quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Nasci em cidade grande

Nasci e fui criado em cidade grande,
Vi coisas, mas ainda não foi o bastante.

Grades e muros faziam a defesa,
Quem era preso, quem era livre, eu não tinha certeza.

No lugar de mato,
Meus pés pisavam asfalto.

Meus olhos não viam animais,
Meus olhos viam pessoas que eram como tais.

Pessoas ‘pequenas’ pensando ser gigantes,
Pessoas ‘gigantes’ aprendendo a ser repugnantes.

Meu nariz não conhecia flores,
Dos carros me entorpecia com outros odores.

No lugar de queimada na mata,
Vi outras queimadas que mata.

Cidade grande, coisas grandes,
Sentia-me pequeno com problemas gigantes.

A calçada vira colchão,
O papelão vira edredom.

Pai e mãe, para o sustento trabalham,
Os filhos, para desalento dão trabalho.

Do asfalto não se brota flor, não tem jeito,
Do asfalto se brota bueiro.

Numa terra onde não se via terra,
Onde sonho pelo asfalto se enterra.
                                                                   Agosto 2010

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