segunda-feira, 11 de maio de 2015

3,50

Ele juntou suas moedas
Não era bastante
Não dava nem um montante
Contou e recontou
Dava mas quase faltava
Era suficiente, mas não sobrava
Pra suprir aquela urgência
Para o estômago era emergência
Para o bolso era uma deficiência
Ele confiava e contava
Com aquelas moedas
Um olho conferia o dinheiro
O outro cobiçava o alimento
O coração se entregava àquele momento
E o estômago na carência do sustento

Que pane geral
Que pânico matinal...
Ou já era noite
Caindo feito foice
E pesando sobre os ombros?
Quando a fome bate lá dentro
Do lado de fora
O estômago só quer um acalento

Se o dinheiro não der
O sono é um alimento
Dormindo a fome dá um tempo
Acordado, o tempo é um tormento

O dinheiro deu
Mas na vida nada é dado
E ele comprou aquele salgado
Então ele sentiu-se digno
Ele não era nenhum bandido
Nem um maltrapilho
Talvez um simples mendigo
Em busco de um motivo
Pra manter-se vivo

Aquele foi um jantar de boa noite
Quiçá amanhã seja um dia bom
Talvez a vida seja bela
Mesmo numa situação daquelas
Mesmo sem poder contar
Com algumas moedas
                                                     Maio 2015

O dinheiro deu
Mas na vida nada é dado

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Farelo de pão

Depois do café da manhã
Ficam apenas os farelos de pão
Pelo chão
Quem nos observa
É o nosso cão
Já perto do chão
Esperando o que sobrou do pão

Nós pensamos
Que nos preocupamos
Com o que importa
E quando não jogamos fora
Lhes damos nossas sobras

Quem nos observa
E que fica de olho
É apenas um cachorro
De raça ou sem dono
Sarnento ou pulguento
Treinado ou mal tratado
Não importa
É apenas um animal
Em seu habitat natural
Lá bem perto do chão
Esperando o que sobrou do pão

Mas tem Um
Que está em outro lugar
Que nos observa pra cuidar
Se o farelo que oferecemos
É o melhor que temos

Às vezes somos mesquinhos
O farelo nós dividimos
Mas guardamos para nós
O que achamos que é o melhor

Quem vive oferecendo farelos
A vida devolve migalhas

Está escrito
O que digo não é castigo
É o que pode acontecer
Com você e comigo
Só isso
                                                 Maio 2014




Quem nos observa
E que fica de olho
É apenas um cachorro



segunda-feira, 4 de maio de 2015

Se meu Fusca voltasse

Olhando de frente
Ele parece gente
Ele é simples
E parece gente igual à gente
Olhos grandes e redondos
Para-choques risonhos
Sujeitinho amistoso
Quem nunca teve um?
Se não teve já andou em algum

Ele se foi
Mas continuou com o povo
O irmão mais novo
Tem capô empinado
Tem cara de metido
Virou o New Beetle
Até difícil de pronunciar isso!

Aquele antigo
O irmão mais velhinho
Tinha a cara de uma nação
Representou uma geração
Era a cara do básico
Ele era o necessário
Jeitão operário e assalariado
Mas nem por isso
Nos sentíamos menos valorizados
Com o Besouro
O resto era ouro pra tolo

Ê época boa sem preconceito
Ele até virou o Fuscão preto

O meu era branco
Igual minha conta no banco
Todo pelado e básico

E se ele falasse?
Talvez ele dissesse muitas verdades
Talvez não fosse mais unanimidade
Talvez perdesse sua humildade
Talvez fizessem dele uma obscuridade
A época exigia serenidade

Carro bom foi aquele
Conheceu o mundo
Rodou muito
Viu de tudo
E falou pouco
                                      Maio 2015