terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Dia 26

Dia 26 de Novembro de 2016 a Amanda e o Rodolpho se casaram. Foi um belo evento realizado ao ar livre. Aquele sábado amanheceu chovendo, mas às 10:00 horas da manhã tudo estava seco e pronto para o início da cerimônia. Parabéns aos noivos e que eles sejam felizes com as bênçãos de Deus Jeová.
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Chegou
Finalmente o dia combinado
O calendário marcado

Chegou com cara fechada
Fazendo fachada
Se fazendo
A noite acabava
Mas a manhã não chegava
Quanta demora
Parece que o dia perdeu a hora

Mas amanheceu o dia
Com cara de outro dia
Nublado e emburrado
Enfunado e acinzentado
O clima não queria dar clima
E o sol não queria ficar lá em cima
Eita sábado com cara de segunda
Parecia música
Que não agrada ninguém
Chegou o dia 26
Será que vai ter November rain?

O céu tinha muitas dúvidas
E o sol e a chuva
Foram derrotados
Deixaram o palco
Mas o céu ainda estava chateado
Com vontade de molhar o gramado

Que mistura esquisita
De azul com cinza
Mormaço e brisa
Cenário enfeitado ao natural
Com chuviscos de folhas
Em penteados bem adornados
E vestidos bem cortados
Ternos e suspensórios
Gravatas parecendo borboletas
Flores na lapela
Saltos altos
Comprimento abaixo
Nada incomodava
Era uma data
Que não era conto de fadas
Mas era história verdadeira
De pessoas verdadeiras
Acostumadas com a verdade

Os dois sorriam igual um menino
Prestes a ganhar um carrinho
Enquanto a paisagem ao fundo
Emoldurava todo mundo

A grama era o piso
Arbustos se acortinavam
Pelo alto árvores nos abraçavam
Pássaros faziam o som acústico
Daquele ambiente rústico
Até o balanço se alegrava
E balançava pra lá e pra cá
Tudo ao natural
Nada era artificial

Quanta expectativa
Que dava um frio na barriga
E fazia suar a camisa
Tudo isso pra ver a noiva
E ela veio de branco
Andando e flutuando
E às vezes pisando
Em pétalas pelo campo
E ela desceu a ponte de madeira
Com o Janga à sua direita
Em poucos passos
O pai confiou sua filha aos cuidados
De um jovem
Que já era homem formado
Ele vestido de blazer azul
E sorriso na cara
As mãos não tinham lugar
Ora no bolso
Ora vendo a hora chegar
E a noiva chegou
E o pai a entregou com um beijo
E o novo homem a recebeu com respeito
Era tudo perfeito
E o violino riscava o ar
Com passarinhos em coro a cantar
E eles se sentaram juntos
Pra ouvirem o discurso
Isso era o mais importante de tudo

E a aliança
Foi para o dedo do Rodolpho noivo
E a aliança
Foi para o dedo da noiva Amanda
Caiu como uma luva
Que se mudou da mão direita
E foi parar na mão esquerda

Alguns choravam
Outros sorriam
E todos assistimos
Quando eles subiram
E depois sumiram
Por detrás da ponte
Pra onde?
Foram fazer registros
Para no futuro
Se lembrarem de tudo isso
Com as peles enrugadas
E fotos amareladas
Eles vão olhar e relembrar
Do dia que eles venceram o clima
O dia que tinha cara de outro dia
O dia que amanheceu cinza
O dia que Jeová parou o dia
Para vocês começarem a vida
Vocês se lembrarão
Daquele dia
Que mudou suas vidas
Dezembro 2016



Vocês se lembrarão
Daquele dia
Que mudou suas vidas


quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Quando éramos cinco

Eram três filhos atrás
E dois pais na frente
Na Brasília branquela
Ou no Corsa preto parecendo berinjela
Carro sempre cheio de gente
Assim foi por muito tempo
Por um bom tempo sempre foi assim

E assim também era em casa
Sempre enchia
Nunca esvaziava
Sempre tinha alguém chegando
Sempre tinha alguém saindo
O portão era educado
A campainha sempre gritava
O telefone não se tocava
E sempre nos chamava
Panelas eram tipo caldeirão
Quando quis comprar uma menor
Quase arrumei confusão
Era sempre mais água no feijão
Pois,
Pra confirmar o que estou falando
Tinha mais gente chegando

O guarda-roupa nunca dava
Espaço sempre faltava
Os cabides já não aguentavam
Nas gavetas as camisetas brigavam
As gravatas se enrolavam
Os sapatos se pisavam
As meias furavam e se confundiam
As calças trançavam as pernas
Mas as cuecas...
Ah, essas nunca se misturavam
Até peças da peça do Paulinho
Apareciam no meio desse ninho

Era um entra e sai
De gente e adolescentes
De pessoas e crianças
Com o passar dos anos
De adultos e humanos
E lá se foram as fases e frases
De filhos e crias
De Clei e Cris
Ou simplesmente
Dolfo, Teus e Tuli
Mommy and daddy

Mas a casa vai esvaziar
E já começou a anunciar
Ainda bem que é devagar
Senão o coração pode não aguentar
E pode parar de batucar
Esse é o samba da vida
Onde a gente sempre dança
Mesmo quem não sabe bailar
A vida chama pra dançar

Mas vamos em frente
Que tá chegando a hora
De chegar mais noras
A fila da família anda
Pois já chegou a Amanda
Mantenham a calma
Também chegou a Laura
E no meio do zoom
Veio a Mel do sul

Cris, abra a porta
Não pra facilitar
Nem pra dificultar
É só pra exercer a função
Sem remuneração
De cuidar das nossas heranças

Quem sair por último
Feche a porta
Mas deixe-a destrancada
Eu e a mommy
Estaremos na sala
Relembrando os fatos
Olhando as fotos
E rindo...
De quando éramos cinco
Novembro 2016



Olhando as fotos
E rindo...
De quando éramos cinco

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Rua branca de neve

Me lembro do inverno de 93
Naquela casa de esquina
Bem ali na Triangle street
Aqui dentro era quente
Lá fora era frio
A rua era branca de neve
A paisagem era de Hollywood
A casa era em Danbury
A foto era de cinema
E os sentimentos eram reais

A rua era branca de neve
Mas quem observava
Era a família Naves

Da janela da sala
Eu me escondia
E a Cris comigo observava
E o Rodolpho brincava
E o Matheus, a gente nem planejava
E aquela família falava
De casa em casa
Do outro lado da calçada

O tapete de algodão
Se estendia e cobria aquele chão
E acomodava os pés que mereciam
Aqueles que eu nem conhecia
E olha que eles nem me viam
Mas me faziam entender
O que deveria ser meu dever

Eles cuidavam de suas vidas
Ajudando outros
A saírem de suas esquinas
E eu lá dentro na minha
Enquanto tudo isso acontecia

O sol forte naquele fim de semana
Deixava a neve mais branca
O sol forte e calor ameno
Não aquecia aquele inverno
O farenheit estava negativo
Com mensagem positiva

Que frio intenso
E eu lá dentro

Gente bem vestida
Mulher de bota e vestido
Homem de terno e sobretudo
Pouco falavam, mas diziam muito
Pequenas crianças
Compartilhando esperanças                  
E eu lá dentro
Observando aquele exemplo

Nada era encenado
Mas aquele momento ficou marcado
E aqui dentro ficou guardado
Muitos anos se passaram
E aquela cena não passou

E eu lá dentro
Me protegendo
De coisas que um dia
Eu também estaria fazendo
Novembro 2016

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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Envelhecido

Escrevi observando como os anos chegaram todos de uma vez para a minha mãe.
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Os brancos
São pratas da casa
Fio por fio são contados
E pintados
Pintura e tintura
Feitos com anos de paciência
Com a regência dos anos

E o tempo passa
Por cima de tudo e de todos

Sensação estranha no ar
Que agora o tempo vai mais devagar

As madeixas
Se deixam mais fáceis de pentear
E de se ajeitar
Os brancos dos fios
De início
São rebeldes enrustidos
Quando não somem depois são assumidos
Nem precisa dar tempo ao tempo
O tempo é encarregado dos anos
Ou o contrário
Diz esse velho ditado
Sempre atrasado
Com relógio adiantado

É tanta vida vivida
Que a pele se enruga
Rugas de vida dura
Vida que a gente atura
Pele com rachaduras
Qualquer bengala ajuda
Nessa longa caminhadura

É muita coisa pra se lembrar
Dos anos vividos
De tempos idos
Tempos esquecidos
Do que se fez
Do que não se fez
Agora é fazer o que dá pra fazer

Aviso aos jovens forever:
Hoje em dia
Ninguém acorda o dia de hoje
Mais novo do que ontem

Ninguém se lembra
Do que
E de quem foi esquecido
Do envelhecido
Quem passa por isso
Tem uma certeza latente:
Que ainda lhe corre
Um sangue quente
Vermelho de vontade de viver
Com sua paciência e minha calma
Pra cuidar de nossa alma

Setembro 2016


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É tanta vida vivida
Que a pele se enruga


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Num banco de praça

Num cair de tarde, eu vi um homem num banco de praça. Acho que ele me olhava, mas não me via... ou não se importava.
Eu o observei e escrevi...
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Ele tremia e mal dava
Pra enrolar o cigarro de palha

No bolso uma garrafa de cachaça
Na mão uma cerveja em lata

Pernas cruzadas
Naquele banco da praça

Bochechas rosadas
Devido à “água” que ele tomava

A idade não era avançada
Mas a barba rala
Estava esbranquiçada

Ele olhava
Mas acho que não via nada
Ou talvez nem se importava

A multidão passava
E o ignorava
Na verdade, o evitava

Roupas esfarrapadas
O sujo o adornava
Nem um cachorro o acompanhava

A solidão que não o deixava
Essa sim
Era quem ouvia a sua fala
Muitas palavras
Mas não queríamos entender nada

Roupa folgada
E barriga apertada
Calça e vida rasgadas
Naquela cidade esfumaçada
Enquanto a fome o atormentava
A cana o acalmava

Fragrâncias da semana passada
Eram suas marcas registradas
De longe eram anunciadas
Pra quem ia e vinha pela calçada

A noite de longe já o observava
E lhe preparava a madrugada

Como seria aquela noitada
Para aquela pobre alma –
Comigo eu me perguntava

Eu iria pra casa
Para minha família que me esperava
Minha refeição já estava preparada
Roupa lavada e passada
Uma cama toda arrumada

Mas e aquela pobre alma?
Só uma certeza lhe era assegurada
Que a madrugada cairá pesada
Não será sossegada
E sem garantias de nada
Talvez nem o luar dê as caras

Talvez horas e semanas acumuladas
Todas já misturadas
Em copos e tragadas
Não significam mais nada de nada
Para aquela pobre alma
Naquele banco de praça
Agosto 2016

Ele olhava
Mas acho que não via nada



sábado, 9 de julho de 2016

Tocha humana

A tela é pequena
Em poucas polegadas
Quase não cabendo naquela caixa
Ouço noticias das olimpíadas
Se não fossem sérias seriam piadas
Se não fossem trágicas seriam hilárias

Uma tal de tocha
Ficou chique e famosa
Aquele palito de fósforo gigante
Virou algo imponente e importante
Penso com meus botões faltantes:
Ela deveria usar gravata
E traje de gala
Já passeou de carrão e de avião
Teve escolta de caças
E segurança armada
Que baita celebridade de primeira página!
Vou pedir a essa dona tocha
Um autógrafo em minha camisa rasgada

E eu vejo todo reticente
Um amontoado de gente
Escancarando os dentes
Querendo sair na foto
Junto do fogo ambulante

Vendo toda essa farra
Lampião diria na cara:
Oxente meu povo
Praquê todo esse alvoroço
Por um punhado de fogo?

E a TV continua falando
E passando o recado
De um tantão de dinheiro arrecadado
Ajuntado e direcionado
Para as olimpíadas no Rio
É o que diz aquele resto de TV
Que está por um fio

O banco é de madeira
E a sala é pequena
Mas eu fico ali sem reclamar
A postos no posto
Afinal,
O dia dessa consulta custou a chegar
Afinal,
Não sou um fulano importante
Igual àquele fogo chamejante

E o horário nobre continua reportando
Por onde a tocha estará passando
Onde há fumaça
Há coisa errada

Fala a verdade:
Cada nação enaltece
A personalidade que merece
Julho 2016


sexta-feira, 17 de junho de 2016

Manda chuva

Chuva devia fazer dieta
E cair na medida certa
Mas se algum humano reclamar
E falar pra ela cair devagar
A chuva vai responder sem gotejar:
A culpa é sua, criatura!

Não quero insinuar nenhum parentesco
Mas prefeitos e bueiros
Perdem o sono o ano inteiro
Quando desce o aguaceiro

Chuva não age antes de avisar
E avisa antes pra gente agir
Quando o céu tá escuro
Em nuvens sisudas e carrancudas
Pode saber que aí vem chuva
Aumentam as preocupações
Se tiver raios e trovões

Chuva na cidade
Apesar da modernidade
Ainda tem um glamour
Que lembra champanhe e liquor
Os faróis dos autos
Brilham no asfalto
E o tapete de luzes
Faz a noite dançar na chuva
E a lua ciumenta
Também brilha a sua silhueta
E brinca de brilhar
Até a chuva secar
Até o sol raiar
Até o sol ralhar

Mas o caos do trânsito
É um defeito colateral
É coisa fora do normal
Tira a paciência
Às vezes com violência
E a chuva antes galã
Vira vilã
E lá se vai sua beleza
Nossa dureza
Deturpa a chuva
E ela escoa moribunda
Em qualquer bueiro poluente
Somos nascidos mal agradecidos
Nem percebemos os benefícios
Nem os presentes recebidos
Que desce do céu
Ou brota da terra

Nem dizemos um obrigado
A Deus por tudo isso nos dado
Merecendo ou desmerecendo
Chuva e sol são regalos
Que caem bem no nosso quintal
Quando não cair mais
Então será tarde demais
Talvez um chuvisqueiro
Soará como um aguaceiro
Junho 2016


Chuva não age antes de avisar
E avisa antes pra gente agir

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Conta gotas

Toda goteira
Parede tortura chinesa
Aquele pinga, pinga
Parece bebum no buteco da esquina
Pedindo cachaça na faixa
Cada gota que cai
Parece bomba lançada
No chão lá de casa
O som da goteira
Incomoda os ouvidos
E dói em meu bolso sofrido
Mas cá com meus encanamentos furados
Até a goteira tem trabalhado
Enquanto eu continuo desempregado

À noite eu sou conta gotas
Preferia contar carneiros
Em busca do sono perfeito
Gotas noturnas com insônia
Ivadem a madrugada
O escuro não é páreo
Para essas saraivas que vêm do alto
Isso enche o saco
Transbordam baldes
E enchem bacias

Preciso de um encanador
Ou um empregador
Pra tapar vazamentos da vida
Me debruço sobre os classificados
Em muitos dias dedicados
Mas os anos se passaram
E minhas goteiras
Continuam fiéis companheiras
Tô dando nó em pingo d’água
Nessa luta árdua

Nessa fase da vida
Meu mundo quase perfeito seria
Canos sem vazamentos
Chuveiro quente
Torneiras sem goteiras
E registro na carteira
Junho 2016



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quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ah, braços!

Ah, braços
Que te quero abertos
Para se fecharem em abraços

Ah, braços
Que depois de fechados
Parecem laços
Em forma de abraços

Ah, braços
Que chegam secos
E saem molhados
Às vezes encharcados
E lá
Entre os braços
Vem um peito todo cheio
Para o aconchego

Ah, braços
Que chegam inteiros
E saem aos pedaços
Por terem se dado

Ah, braços
Que rodeiam e dão a volta
Vão longe até as costas
Costas outrora dispostas
Agora cansadas

Ah, braços
Que vêm com pacote fechado
São os ombros que chegam
Pra dar suporte aos abraços

Ah, mas nem precisa ter braços
Para alguém se doar
E oferecer seus abraços
Ah, braços
Junho 2016

Ah, braços
Vão longe até as costas