eu voltar a ser um simples humano
... ou o que acontecer primeiro
Maio 2016


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O vento ventania ventava
E balançava a minha capa