terça-feira, 30 de outubro de 2012

Bate, bate TERCEIRÃO

O ano inteiro é TERCEIRÃO.
Palavrão carregado e guardado,
E dentro do peito fica amordaçado.
Ano após ano,
Um montão de coisas,
Foi sendo guardado e estocado,
Bem aqui dentro ficou sufocado.
Falar tudo não dá.
O ano inteiro o grito ficou lá dentro.
Quando chegar dezembro,
A Terra vai abalar por inteiro.
Calma que não é fim de mundo, não,
Chegou o mês e a vez do TERCEIRÃO!

É época de lembrar o BE-A-BÁ,
Até os pesadelos de física e química.
Lembro-me das apaixonites agudas,
E dores de cotovelos absurdas.
As colas que não deram certo,
E as cabuladas que às vezes davam certo!
(Mas, pai, eu nunca tirei zero!)
E a matéria quase decorada,
E, que raiva, nunca caia na prova!
Enquanto isso dentro de mim tudo se renovava.
Meu corpo e cabeça mudavam,
Às vezes eu pensava: o que há de errado?
Sou criança, sou adulto?
Ah hormônios, hormônios!
Pra que tantos?
Espinhas, pelos e cabelos!
Ufa, isso não é justo!

Aliás, justiça é o que a gente procura.
Mas acho que não conhecemos a vida adulta,
Por que pai e mãe estão sempre na labuta,
E parece que essa luta não acaba nunca.
E se estou aqui hoje,
É porque não é de hoje,
Que a luta de vocês é de dia e de noite.
Mas quando eu soltar meu grito,
O de pai e mãe vai estar incluído.

Por isso e por muito mais,
TERCEIRÃO não é pra qualquer um,
Mas qualquer um, um dia pode ter um.
Por tudo isso, mas por muito mais,
É que TERCEIRÃO é camiseta pesada.
Ela não é feita de pano,
É feita de coração humano.

TERCEIRÃO,
É camiseta de força e raça!
É camiseta que bate fundo,
Pois segura no peito,
Um coração adolescente, mas valente,
Batendo, batendo forte,
Louco pra bater pra sempre.

Esse batidão ninguém ouve,
Mas eu ouço.
É som que pai e mãe ouvem também.
Mas só Deus ouve,
E só Ele que mantém,
Esse meu coração TERCEIRÃO,
Batendo cada vez mais forte,
Para o mundo e para a vida,
Por toda a minha vida.
Coração TERCEIRÃO é pra vida infinita!
                                 Outubro 2012

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

El vuelo de Arthur

Para mi hijo, Arthur, que tenía 13 años cuando viajó de avión por la primera vez, solo.
Gracias, José Bertoldi, por su ayuda en la traducción del texto.
_______________________________________________________________

Mochila,
En el pecho, un corazón valiente.
  Navegantes, ansiosamente lo esperaba.
  El vuelo 1082 nunca más será el mismo.
En la bolsa tenia el kit  joven:
Pelota, cepillo de dientes y valentía.
  El avión desafió la gravedad,
  Y usted confiaba en su juventud.
Ustedes dos seguían y destruían los obstáculos.
Las nubes salían del camino,
En respecto a sus progresos y logros.

Esto es juventud.
Colóquela en tu mochila,
Pero que ella no sea una carga.
  Que ella sea leve,
  Tan leve cuanto un avión,
  Que desliza suave su fuselaje,
  Y sigue respetuoso por el aire.
Vive tu juventud con juicio,
Así como un pesado “asa-dura”,
Que vive con los pasaros,
En el entorno que es extraño.

Y en su vejez,
Que su aterrizaje,
Sé como la caída de una pluma.
  Y cuando miras hacia arriba,
  O atrás,
  Usted puede decir:
  - Gracias, Comandante,
  Fue un buen vuelo!
                                                        Julio 2011



quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O fura fila (ou double F)

O 2f’s sempre se sente na vez.
Pra pagar ou pra receber,
Ele nunca se importa.
O outro que espere a sua vez!
Esse ‘esperto’ parece político:
Para furar a fila, arruma um ‘amigo’,
Mas ao chegar a vez ele dá um sumiço,
E o ‘amigo’ fica a ver ‘político’.

No trânsito ele é todo sorridente,
Costura um, costura todos.
Lá na frente dá seta,
E ‘pede licença’ aos obedientes.

Acostamento é espaço reservado;
Pisca alerta é álibi perfeito;
A calçada é tapete vermelho;
Sorrisinho conserta tudo;
Cafezinho compensa mal-entendidos;
Mas o olhar de cada um,
Condena, denuncia e entrega.

Eles dizem:
Quem pega fila é otário,
E se auto-rotulam todo sábio.
Sábio é quem inventou a fila única.
Mas o sabichão sente-se o único na fila;
Ele e seu umbigo sujo.

Só ela tem a casa pra limpar,
Apenas ele tem de ir trabalhar,
Só e somente o ff tem que almoçar.
Os outros, o resto,
Pegam fila e ficam de pé,
Por não ter mais o que fazer.

Os ‘otários’ são figurantes,
Neste filme estressante,
Onde o ff é o ator principal.
Que bom que o deficiente está a garantir,
A vaga dele para estacionar.
O idoso não tem o que fazer,
E fica na fila em reserva pra ele.
Quem guarda seu acento é a gestante;
Ela é só mais uma coadjuvante.

Fila não é pra qualquer um.
É para um escasso número de gente,
Que se preocupa com o deficiente,
Que estima o idoso;
Ou simplesmente,
Que é respeitoso.
Quem obedece a fila,
Sempre vê o próximo bem próximo.

O elemento que fura fila,
Esvazia a si próprio,
Enche o saco de todos,
E estoura paciência do próximo.
Quem fura fila,
Também é portador de uma ‘deficiência’,
E tem lugar reservado:
Ele merece ficar isolado,
No final do fim da fila.
                                        Outubro 2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Calendário temerário

Tem presente que o embrulho,
É melhor do que o conteúdo.
Tem gente que dá presente,
Mas prefere ficar ausente.
Tem gente que se apega ao calendário.
Se não presentear naquele dia marcado,
Melhor cavar um buraco.
Se não receber presente,
Naquela data tachada,
A pessoa fica enfunada,
Sente-se esquecida e amargurada.
O calendário é um monstro,
Com inúmeros números,
Ditando normas e rumos.
Cria datas fictícias e maléficas.

O calendário tem seu tutor,
O comércio é seu grande impressor.
Dependendo da data fincada,
O regalo pode ser,
Qualquer bugiganga.
Depende dos cifrões na etiqueta;
E da estampa do bicho costurada,
Com a boca de jacaré escancarada,
Pendura no peito pra ser mostrada.

Parece que você vive acorrentado,
E a bola de ferro é o calendário.
Enquanto você chora,
O comerciante vai à esbórnia,
E pouco se importa.

Tem data festiva e comemorativa,
Dia do pianista e da lamparina,
Dia da tia e daquela patativa,
Dia da locomotiva e da recepcionista;
Dia do malabarista e do contrabandista;
E na lista inventaram até dia da mentira!

O importante é presentear,
É presentear sem se importar,
Deixar calendário pra lá,
E se desapegar,
Àquelas datas fixadas e impostas.
De repente entrar na loja,
Comprar umas balas,
Ou um colar de jóias.
O comércio ganha porque vendeu,
O regalado ganha porque recebeu,
Você ganha porque ofereceu.
O calendário e seus números,
Ficam confusos e obtusos,
E vai se perder em meio a seus números.
                                               Outubro 2012


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Som sem cilindradas

Eu era pequeno, mas me lembro,
De um cantor com coração dividido:
Um Cadilac novinho,
Ou um calhambeque antigo?
Que situação complicada,
Meu amigo camarada!

Os anos avançaram,
E os anos 80 chegaram.
Um cantor brega cantou,
A amargura que ficou,
Por causa do seu Fuscão traidor.
Também naquela década,
Eu já tinha mais de 18,
E me lembro do Opalão 78.
O meu irmão me ensinava,
A dirigir aquela máquina.
Se eu me irritava e xingava,
Ele, calmo, me dizia: vai com calma.
Enquanto isso uma loirinha sem demora,
Cantou que ia de táxi, e foi embora.
Fez que foi, mas não foi.

Chegaram os anos 90,
E algo estava errado com as notas,
Desacordos com os acordes,
E as cifras negativas batiam recordes.
E de uma oficina,
De uma planta assassina,
Reformaram uma Brasília,
Com cor amarelinha.
Ela andou um pouco e parou.

E uma nova era chegou,
E o ano 2000 mostrou,
Que tudo piorou,
Que na mesma tudo ficou.
Com a conta toda avermelhada,
Quis arrumar a ‘casa’,
E entre otimismos e melancolias,
Investi minha melodia numa Brasília.
Não era amarela, mas era branquela,
E nunca bateu biela.
Ela bateu muita borracha,
Pelas ruas e estradas.
Isso porque ela nunca fumava.
Seu giclê ainda vai abrir e fechar,
Enquanto seu carburador respirar.

E a década virou e avançou,
E a boa música foi para o ferro-velho.
Parece que o amarelo,
Voltou e virou moda.
Pode parecer anedota,
Mas o Camaro tá ruim das rodas!
Virou um hit pior do que ruim;
Pobre do Bumblebee.
Transformaram o robô camarada,
Numa frigideira enferrujada.
Isso é Ridículus Prime!

Quem diria, do Fuscão preto,
Dá uma saudade danada!
Música boa cada vez mais rebaixada.
E a qualidade,...
Põe a mão no pneuzinho...
E vai deçendo, vai dessendo,
Vai decemdo até o xão...
                                             Outubro 2012

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Der Flug von Arthur

Für meinen Sohn, Arthur, der 13 Jahre alt war, als er zum ersten Mal mit dem Flugzeug allein reiste.  
Dank an Sandra Gutz und Alexander Kienle für die Hilfe bei der Übersetzung des Textes.
_______________________________________________________________
 
Auf Deinem Rücken trägst Du den Rucksack,
In der Brust ein tapferes Herz.
   Der Flughafen Navegantes wartet  sehnlichst auf Dich.
   Der Flug 1082 wird nie mehr derselbe sein.
Im Rucksack war das Jugendgepäck:
Fußball, Zahnbürste und Mut.
   Das Flugzeug trotzte der Schwerkraft,
   Und Du vertrautest auf deine Jugend.

Ihr beide räumt alle Hindernisse.
Die Wolken gingen aus dem Weg,
Sie respektierten Deine Fortschritte und Erfolge.

Das ist die Jugendzeit.             
Pack sie in Deinen Rucksack,
Es soll keine Belastung sein.
   Es soll leicht sein,
   So leicht wie ein Flugzeug,
   Das reibungslos seinen Rumpf gleitet,
   Und erhaben durch die Luft fliegt.
Lebe Deine Jugend mit Verantwortung,
Wie ein schwerer "harter Flügel",
Der unter den Vögeln lebt,
In einer fremden Umgebung.

Und im hohen Alter,
Hoffe ich, wird Deine Landung,
Wie der Fall einer Feder sein.
   Und wenn Du hoch schaust,
   Oder zurück,
   Du sagen kannst:
      "Danke, Kapitän,
      Was für ein wundervoller Flug!"
                                                       Juli 2011

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Imigrantes

Vida de imigrante não é fácil, brother.
Tem uns que viajam em embarcação,
Balança pra lá e pra cá no porão.
Uns viajam no caminhão,
Feito uns cabra da peste,
Do nordeste pro sudeste.
Dependendo da situação,
Outros vão de camburão,
E migram de condição!

Eu fui imigrante,
Lá no norte do fim do mundo,
Em terra de gringo.
Fui de avião,
E em Danbury cheguei no verão.
Igual quem desce do norte,
E em São Paulo tenta a sorte,
Eu fiz caminho contrário.
Desafiei o fuso horário,
E fui subindo o mapa.
Da minha vida foi mais uma etapa.

Gente estranha,
Comida diferente,
Palavras que a gente não entende,
Escrita que confunde a gente.
Mas lá vivi quatro anos,
E fui tratado igual gente.

Quando eu digo,
Que morei naquele lugar de gringo,
Muita gente ouve e diz que sou metido.
Levar os tombos que eu levei,
Chorar as lágrimas que eu chorei,
Calejar os calos que eu calejei,
Ser eu do que jeito que eu tive de ser,
Aí ninguém tá a fim de encarar.
Disposição é só pra falar e cuidar!

Passou o tempo,
E voltei pra minha gente.
Era dia 10 do mês e voltei em 96.
Igual nortista que larga o sonho,
Ou nordestino que encontrou desencontros,
Que lá na rodoviária pega o ônibus,
E volta pra sua realidade,
Também desci o morro,
E voltei pra minha cidade.
Tem realidade que é pura futilidade,
Ou o contrário também é verdade.

Realidade cada um tem uma.
Brasileiro também tem a sua,
E eu tinha a minha.
Eu larguei pesadelos e sonhos.
Ora atrapalhavam meu sono,
Ora não me deixavam dormir.
Aí eu caí num sono profundo,
Quando não vi, estava em meu país...
Ou dos outros?

Sei que é triste e esquisito,
Mas é engraçado dizer isto:
Às vezes,
Me sinto mais gringo,
Aqui em casa, onde vivo.
                                                 Outubro 2012