sábado, 22 de outubro de 2011

Lápis e caneta

Caneta companheira.
Ela vira um sexto dedo.
Na escola nos ajuda a tirar dez,
E não tem culpa se tiramos zero.
Na adolescência,
Vive canetando o que se passa,
Com o coração.
Amor, ciúme,
Ou doenças no cotovelo.
Num guardanapo no bar,
Ou na folha do caderno,
A caneta não é exigente.
Ela quer descarregar seu conteúdo.
Caneta tem seus caprichos,
Quando escreve é pra sempre.
“Escreveu não leu,
Problema não é meu.”
Não aceita o lápis.
Ele escreve,
Mas sem convicção.
Não tem opinião!
Ela pensa lá com sua tampa,
Letra do lápis é um garrancho.
Vontade de riscá-lo de seu caderno.

Caneta tem sonhos:
Arriscar em ser pincel.
Quer escrever e pichar,
Verdades pelos muros,
Submundos, obscuros.
Talvez ser apreendida e detida,
Viver vida bandida.
Quer ser heroína.
Pura rebeldia, subvertida.
Caneta arrogante.
A maioria se sente,
De puro ‘sangue’ azul...
Mont Blanc ou Bic.
De camelô ou de shopping chique.

Lápis é diferente.
Escreve,
Revê seus conceitos,
E reescreve.
Aceita correções,
E objeções.
Não replica a borracha,
E escreve tudo de novo...
São as borrachadas da vida.
E se for preciso,
Escreve tudo de novo novamente.
Se necessário,
De novo, novamente outra vez.
Sua constituição,
É frágil e humilde:
É madeira de lei ou sem lei.
É camisa de pinheiro.
Na veia ‘corre’ grafite preto.
E se gasta de tanto trabalhar,
Até se acabar.

Conteúdo da caneta,
Acaba e ninguém vê.
Quando vê,
Já está no lixo.
Lápis é simples,
Nasce grande e morre pequeno.
Quantas diferenças.
Mas dentro da mochila,
São iguais e vivem em paz.

A gente vive igual lápis e caneta.
Às vezes falta uma mochila...
                                  Outubro 2011


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Rua dos Jasmins


Rua dos Jasmins,
Era o nome da minha rua.
Rua Amor Perfeito,
Era a rua da esquina.
Que esquina perfeita!
A rua onde eu morava,
Era de terra e muito pó.
Quando chovia,
A lama na rua e na calçada,
Era puro barro,
Na barra da minha calça,
Calça azul marinho.
A bola de capotão,
Era marrom chocolate.
A bola de meia,
Tinha cor de molecada.
O cheiro?...
O mato dos terrenos,
Guardava kichutes e congas,
Havaianas e bolas perdidas;
Pés de amoras fresquinhas,
Pipas e rabiolas destruídas,
Aranhas na surdina,
Pregos e ripas afiadas,
E a certeza de tomar vacina,
Na farmácia da vila vizinha.

Demorou mas o tapete chegou.
E o asfalto aterrou e enterrou,
A terra da minha rua.
E a bola perdeu,
Seu habitat natural.
Mas continuou a pular,
Mas sem levantar poeira,
E passou a balançar roseiras,
E encontrar varais e vidraças.
Os campinhos perderam o jogo,
Casas bonitas ganharam terreno,
Esgotos entraram pelo cano,
E o carvoeiro virou fumaça.

E o nome da rua mudou.
Igual a erva daninha,
Deceparam e desarraigaram,
A flor da minha rua.
Agora a placa lembra,
Alguém importante.
Tão importante,
Que a maioria não conhece.
Acho que foi algum projeto,
Algum trabalho muito importante,
De gente importante,
Que deu pouca importância,
Àquela rua de minha infância.

O bairro ainda tem,
Nome de Jardim Popular.
Mas as pessoas mudaram.
Quem era pequeno ficou grande.
Quem já era grande,
Continua por ali.
Alguns ainda estão lá,
Apenas na memória,
Ou pendurados,
E amarelados na parede.

Que saudade que me dá,
Quando lembro de minha infância,
Na Rua dos Jasmins,
Esquina com a Rua Amor Perfeito,
No bairro Jardim Popular.
                                                     Outubro 2011

sábado, 1 de outubro de 2011

Visão

Me vejo no espelho,
E vejo que envelheço.
Não sou mais novo.
Me vejo entre o povo,
E vejo que sou mais um...
A lutar, a chorar, a reclamar,
A ter esperança e esperar.
Aos trancos e solavancos,
Entre bancos e barrancos,
Andando ou mancando,
Continuo meus avanços.
Na boléia do caminhão vou continuando.
No caminho tudo vai se ajeitando...
Às vezes desajeitando.
Não tem jeito!
É o jeito!
Continuo a ir.
Sem ir,
Não se mantém esperança.

Me vejo igual aos outros.
Mas outros,
Não se vêem iguais a mim,
E assim,
Igualam-se a mim.

Vejo os outros,
E outros me vêem.
Será que gostam,
Do que vêem?
Vejo que eu e os outros,
Temos problemas de visão.
Cadê meus óculos?
                     Outubro 2011