sexta-feira, 14 de maio de 2021

Garrafa (não)pet

Chuva forte na cidade e eu estava esperando a Cris sair do trabalho. Então observei uma garrafa plástica sendo varrida pelo vento forte. Aí eu escrevi...

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A ventania estava furiosa
E toda desrespeitosa
Árvores descabeladas
Perdiam seu charme
Perucas e paetês
Tentavam vencer
A peleja naquele entardecer

Uma garrafa plástica
Longe de ser pet de alguém
Rodopiava feito sei-lá-quem
Num bailar insano
Num dançar mundano
Procurando seu mundo em algum canto
E se livrar daquele vento
Ventando feito ventania
Como se não houvesse
Um hoje nem ontem
Tampouco e por muito menos
Um amanhã para se ventar

E a garrafa girava
Como embriagada se pinga
Toda girada e rodopiada
Virando anedota e piada
Num show em plena avenida

Saudade de quando era envasada
Pronta para ser adotada
E ir para alguma casa
E agora
Se ao menos fosse reciclada
E ter uma sobrevida
Nessa vida ainda
E não ser esquecida
Toda nua numa rua fria
Tendo a lua de teto
E a sarjeta como alento
Sem rótulo nem documento
Naquele momento
Na tormenta em seu pior tormento

Onde está seu dono
Ou sua dona
Daquela garrafa abandonada?
Largada ao relento
Lançada pra lá e acolá
Condenada a dormir no bueiro
Num submundo de mal cheiro

E seu dono ou tutor?
Deveria dormir ali junto de seu amor
Antes eram apenas um sem pudor
Agora um vive tranquilo
Enquanto isso
A garrafa passa por aquilo
Tendo como destino
Um bueiro entupido
E um futuro já escrito:
Um rio todo cinza
Aguardando sua garrafa amiga
Mas sem um líquido de vida

Abril 21




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