segunda-feira, 29 de setembro de 2014

2 folhas Ah!4

50 anos em 2 folhas A4.
Ah, quadro!
Retrato calado,
Em papéis pautados!
Parece trabalho fácil;
É 25 de cada lado,
Pra não dar briga,
Nem causar intriga. 

A vida em riscos aos rabiscos,
São os riscos da vida.
Eu me arrisco em viver assim,
E assim vou vivendo.
Um risco a cada dia,
Senão é arriscado viver assim!

A minha vida está no papel,
São papéis da minha vida.
É o tal do resumão,
E coisa e tal.
Prepare-se mermão!
É cada papelão!

Minha tinta ia tirar,
A pureza daquele branco,
Com uma história e tanto!

A caneta destampou sua tampa do topo,
Me olhou e reclamou:
Não me aperte assim,
Senão minha tinta sai vermelha carmesim!
Fiquei meio sem jeito,
De cara vermelha,
E respondi pra minha parceira:
Eu é que estou nos apertos!

Mas as folhas foram se enchendo de mim,
Entre perguntas firmes,
E respostas entrelinhas.
Os riscos foram saindo,
Pareciam escritos de pergaminho.

Quem for ler prepare-se;
É história pra palhaço chorar,
E hiena parar de rir.
É história pra boi dormir,
E vaca secar o leite.

E você,
Tá rindo de quê?
                                         Setembro 2014


Minha tinta ia tirar a pureza daquele branco

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O mendigo e o tesouro

Hoje eu vi um sujeito.
Muitos diriam que é um suspeito.
Outros que era um ‘sem jeito’.
Muitos outros arriscariam que não tinha jeito.
Mas todos, sem respirar fundo,
Diríamos que é um mendigo.
Nada mais e muito menos que isso.

Mais um à toa de vida boa.
Menos um pra pagar imposto,
Pra viver de encosto.
Quantos adjetivos qualitativos,
Discriminativos e depreciativos!

Eu, meio sem jeito,
E suspeito em dizer,
Apenas pensava comigo e por todos:
Hoje é ele que está ali,
Mal tratado e maltrapilho,
Todo cinza, esquecido,
Mal visto e maldito,
Por nós que nos achamos coloridos.

Amanhã, quem sabe,
(E não quero saber),
Eu desço e ele sobe,
Neste sobe e desce,
Nestas rodas e voltas,
Que o mundo dá e depois cobra.
E naquela situação,
Eu não vou ter como pagar, não!

Eita mundo com poeira e sem porteira,
Sem eira nem beira.
Mundo que parece mar revolto,
Que afunda barcas e embarcações.
Olhando por cima,
É fácil ver o sujo que boia.
Difícil é olhar o profundo,
Onde o olho não vê o escuro.
A prata e o ouro do tesouro,
Repousa longe do olho.
Chegar lá é privilégio de poucos.

E olhe que o ouro,
Fica coberto de sujo e lodo.
Até parece mendigo esquecido,
Que guarda um segredo no íntimo.
Ali o tesouro fica protegido.
Setembro 2014


sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Ventos e vassouras

O vento sopra forte,
E desnorteia folhas e cabelos,
Saias, vestidos e borboletas.
Feche os olhos,
Pra não pagar mico,
E ganhar um cisco.

Naquele redemoinho de coisas,
Muita coisa deveria ir embora,
Pra bem longe sem demora.

O gari vai dar muita vassourada.
Papel de bala,
Bitucas na calçada,
Camisinhas furadas,
Santinhos de candidatos,
E candidatos a santinhos.

E o vento vai varrendo,
Ajeitando o mês pra setembro.
No próximo mês é tudo novo.
Esperança e imposto,
Flores, roupas e contas.
O ipê amarelado,
Vai ficar descabelado.
O papelão com cara de edredom,
Vai deixar alguém na mão.
Vai voar pelos ares,
E virar lar de outro alguém.

O vento vai virar o mês,
E eu me virei não sei como.
Nem sei como eu vou me virar,
No próximo mês outra vez.

Vou falar com meu amigo gari,
E pedir truques e dicas,
De como dar vassouradas por aí.

Preciso limpar e faxinar,
Meus arredores e interiores.
                                                 Setembro 2014



terça-feira, 2 de setembro de 2014

Caneca se fervendo

Eu observo o leite fervendo,
E já faz tempo.
Eu observo e nada faço.
O que faço é observar,
O leite a borbulhar.
Desde o início do ser humano,
O leite vem se esquentando.

Parece vulcão enfurecido,
Que outrora estava adormecido.
Quando o gigante desperta,
Todo mundo se desespera.

Mas a caneca é toda aberta,
E não esconde nada de ninguém.
Ela é vítima e não tem culpa.
Nessa realidade,
Todos são vitimados,
Todos são culpados.
O mais inocente é o fogão,
Que só esquenta a situação.

E o leite passou da metade,
E nós passamos das medidas.
E todos ficamos de boca aberta,
E de braços cruzados.
Quero ver até onde isso vai dar...
E não dá outra!
Agora basta uma distração,
Com a situação,
Pro leite se escorrer pelo fogão,
E se esparramar pelo chão.
A situação pediu um basta!

O fogão abriu suas bocas,
E o calor avisou pelos polos.
A caneca apitou,
Mas ninguém esquentou.
As geleiras se derreteram por nós,
E nós respiramos fundo pela Amazônia.
O buraco se abrindo lá em cima,
Era sinal que o buraco é mais embaixo!

Agora não dá mais tempo,
Pra pedir um tempo.
Agora é só sentar e chorar,
O leite que vai derramar...
Setembro 2013