terça-feira, 12 de julho de 2011

Luzes carmesins

Misturar volante,
E farol vermelho.
Mulher pra adoçar um pouco,
E rodelas de pneus carecas.
Álcool a gosto e agitar bastante.
Resulta uma batida inebriante.
Sabor é amargo,
Mais do que pensamento ruim.
Mas muitos apreciam,
E se depreciam.
O day after minutos depois,
É dor de cabeça.
Causa até depressão,
E traz péssimas recordações.
São visões de semáforos enormes,
Com olhos vermelhos cor de fogo,
Igual Campari carmesim com limão,
Fitando-lhe e gritando e implorando:
‘PARE, PARE!’.

Latas de cerveja queimam a mão.
Cigarros(?) congelam os dedos.
E tudo rodando e rodando.
Volante e velocímetro,
Rodando e rodando.
Pneus rodando e rodando,
Ao contrário do contrário.
Rodando e girando pelo asfalto,
Num atrito louco.
Borrachas gritam e fritam,
E demarcam território.
Escapamento uiva igual carro no cio.
Fumaça sobe dançando pelo ar,
Num bailar sensual.

Doce perfume de gasolina, álcool e borracha.
Que incenso do mal!
Olfato da lei é animal!
A mulher de passageira,
Estava só de passagem,
E te deixa só.
Que batida louca,
Que faz rodar e rodar.
Até parar em algum lugar.

Pelo retrovisor seus olhos te cobram,
Iguais ao semáforo carmim.
Então gotas escorrem iguais lavas de vulcão.
Como gritos de barão,
Era puro êxtase.
Depois, a batida fica horrível:
Gosto de não-quero-mais.
O asfalto era um tapete,
Agora são latas e pedaços,
Vidros e cacos.
Espantalhos parecem gente,
Encharcados e espalhados,
Em pé ou deitados.

O escarlate mancha o tapete.
Na tua ilusão,
São gotas de lágrimas,
Do semáforo que chora:
‘Não ouvistes o grito da minha cor carmesim?’.
Nas alturas pairam luzes verde e amarela.
Te olham impassíveis como juizes,
Respeitando a vez para acender.
A lua de luto anuncia as badaladas.

O que sobrou da cabeça,
Ainda badala e roda e dói.
Som lá no fundo é muito alto,
Mistura sirenes e The Doors.
Você senta e a calçada te aconchega.
Um bueiro te acaricia ternamente,
E você pensa (ainda resta serotonina):
‘Que balada mortal. ’

Os pneus se calam e a sirene grita.
É a lei seca chegando,
Veloz e furiosa por você.
                                                      Julho 2011

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