segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Mudanças e andanças

Eu me lembro daquele dia,
Fazia calor e chovia,
E o nosso suor escorria.
Péssimo dia pra mudança,
Mas pra mudança nunca é um bom dia.
O caminhão abriu suas portas,
E recebeu mesa, cadeiras e colchões,
Também levou pedaços de corações.

Vocês tem coragem e vão e vem.
Se precisar voltam e se vão.
Buscam mudar pra melhorar,
Se piorar fazem outra mudança.
Quantas mudanças e andanças!

Eu sei por que vocês vivem se mudando:
Porque é fazendo mudanças que se vive.
Outro motivo explica tudo:
É porque está mudando a cena do mundo.

Vocês não fazem cera nem cena.
Se for necessário,
Vocês mudam e esquecem até salário.
Se necessário for,
Vocês se mudam mesmo se causar dor.

Se for preciso,
Vocês mudam de casa e de serviço.
Se preciso for,
Vocês mudam de vida por amor.

O nome de vocês é Susana e Denis.
A cena de suas vidas muda sempre,
Esse mundo mundano sempre muda,
Mas o amor de Jeová é desde sempre.
E vocês tenham sempre em mente,
O amor Dele por vocês não muda nunca.
                                                   Fevereiro 2014


Mudar é preciso...

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Café Paulistano

Café com leite e pão na chapa,
Numa padaria na Penha ou na Lapa.
Café no Largo do Café,
Pingado na Praça da Sé.
Andar a pé e tomar café Pelé no Tatuapé.
Tomar café e engraxar sapato,
Em frente à Bolsa de São Paulo.
Pra quem está atrasado,
Cafezinho no copinho de plástico.
Café no copo de pinga,
Lá longe, na periferia.
Café na xícara numa cafeteria,
Em plena Avenida Paulista,
Ou em São Miguel Paulista.

Café na caneca na Frei Caneca.
Café com leite no Viaduto do Chá.
Café amargo no Largo 13 de Maio.
Café com pão de queijo,
Tem jeito mineiro.

Café forte pra quem tá fraco,
E café fraco pra quem gosta de café ralo.
Café da manhã,
Pra esquecer o dia de ontem.
Café sem açúcar,
Pra quem bebeu demais,
E não se lembra de mais nada.
Café com liquor,
Depois do sufoco no Metrô.

Café e cerveja no Bixiga,
Combina de noite ou de dia.
Na Liberdade café com saquê,
E ouvir irashaimase* de um japonês.
Café com pastel e caldo de cana,
Na feira livre em Santana.
Café e relax sem nada pra fazer,
E apreciar o aroma do Tietê.
Café no copo e olhar pro alto,
E curtir o rush de helicópteros.

Café no copo sujo,
Pra quem vive debaixo do viaduto.
Que desrespeito,
Pra quem não tem nada,
E perdeu tudo,
Mas é digno como um cidadão do mundo.
São Paulo abre seus braços a todos,
Mas não é a todos que ela abraça.

Minha Sampa, aí vai um pedido,
De quem não tem te esquecido:
Não abandones nenhum filho teu,
Mesmo quem mora num arranha céu,
Na favela ou quem vive ao léu.
*Irashaimase (lê-se irachaimassê) – Seja bem vindo em japonês.
                                                Fevereiro 2014



Café na caneca na Frei Caneca

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Chuvas de Janeiro

Lá fora a chuva cai na rua
Seu álibi é perfeito:
Ela diz que é chuva de Janeiro
Todo mundo aceita
E o povo respeita a natureza
Ai de quem falar algum ai!
Ela tem todo o direito do mundo
De cair e varrer tudo
A gente não tem nada
Mas sempre perdemos tudo

Os governos ouvem tudo isso
Mas não fazem nada
Eles plantam mais um bueiro
O povo fica satisfeito
E espera o próximo Janeiro
Enquanto isso sambam em Fevereiro

As gotas caem e se dividem
Igual cabelo de mulher
Gotas escorrem pra lá e pra cá
E descem pelo meio fio
Iguais fios de cabelo comprido
Se ondulam e cintilam
E brilham na madrugada

As luzes amarelas
Da São Paulo já velha
Iluminam o ar esfumaçado
Mas a chuva segue seu traçado
E desce ladeira abaixo
Igual cabelo limpo e molhado
Com cheiro de xampu importado
E gotas todas juntas
Descem a rua fazendo charme
E vão pela noite adentro
Até cair lá dentro
E se desmancham na boca do bueiro

Lá dentro naquele mundo
Não se vê nada
E não se ouve mais nada
E acontece de tudo
Naquele lugar escuro e obscuro

Use a sua imagem e ação
E diga pra mim
Sobre tudo isso
E o que acontece no fim
                                            Fevereiro 2014


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Pequena Terezinha

A Terezinha faleceu em 07/02/2014 em Apucarana, PR. Mais uma geração que está chegando ao fim.
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Essa noite a lua está pela metade,
Mas o coração de alguns está aos pedaços.
A Terezinha começou o dia dormindo sem abraços.
Tantas coisas acontecendo,
E poucas nuvens nem se deram ao trabalho,
De aparecer para o trabalho.
Até o vento tá meio parado.
E o céu paranaense ficou carente.

O telefone foi amigo e vilão.
Maldito (ou bendito?) és em toda criação...

Daqui pude ver,
Choros e lágrimas escorrerem.
O que pude fazer?
Eu ouvi Angra dos Reis:
‘Uma dor que dói no peito’.

Não tem jeito,
Nada mais podia ser feito.
Desliguei a luz do quintal,
E acendi a luz da meia lua.
Imaginava do que eu lembrava da Terezinha,
E lembrava das histórias contadas.
A mãe e o pai contavam,
Histórias e causos das antiga.

O tempo tem começo, meio e fim.
Eu só sei que não sei do meu tempo,
Mas o que importa no momento,
É que a Terezinha tá de bem com o tempo.
Ela pagou o que devia,
Disso não resta dúvida nem dívida.

Peço perdão, Zé.
Queria estar por aí,
Mas estou aqui.
Sinto e choro por ti.

E a lua se foi,
Meio chateada e meio amarelada.
Hoje tá tudo pela metade!
Eu precisava dela,
Mas essa noite ela não ajudou.
Amanhã o dia vem,
E nem vai perguntar quem se foi.
Quanta frieza em pleno 40 graus!

Eu sei que você saberia, Terezinha,
Que não é nada pessoal.
A vida continua por aqui,
Mas a lembrança por ti,
Pode ser eterna, sim.
                                           Fevereiro 2014

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Festa fantasiada

Mês de muitos reis,
Nos camarotes são os tais.
Rei Momo para muitos bobos,
E os espertos dos bolsos.

Os gringos ricos vêm,
E deixam os ricos mais ricos.
Consomem a pobreza da terra,
Voltam para suas riquezas,
E deixam o primo nas cinzas e tristezas.

Falam que é festa popular,
Mas o povo é que paga pra pular,
Na avenida ou no salão.
Paga até pra ver o rico,
Pelado, fantasiado ou travestido,
Em camarote de marajá,
Bebendo Chandon e comendo caviar.

Brigões, ladrões e beberrões,
Tem nomes simpáticos,
E são chamados de foliões.
À sua disposição,
Tem hospitais e ambulância,
Bombeiros e polícia.
Os impostos tem essa serventia!
Se a população ligar vai ficar na linha;
Senta pra ser atendida;
Quem pula na avenida,
Tem preferência na fila.
Quer ser atendido?
Tem que dar seus pulos!

A TV mostra coisas,
Coisas que dá vergonha de ver.
Roupas chamam tapa sexo,
E o sexo vira comércio barato.
Só tapado não vê o tapa na cara,
Da sociedade que tem vergonha na cara.

Já no dia seguinte,
Tudo isso é atentado ao pudor.
Quem aparecer pelado na avenida,
É vergonha pra família,
E vai dormir na delegacia.

Haja clínicas underground!
Serão muitas curetagens,
Difíceis de contagem.
Preservativos gratuitos,
Não preservam nada,
Nem moral nem família.
Que camisa furada!

Muitos leem e não concordam.
Eu sinto muito mesmo,
Mas pelo menos,
Algo em comum nós temos...
                                                 Fevereiro 2014



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O melhor do pior

Como é bom ver tudo “melhorando”,
Enquanto tudo vai se perdendo.

Tá tudo nos apertos,
E os parafusos todos soltos.

Bons ventos sopram a barca furada,
Da humanidade de ressaca.

A copa se organizando,
E minha despensa se empoeirando.

Aeroportos voando baixo,
Bem lá nas alturas,
E eu aqui embaixo,
Pelas calçadas e suas rachaduras.
O que o pessoal alega,
É a famosa falta de verba.
Pra mim,
Isso é verba pra boi dormir.
Mas eu tenho que continuar,
A pastar e engolir.

A TV preto e branco,
Mostra a dama de vermelho,
Sorrindo e dizendo pelos cotovelos,
Que tá tudo azul na América do Sul.

É gente muito educada,
E pedem pra gente melhorar,
Nossos estádios de espírito...
Me sinto lançado às arenas,
Pro mundo assistir,
Através de suas antenas.
Cá com meus botões faltando,
Acho que tudo é pra inglês vê,
E sair falando.

Tem um povo por aí,
Que gosta de um couro pra chutar,
E um pandeiro pra descer o dedo!
Eu não sou de couro,
Mas já chutaram meu lombo.

Reclamam que reclamo demais,
Mas já vi muito de menos.
E já ouço os tambores e enredos,
Decorados e pelados.
Vem logo, Fevereiro,
Pra uma legião acalmar os nervos,
E esquecer os entreveros.
                                                   Fevereiro 2014