quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Minha casa

Um tijolo e mais um tijolo.
Talvez eu pareça um tolo.
Mas me lembro,
Apesar de tanto tempo.
Naquele distante bairro,
Onde os pés tinham cor de barro.
Onde a TV não busca problemas,
Melhor mesmo é filmar Moemas.
Vendi o carro, mas não tinha o montante,
Precisei financiar o restante.
Comprei metade de um lote,
Maioria dos brasileiros não tem tal sorte.
Meu cunhado a outra metade comprou,
Assim nosso sonho se concretou.
Nosso terreno foi divido,
Sonhos e esperanças unidos.
Na fundação trabalhou o ‘seu’ Vicente,
O Beto era o seu servente.
A terra nós rasgamos,
E de cimento a enchemos.
Sonhos e esperanças misturamos,
Foi o alicerce de nossos sentimentos.
Lembro do Zezinho, meu cunhado.
Sujeito honesto e pacato.
Na feira ele trabalhava.
De tarde, na obra ele ajudava.
Hoje me lembro e falo,
Todo dia ele enchia as mãos de calo.
Coisas sobre ele posso falar,
Pena que ainda não está aqui pra comprovar.
Quando o calor esquentava,
Aí a fome apertava.
De longe eu via a figura delas,
A Cris e a Ivone trazendo as panelas.
O Luiz não tinha parentesco comigo,
Mas se mostrou ser um grande amigo.
O número da casa vamos dar,
Qual número seria, dezena ou milhar?
Eu e o Zezinho, o número 51 escolhemos.
O motivo nós não diremos.
A primeira laje foi concretada.
Lembro daquela tarde ensolarada.
Foi muito concreto, cimento e limão,
Ferragens, garrafas e carvão.
Essa mistura boa coisa não daria,
Pobre de meu Fusca e sua lataria.
Na construção fomos arquitetos e engenheiros.
Também fomos serventes e pedreiros.
Na falta d’água o suor molhava a massa,
Tudo isso para erguer a nossa casa.
Hoje preciso chorar e não consigo,
Lembro que lágrimas escorriam até o ultimo pingo.
Quem lê talvez não entenda nada.
É só pisar naquela terra ainda encharcada.
Telhado posto e paredes erguidas,
Muitos cheques e contas negativas.
Entre aquelas paredes muitos foram recebidos,
Alegres, tristes ou deprimidos.
Recebemos a todos sem receio,
Alguns nem estão mais em nosso meio.
Já hospedamos personalidades,
Mineiros, paranaenses e celebridades.
Mato-grossenses, chilenos, americanos.
Toda sorte de gente hospedamos.
Passo a meditar em minha casa no futuro,
Quando poderei derrubar o muro.
E uma grande multidão poderá ir,
E uma grande multidão poderá vir.
Minha casa não será mais minha casa,
Minha casa será a nossa casa.
Não te conheço, mas será bem recebido,
Não te conheço, mas será meu amigo.

                                                           Setembro 2010

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