quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Seu Zé

Ao meu pai, falecido em 2008. Passou o tempo e hoje sei, somente hoje nos dias atuais, de seus problemas depressivos.
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Você não foi meu herói.
Não me entendia quando eu era boy.
Também não foi meu companheiro.
Não me apoiou quando eu era motoqueiro.
Lição de casa eu fazia sozinho.
Nem sabia se eu tirava dez ou cinco.
A compra ficou esquecida,
Da minha bicicleta prometida.
Eu e os outros,
Que éramos dos seus,
Não te compreendia.
O tempo passa.
O tempo mostra,
A seu tempo.
O tempo tem tempo,
E é paciente.
O tempo me envelheceu,
E me mostrou,
E me fez entender.
Depois de muito tempo,
Hoje eu sei,
O que se passava com o senhor,
Meu senhor.
Hoje a sua poltrona é vazia,
E sem você,
Também me sinto igual a ela.
Mas tenho ciúme dela.
Em seus últimos dias,
Suas pernas se rebelaram,
E pararam diante do tempo.
E foi a poltrona que te acolheu.
Fez o que era dever meu.
O senhor era um caipira.
Era o ‘seu Zé’ por aí.
Na família era o Zé Naves.
Ouvia Tonico e Tinoco.
Bebia café de coador,
Igual matuto da roça.
Comia de colher,
E fazia barulho tomando sopa.
São Paulo não combinava contigo.
Mas foi essa terra,
Que recebeu seu pó,
Num lugar que não era popular,
Mas era como um jardim.
Hoje compreendo,
O peso de sua cabeça,
E seus ombros.
Seus nervos, seus choros...
Quanta pressão!
A compreensão é forte,
Mais do que a morte.

Aí vai um pedido de perdão,
Meio tardio e vazio.
A poltrona me entende.
Quem dera um dia,
Quando seu pó subir,
Se pudesses ler e ouvir,
Essas letras já secas.
Quem dera te conhecer,
Diferente de outrora,
Olhar em seus olhos,
Como nunca antes e dizer:
‘Como vai, meu pai!’
                           Setembro 2011

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