quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Nosso Paulo

Quem ainda canta Noel Rosa?
Qual mente se lembra,
Da boemia romântica?
Dos sambas melódicos,
Batucados da mesa de bar?
E mais!
Quem ainda canta,
Relembra e tira do violão,
A garoa fina de São Paulo,
O Rio e seu glamour?
Eu conheço um,
E não é qualquer um.
Esse um é xará de São Paulo,
É o querido ‘seu’ Paulo.
Mas sabemos repartir,
E o chamamos ‘nosso’ Paulo.
Patrício ou Patrocínio?
Com certeza é brasileiro,
Pois conhece quase o país inteiro.
É mineiro,
Porque cabeça igual essa,
Não sairia de outra terra.
E a terra foi sempre sua amiga.
Homem da terra e para terra.
Sol e Lua foram seus parceiros.
Seu cabelo caia,
E sua pele ficava com cor de chão.
Quando o Brasil mirava Brasília,
‘Seu’ Paulo ia aos rincões,
E rasgava terras, florestas e grotões.
Furava, espalhava e esparramava.
Escavava, aterrava e tarraplanava.
Um tranco, alavanca pra frente,
Outro tranco, alavanca pra trás.
Aos trancos e barrancos,
Embarreado e suado.
Trator e caminhão,
Humildes obedeciam.
‘Seu’ Paulo tomava solavancos,
E alavancava o progresso do país.
Ele tinha vários braços;
Mecânicos e de carne.
E as pás sulcavam a terra.
A roupa misturava emoções:
E era pó, barro e graxa.
E o coração batia e guardava,
Ansiedades e saudades de casa.

Engenheiros e doutores,
Rendiam-se e lhe tiravam o chapéu.
Paulo, o chapéu velho,
Desbravava e descobria o Brasil.
Injustiça foi feita:
Seu nome eu nunca vi nem lí,
Em livros de histórias por aí.

E eu ouço daqui e acolá,
Filhos, netos e bisnetos,
E outros tantos,
Que nem sei quantos,
Vozes de todos os cantos,
Muita gente falando assim:
Obrigado ao nosso Deus do céu,
Por ter um na Terra,
Trabalhador da terra,
Que lutou e se sujou,
No pó da terra,
E criou e cria filhos,
E outros tantos como ninguém,
Amém.
                                         Dezembro 2011

sábado, 26 de novembro de 2011

Fase caliente

Compreendendo o coração adolescente que, às vezes, aborrece a gente.
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Seque as lágrimas,
E vá em frente.
O mundo roda,
Em volta dele,
E não da gente.
E vai continuar rodando,
Com a gente,
Ou sem a gente.
É melhor com a gente!
Tenha sempre em mente:
Paixão adolescente,
É igual dor de dente.
Dói e como dói, e a gente geme.
Incomoda até o sono da gente.
Chega tipo assim, entende?...
Igual um delinqüente.
Chega do nada,
E quando vê,
Já está na frente da gente.
Depois vai embora de repente.
E leva tudo da gente.
Parece um vulcão incandescente.
A lava desce quente,
E muda tudo à frente.
Parece enchente.
Vem, destrói,
E se sente impenitente,
E bagunça toda a vida,...
Assim, simplesmente.

Cuidado com esmorecimento.
Olha o desalento,
Estufe o peito.
Aí dentro,
Alguém está batendo,
E se debatendo,
E dependendo de você.
Ele é emoção,
Mas você é razão.
Olha o aviso intermitente:
  Cuidado,
  Novas erupções à frente.
                                         Novembro 2011

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Mato Grosso


Estive em Mato Grosso.
Estive por lá,
Em Cuiabá.
Terra de saltaveaco.
Onde a luma alumeia,
E o candeio luta coma a escuridão,
Mesmo quando queima a mão.
  Suor escorre igual chuva,
Pé d’água cai igual pedra,
E no verão a brisa tira férias.
O asfalto parece tampo de fogão a lenha,
Na hora do almoço querendo fritar ovo.
E o asfalto se derrete todo!
Fica todo perrengue.

Foi pouco tempo eu me lembro.
O Marcinho parou no acostamento,
E eu vi jacaré na beira da estrada.
Pobre animal, distante do habitat natural,
Longe do pantanal, destino fatal.
Vi arara de peito amarelo e asa azulada.
Vi caranguejeira da porta da sala.
Eu assuntei o bicho e bastou uma vassourada!
Só não digo quem espantou a danada!

Jotacê é ladino,
Fala cuiabanês,
E seu sotaque não esconde a mineirice.

Por trás das lentes corretivas,
O JC tem olhos de máquina fotográfica,
Suas fotos parecem da África.
Ele bate retratos do fim do mundo.
Mato Grosso é um mundo à parte...
A parte bela verde-amarela.
O grito alto da pintada é um urro,
Talvez chorando seu futuro.

É lá que o país respira fundo,
Limpa os brônquios,
E dá fôlego ao resto do mundo.
                                          Novembro 2011

sábado, 22 de outubro de 2011

Lápis e caneta

Caneta companheira.
Ela vira um sexto dedo.
Na escola nos ajuda a tirar dez,
E não tem culpa se tiramos zero.
Na adolescência,
Vive canetando o que se passa,
Com o coração.
Amor, ciúme,
Ou doenças no cotovelo.
Num guardanapo no bar,
Ou na folha do caderno,
A caneta não é exigente.
Ela quer descarregar seu conteúdo.
Caneta tem seus caprichos,
Quando escreve é pra sempre.
“Escreveu não leu,
Problema não é meu.”
Não aceita o lápis.
Ele escreve,
Mas sem convicção.
Não tem opinião!
Ela pensa lá com sua tampa,
Letra do lápis é um garrancho.
Vontade de riscá-lo de seu caderno.

Caneta tem sonhos:
Arriscar em ser pincel.
Quer escrever e pichar,
Verdades pelos muros,
Submundos, obscuros.
Talvez ser apreendida e detida,
Viver vida bandida.
Quer ser heroína.
Pura rebeldia, subvertida.
Caneta arrogante.
A maioria se sente,
De puro ‘sangue’ azul...
Mont Blanc ou Bic.
De camelô ou de shopping chique.

Lápis é diferente.
Escreve,
Revê seus conceitos,
E reescreve.
Aceita correções,
E objeções.
Não replica a borracha,
E escreve tudo de novo...
São as borrachadas da vida.
E se for preciso,
Escreve tudo de novo novamente.
Se necessário,
De novo, novamente outra vez.
Sua constituição,
É frágil e humilde:
É madeira de lei ou sem lei.
É camisa de pinheiro.
Na veia ‘corre’ grafite preto.
E se gasta de tanto trabalhar,
Até se acabar.

Conteúdo da caneta,
Acaba e ninguém vê.
Quando vê,
Já está no lixo.
Lápis é simples,
Nasce grande e morre pequeno.
Quantas diferenças.
Mas dentro da mochila,
São iguais e vivem em paz.

A gente vive igual lápis e caneta.
Às vezes falta uma mochila...
                                  Outubro 2011


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Rua dos Jasmins


Rua dos Jasmins,
Era o nome da minha rua.
Rua Amor Perfeito,
Era a rua da esquina.
Que esquina perfeita!
A rua onde eu morava,
Era de terra e muito pó.
Quando chovia,
A lama na rua e na calçada,
Era puro barro,
Na barra da minha calça,
Calça azul marinho.
A bola de capotão,
Era marrom chocolate.
A bola de meia,
Tinha cor de molecada.
O cheiro?...
O mato dos terrenos,
Guardava kichutes e congas,
Havaianas e bolas perdidas;
Pés de amoras fresquinhas,
Pipas e rabiolas destruídas,
Aranhas na surdina,
Pregos e ripas afiadas,
E a certeza de tomar vacina,
Na farmácia da vila vizinha.

Demorou mas o tapete chegou.
E o asfalto aterrou e enterrou,
A terra da minha rua.
E a bola perdeu,
Seu habitat natural.
Mas continuou a pular,
Mas sem levantar poeira,
E passou a balançar roseiras,
E encontrar varais e vidraças.
Os campinhos perderam o jogo,
Casas bonitas ganharam terreno,
Esgotos entraram pelo cano,
E o carvoeiro virou fumaça.

E o nome da rua mudou.
Igual a erva daninha,
Deceparam e desarraigaram,
A flor da minha rua.
Agora a placa lembra,
Alguém importante.
Tão importante,
Que a maioria não conhece.
Acho que foi algum projeto,
Algum trabalho muito importante,
De gente importante,
Que deu pouca importância,
Àquela rua de minha infância.

O bairro ainda tem,
Nome de Jardim Popular.
Mas as pessoas mudaram.
Quem era pequeno ficou grande.
Quem já era grande,
Continua por ali.
Alguns ainda estão lá,
Apenas na memória,
Ou pendurados,
E amarelados na parede.

Que saudade que me dá,
Quando lembro de minha infância,
Na Rua dos Jasmins,
Esquina com a Rua Amor Perfeito,
No bairro Jardim Popular.
                                                     Outubro 2011

sábado, 1 de outubro de 2011

Visão

Me vejo no espelho,
E vejo que envelheço.
Não sou mais novo.
Me vejo entre o povo,
E vejo que sou mais um...
A lutar, a chorar, a reclamar,
A ter esperança e esperar.
Aos trancos e solavancos,
Entre bancos e barrancos,
Andando ou mancando,
Continuo meus avanços.
Na boléia do caminhão vou continuando.
No caminho tudo vai se ajeitando...
Às vezes desajeitando.
Não tem jeito!
É o jeito!
Continuo a ir.
Sem ir,
Não se mantém esperança.

Me vejo igual aos outros.
Mas outros,
Não se vêem iguais a mim,
E assim,
Igualam-se a mim.

Vejo os outros,
E outros me vêem.
Será que gostam,
Do que vêem?
Vejo que eu e os outros,
Temos problemas de visão.
Cadê meus óculos?
                     Outubro 2011

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Dando de ombros

O cérebro é um cara cabeça,
Mas tem nariz empinado.
E deve pensar com certeza,
Lá com seus neurônios,
Que é o mais importante.
O coração bate fundo,
Desde dentro da mãe,
E bate, bate na tecla,
Que é o mais importante.
As mãos não param,
E metem a mão na massa ou na graxa.
Os pés é que se racham,
E andam pra lá e pra cá.
Mãos e pés,
Andam de mãos dadas,
Andam juntos e pensam:
‘Nós somos os mais importantes’.

Quando tudo vai bem,
Tudo é uma beleza.
Quando tudo vai mal,
O cérebro perde a cabeça,
E tudo fica de ponta cabeça.
O coração bate descompassado,
E quase sai pela boca.
Os pés perdem o passo,
Trançam as pernas,
E metem os pés pelas mãos.
As mãos,
Arrancam os cabelos da cabeça.

Abalado ou inabalável,
Quem carrega o mais pesado,
São os ombros.
Dois caras que parecem um.
Musculosos ou não,
Que importa?
Mesmo quando dão de ombros,
Continuam a carregar,
O fardo de uns e outros.
Ombros suportam o peso da cabeça.
As mãos se agarram neles,
Em desespero.
Ombros têm ouvidos,
E ouvem o clamor do coração.

Os ombros,
Nunca ficam de mãos abanando,
E assumem outro papel também.
Para o consolo se oferecem.
E saem molhados,
Com lágrimas dos outros.
Pouco lembrados,
Não se sentem os tais,
Mas compreendem os ais.

Os ombros se doam,
Quando tudo e todos desmoronam.
Os mais importantes, então,
São aqueles que se dão.
                                      Setembro 2011


quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Seu Zé

Ao meu pai, falecido em 2008. Passou o tempo e hoje sei, somente hoje nos dias atuais, de seus problemas depressivos.
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Você não foi meu herói.
Não me entendia quando eu era boy.
Também não foi meu companheiro.
Não me apoiou quando eu era motoqueiro.
Lição de casa eu fazia sozinho.
Nem sabia se eu tirava dez ou cinco.
A compra ficou esquecida,
Da minha bicicleta prometida.
Eu e os outros,
Que éramos dos seus,
Não te compreendia.
O tempo passa.
O tempo mostra,
A seu tempo.
O tempo tem tempo,
E é paciente.
O tempo me envelheceu,
E me mostrou,
E me fez entender.
Depois de muito tempo,
Hoje eu sei,
O que se passava com o senhor,
Meu senhor.
Hoje a sua poltrona é vazia,
E sem você,
Também me sinto igual a ela.
Mas tenho ciúme dela.
Em seus últimos dias,
Suas pernas se rebelaram,
E pararam diante do tempo.
E foi a poltrona que te acolheu.
Fez o que era dever meu.
O senhor era um caipira.
Era o ‘seu Zé’ por aí.
Na família era o Zé Naves.
Ouvia Tonico e Tinoco.
Bebia café de coador,
Igual matuto da roça.
Comia de colher,
E fazia barulho tomando sopa.
São Paulo não combinava contigo.
Mas foi essa terra,
Que recebeu seu pó,
Num lugar que não era popular,
Mas era como um jardim.
Hoje compreendo,
O peso de sua cabeça,
E seus ombros.
Seus nervos, seus choros...
Quanta pressão!
A compreensão é forte,
Mais do que a morte.

Aí vai um pedido de perdão,
Meio tardio e vazio.
A poltrona me entende.
Quem dera um dia,
Quando seu pó subir,
Se pudesses ler e ouvir,
Essas letras já secas.
Quem dera te conhecer,
Diferente de outrora,
Olhar em seus olhos,
Como nunca antes e dizer:
‘Como vai, meu pai!’
                           Setembro 2011

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Nariz vermelho

Difícil trabalho,
Do palhaço.
Palhaço faz graça,
Pra vida ter graça.
Pra gente esquecer desgraças,
Até ele cair nas nossas graças.
Por uns trocados,
Ele se troca,
Vira palhaço e faz graça.
Isso é impagável!
A gente sorri, gargalha e ri,
E esquece de ser triste.
Deixa tristeza lá fora,
Pra rir lá dentro,
No teatro ou no picadeiro.
Mas nosso riso,
Tem de vir lá de dentro,
Até os dentes aparecerem,
Mesmo sem dentes.
Tem gente que ri,
Até perder a dentadura.
Palhaço é uma ajuda,
Pra esquecer a amargura,
A vida dura,
E as agruras.
Palhaço é herói.
Vence a nossa tristeza,
Coisas que pra gente dói.
É uma dureza!
Palhaço faz a gente chorar.
Palhaço faz a gente ter dor.
Palhaço faz a gente passar mal,
De tanto rir.
Palhaço faz a gente pensar,
Que vai morrer,
De tanto rir.
Quem gostaria de morrer rindo?
Nem morto!
A gente deixa tristeza pra lá,
Pra rir.
Palhaço deixa tristeza pra lá,
Pra fazer a gente rir.
Coisa difícil,
Neste mundo difícil.
Tem dia que o palhaço,
Nem precisa de maquiagem.
Mas tem dia,
Que ele reboca toda a cara.
Na verdade,
Todos somos palhaços.
Sempre precisamos,
Rebocar a cara,
Pra encarar uns e outros.
Rebocar a cara pra rir,
Mesmo quando não se quer.
E muitos riem da nossa cara.
E rimos da cara dos outros.
E a palhaçada continua.
Isso tira a alegria!

Final do show,
De cada show,
Palhaço tira maquiagem,
Pra encarar a vida,
De cara limpa,
Com a cara e a coragem.
Inicio de show,
De cada dia,
A gente usa a maquiagem,
Pra encarar a vida,
De cara limpa,
Com a cara e a coragem...
Pra rir ou pra chorar...
O show não pode parar...
Cadê meu nariz vermelho?

                                           Setembro 2011