quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Dando de ombros

O cérebro é um cara cabeça,
Mas tem nariz empinado.
E deve pensar com certeza,
Lá com seus neurônios,
Que é o mais importante.
O coração bate fundo,
Desde dentro da mãe,
E bate, bate na tecla,
Que é o mais importante.
As mãos não param,
E metem a mão na massa ou na graxa.
Os pés é que se racham,
E andam pra lá e pra cá.
Mãos e pés,
Andam de mãos dadas,
Andam juntos e pensam:
‘Nós somos os mais importantes’.

Quando tudo vai bem,
Tudo é uma beleza.
Quando tudo vai mal,
O cérebro perde a cabeça,
E tudo fica de ponta cabeça.
O coração bate descompassado,
E quase sai pela boca.
Os pés perdem o passo,
Trançam as pernas,
E metem os pés pelas mãos.
As mãos,
Arrancam os cabelos da cabeça.

Abalado ou inabalável,
Quem carrega o mais pesado,
São os ombros.
Dois caras que parecem um.
Musculosos ou não,
Que importa?
Mesmo quando dão de ombros,
Continuam a carregar,
O fardo de uns e outros.
Ombros suportam o peso da cabeça.
As mãos se agarram neles,
Em desespero.
Ombros têm ouvidos,
E ouvem o clamor do coração.

Os ombros,
Nunca ficam de mãos abanando,
E assumem outro papel também.
Para o consolo se oferecem.
E saem molhados,
Com lágrimas dos outros.
Pouco lembrados,
Não se sentem os tais,
Mas compreendem os ais.

Os ombros se doam,
Quando tudo e todos desmoronam.
Os mais importantes, então,
São aqueles que se dão.
                                      Setembro 2011


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