terça-feira, 18 de março de 2014

Jornal da noite

Deu no jornal da noite,
Aquele que fala ‘boa noite’,
E naquele outro também,
Aquele que fala ‘tudo bem?’.
Muitas pessoas na delegacia,
Todos enrolados com a polícia,
Algemados e trancafiados,
Traficantes ou usuários,
Estupradores ou aliciantes,
Meliantes ou assaltantes.
Todos são animados e unânimes,
E se dizem inocentes e injustiçados.

O crime tenta ser justo,
Tem olhos tapados e aceita engravatados,
Pé rapados ou escolarizados.
O crime tem seu conceito,
De não ter preconceito,
Todos são bem aceitos.

Tá na moda e é atual,
Aparecer na TV e no jornal,
Mas só se roubar mais de um milhão,
Senão vai ficar na prisão.
Se usar terno,
Fica em regime semiaberto.
Pode sair e até trabalhar,
Dar uma saída e fazer trotuá,
Beber vinho e comer caviar,
Voltar pra cela individual,
E cumprir sua penosa pena.

Tem ladrão que tem vergonha,
Tapa a cara com camisa ou fronha.
Outros se sentem mártires,
Vão em cana fazendo V da vitória.
Querem ir pro livro de história.
Socam o ar com punho fechado,
Parecem o Pelé no gol mil marcado.
Peitos estufados seguem destemidos,
Detidos em seus cárceres suspeitos.

Tudo é suspeito neste berço esplêndido.
Posso até ser suspeito,
De suspeitar desses sujeitos.
É tanta sujeira que a gente suspeita.
Parecem super-heróis,
Que nenhuma jaula os detém,
E nenhum mortal os destrói.
Mas se alguma kriptonita,
Lhe der dor de barriga ou disenteria,
É só ir à uma clínica de gente grã-fina,
Fazer exame e tomografia,
Ressonância e endoscopia.
O resultado sai no mesmo dia!
E depois pleitear uma pena domiciliar,
E cumprir às ‘duras penas’,
O restante da sentença.
Que pena que dá!

Eu digo e todos repetem comigo:
Quem é honesto,
Não rouba botão nem um milhão,
E é livre pra ir e vir.
Dá pra ver daqui da sala,
Pelas grades de minha casa.
                                        Março 2014



Nenhum comentário:

Postar um comentário