terça-feira, 22 de abril de 2014

Forasteiro terráqueo

Sou forasteiro aqui onde vivo.
Vivo aqui,
Como se eu não fosse daqui.
É estranho ver tudo assim;
Não compreendo e não concordo,
E me sinto um estranho.
Por onde vivo, por onde ando,
Tenho que ter dinheiro,
Senão não existo.
Tenho que matar pra viver,
Tenho que viver pra matar,
Ou não entendem como vivo.

Mundo corporativo é um mundo à parte,
Com vida própria,
E próprio idioma.
Quem lá vive,
Produz para a carreira,
A vida inteira,
E morre na aposentadoria.

Sento pra ver TV,
E escolhem o que devo ver.
É programado e enlatado,
É tudo preparado e pré-pronto.
É o horário nobre,
Pra assalariados e desempregados.
Eu como minha janta,
Digo boa noite por hoje,
E vou dormir pra amanhã.
Hoje a coisa tá preta,
E amanhã é dia de branco.

Vivo sobrevivendo 30 dias por vez;
É o tempo que tenho todo mês,
Pra receber e pra pagar.
Não exatamente nem necessariamente,
Nessa ordem e progresso.

Mal ou bem pense bem:
Ainda bem que temos o futebol.
A gente comemos marmita com farinha,
Mas a bola é nossa alegria.
Obrigado governos e cartolas,
Por tantas boladas.

E a gente ri e chora,
E vamos pra galera.
Nosso nome não aparece na galeria,
Mas o mais importante,
É não ter vergonha de ser ficha limpa,
Enquanto sobrevivemos,
Como forasteiro num mundo,
Cheio de coisas vazias.

Pessoas nascem iguais,
E são tratadas diferentes.
Lhes marcam as testas como indigentes,
Se o sangue não for azul,
Se forem do hemisfério sul.
Se forem afros e pobres,
Serão pessoas sem sorte,
E lutarão contra os poderes do norte.

Apesar de tudo e de todos,
Encaro meus monstros,
Escancaro meus dentes,
E sorrio como se eu fosse,
Um perfeito forasteiro estrangeiro,
Num mundo estranho,
Onde nasci e cresci,
Onde mais sobrevivo do que vivo.
                                                     Abril 2014

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