quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Segundas verdades

Toda segunda é dia de histórias,
Dia de anedotas e lorotas.
Histórias bem mal contadas.
Mal ou bem, merecem ser deletadas.
Quantas fanfarrices e idiotices!
Vangloriam-se de tudo que se fez,
Inclusive do que não se fez.
De vez em quando,
De quando em vez,
Quando não se fez,
Faz de conta que se fez.
Dizem a todos,
Que beberam todas e de tudo,
Que deglutiram de tudo e todas.
Podem ser mentiras ou verdades,
Mas com certeza são futilidades,
Tão necessárias para suas vaidades,
Para serem admirados e gabados.
Seu ego incha igual boca de sapo,
Esvazia-se igual balão de festa,
E pode estourar igual pneu careca.
Nas baladas das madrugadas,
Eles juram de pés juntos,
Que ficaram juntinhos com umas e outras,
Mas não se sabe se foi com uns e outros.
Quem pode ter certeza,
Quando se mistura álcool e cerveja,
Pozinhos e cachimbinhos,
Funk e sertanejo,
Universitário ou pré-primário;
Ou rock, pop, xote,
De manhã até de noite,
Ou de noite até amanhecer?
O que vier o pessoal manda ver,
Ou até sem ver!
Só vendo pra crer!
Melhor não ver pra não estarrecer.
Com tanta mistura nas idéias,
Tem-se o vã deleite,
De ter ficado com alguma mileide,
De fresca e tenra idade.
Pobre do Sr. segunda-feira-celebridade,
Se na verdade a beldade,
For uma cotonete da melhor idade.
Nessa deplorável situação,
Como se ter plena convicção,
Do que se come e se bebe?
Nessas noitadas, whisky é paraguaio,
E os comes ‘é’ tudo engordurado...
Às vezes vem cabelo misturado.
Aí só chamando a dupla limpa tudo:
São os irmãos Juca e Hugo.
Haja Engov pra limpar o duto!

Mesmo que suas peripécias sejam verdades,
Que suas noitadas e diárias,
Sejam recheadas com seus agrados,
Uma coisa é certa e é fato:
O vazio de tudo isso,
Vai lhe encher e incomodar;
O fútil até então agradável,
Lhe será detestável e insuportável.
Quiçá isso aconteça,
Antes da próxima segunda-feira.
Tem segunda que dura a semana inteira.
Tem ressaca que dura a vida inteira.
                                                   Janeiro 2012

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Feliz nada novo

Pessoas paradas e vidradas.
Olhos parados olhando a virada.
Clarões e explosões,
Clareiam a escuridão,
Sobre a multidão.
Alinhadas e enfileiradas,
Em pé ou sentadas,
Confortadas ou acotoveladas.
Não se importam e ficam ali;
Estar ali é o que importa.
Ao vivo ou pela TV,
O que todos querem é ver,
Algo que lhes dê um sentido de viver.

Muitos vestidos de branco,
E seus olhos externam seu encanto.
Esperam que as explosões,
Junto com os clarões,
Deixem o velho ano,
E seus enganos,
Para o passado distante,
Em apenas um instante.
Isso é o desejo da multidão,
Com garrafas e copos na mão.
Passada aquela festividade,
Todos voltam à realidade.
Dia seguinte começa tudo de novo,
Na verdade é um dia igual a outro,
E chamam isso de ano novo.
As alegrias e tristezas,
As certezas e fraquezas,
Apenas continuam avante.
Umas irrelevantes,
Outras mais fortes que antes.
Daquele fogaréu no céu,
Daquela noite notória,
Vai ficar apenas imagens na memória,
Misturadas com vodka.
Mesmo o cheiro da pólvora,
Que contamina toda aquela massa,
Vai evaporar como um fogo de palha.
Alguns olhares ferverão em brasa.
Mas depois vem a calmaria,
E a agitação de mais um dia.
Garrafas e vidas vazias,
Ficam jogadas e evasivas,
Quebradas e indecisas.
Sentimentos igual papel,
Ficam amassados e rasgados ao léu.
Todos fragilizados,
Precisamos mais do que fogaréu,
E bombardeios lá no céu.
É champanhe com gosto de fel!
Já é hora de deixar cair o véu!

Infelizmente, novamente,
Agarram-se em algo velho,
Que chamam de ano novo.
Feliz nada novo,
De novo,...
Igual ao de ontem.
                                           Janeiro 2012


domingo, 1 de janeiro de 2012

Cris, mel e abelhas

Você é um mel,
Que escorre pelo favo.
Sem interesse qualquer você atrai,
Abelhas e abelhas ao seu redor.
E você cuida de todos,
E muitos outros mais.
Igual a uma ave,
Você sente pena e abre suas asas,
E cuida e protege todos com cuidado.
Você fala e briga,
Você grita e sorri,
De birra se irrita...
Tudo acontece com sentimentos,
E fortes emoções.
Você vive e quer que vivam.

Você não é de ferro nem aço,
Você é de carne e osso.
Muitas vezes está até o pescoço!
Às vezes se sente no fundo do poço.
Às vezes está frágil e cai,
Mas não valoriza seus ‘ais’.
Quando cai não fica no chão.
Se lhe oferecerem uma mão,
Aceita e agradece.
Se o que oferecem é um não,
Agradece e se levanta.
E em frente é pra onde vai.
Cria filhos e criou sobrinhos,
Cuida dos pais via satélite,
Acompanha uns e outros por internet,
Vigia sogra à distância calculada.
Admitiu-se em várias funções não remunerada:
Passadeira e lavadeira,
Doutora e enfermeira,
Cozinheira e arrumadeira,
Psicóloga e podologa,...
É consultora sentimental,
Conselheira espiritual,
Dá dicas nutricionais,
E com experiência internacional...
Ufa! Você lembra que existe você?
Com o tempo sobra menos tempo,
Para ser mãe o tempo todo.
Tempo também não tem,
Para ficar doente.
Quando adoece não deita,
Fica de pé e faz um café.
A Cris não tira férias de ser mãe,
Também não tira férias de ser Cris.
Já o tanque e o fogão,
Trabalham muito e não param.
Ainda bem que talheres e panelas,
Não tem carteira assinada.
Isso é trabalho escravo!
Todos eles trabalham calados,
Mas querem férias de Cris.
Ela dá de si todo o tempo,
Mesmo quando não tem.
Fica no vermelho consigo,
Mas o importante é o azul de outrem.
Madrugada em hospital,
É quase seu habitat natural.
Quando meu pai voltar e respirar,
Suas mãos não mais tremerão,
E Com firmeza poderá abraçá-la.

Não temos tempo,
E o tempo sempre nos foge.
E eu também quero fugir,
E estar com você,
Até o dia escurecer,
Até a noite clarear.
Ficar com você até esquecer,
A nossa rotina de todo dia.
Ficar com você,
Apenas enquanto,
O poderoso sol dominar o dia,
E a charmosa lua,
Ser a lunática dama da noite.
Você aceita o convite?
Mas antes, lembre-se que a Cris existe!
                                        Janeiro 2012